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Universidade gaúcha deve realizar primeiro estudo com canabidiol no Rio Grande do Sul

20/03/2018 - 15h18min

Uma pesquisa que começa a ser desenvolvida no Rio Grande do Sul vai avaliar o uso de canabidiol, substância encontrada na maconha, no tratamento de pacientes com parkinson. O anúncio foi feito durante evento sobre o tema realizado na noite de segunda-feira (19) na Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre.

O canabidiol (CBD), diferente do tetraidrocanabinol (THC), princípio ativo da erva, não é psicoativo, não provoca sedação e não causa dependência. A venda do medicamento com prescrição médica foi regulamentada pelo governo federal, mas o preço e a burocracia ainda são barreiras.

Durante o encontro foi anunciado que a universidade está próxima de iniciar a primeira pesquisa gaúcha sobre o uso de canabidiol em pacientes que sofrem de parkinson.

O projeto do professor de neurologia Jorge Winckler, da Faculdade de Medicina da Ulbra, será analisado pelo conselho de ética da universidade, como primeiro passo para dar andamento à realização do estudo. Após sua validação, serão iniciados testes com voluntários em Canoas e outras cidades na Região Metropolitana de Porto Alegre.

“A marijuana, a maconha, sempre teve muito preconceito, principalmente com a minha faixa etária, que sou do século passado […] Claro que a gente sabe que o THC que tem no cigarro de maconha, ele deteriora o cérebro se a pessoa fumar muito. Mas o canabidiol não, ele é terapêutico. Então, o estudo vai ser por aí”, afirma o professor.

Em 2014, apenas um paciente usava a substância no Rio Grande do Sul, mas hoje são mais de 80. Eles relatam melhoria na rotina após iniciarem o uso de canabidiol. “Hoje, para nós, a maconha terapêutica é a solução para a vida dela. Nós temos qualidade de vida de novo. A nossa família voltou a ser uma família”, afirma a professora Liana Maria Pereira sobre as mudanças percebidas na filha Carol, que sofria até 60 convulsões diárias.

A menina sofre da síndrome de Dravê, uma doença neurológica rara. Os médicos receitaram o uso do canabidiol como medida mais eficiente para amenizar os sintomas. A venda sob prescrição foi regulamentada, mas ainda existem limitações no acesso e produção.

Dois anos após começar a usar a substância, a menina já acumulava 60 dias sem convulsões, algo que não acontecia desde o seu nascimento. Ela passou ainda a frequentar a escola e a hidroterapia, participando e atividades e até dando cambalhotas.

O resultado positivo surpreendeu a família, que além de vencer a burocracia, também enfrentou o preconceito.

“Até na família. Hoje em dia existe o preconceito por ela ser uma criança especial. Apesar de ela ter vitórias, ela é uma criança especial. Então, tem preconceito em todas as funções da sociedade”, diz Pereira.

Além do preconceito, a família enfrenta ainda questão dos valores altos dos medicamentos. Existe uma opção que pode custar até três vezes menos, feita à base de óleo de cannabis, porém ainda não é legalizado. Famílias tentam, juntas, a liberação junto ao Congresso Nacional.

“Estamos buscando assinaturas para correr com esse projeto. Porque nós precisamos que seja liberado. Está chegando ao Brasil o Sativex, que é um medicamento à base de maconha, que vem para parkinson adulto. Só que ele vem a (ao custo) R$ 2,8 mil, que não dá para um mês de uso. Quem é que tem condições?”, indaga a mãe de Carol.

Caráter humanitário e preconceito

Especialista americano durante simpósio sobre uso do canabidiol. (Créditos: Divulgação)

Durante o simpósio, o médico executivo americano Stuart Titus disse que, apesar do preconceito, deve ser levado em conta o caráter humanitário do medicamento.

“A cannabis medicinal tem sido aceita por muitos países importantes no mundo. No Canadá, ela é claramente legal, na Alemanha é legal, e pacientes de lá estão até conseguindo cobertura de seguros de saúde para isso”, afirma Titus.

Franklin Vargas, que é familiar de um paciente e presidente da Associação Nacional de Usuários de Canabidiol, diz que os estudos nos Estados Unidos datam da década de 20. “Já tem estudos com CBD, então olha a distância. O Brasil foi tomar consciência disso em 2014, estamos muito atrás deles”, compara.

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