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Vendas gaúchas para a China caem 19% no quadrimestre e atingem pior marca desde 2016

12/05/2025 - 12h53min

Os embarques foram de US$ 840,1 milhões no período. AFP / AFP

Principal parceiro comercial do Rio Grande do Sul, a China vem reduzindo de forma expressiva a compra de produtos gaúchos neste ano. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) revelam que, de janeiro a abril, as exportações para o país asiático somaram US$ 840,1 milhões, uma queda de 19% em comparação com o mesmo período do ano passado, quando os embarques alcançaram US$ 1 bilhão.

É o pior desempenho desde 2016, considerando apenas os quatro primeiros meses do ano, e acende um sinal de alerta sobre o futuro da balança comercial gaúcha, especialmente diante do novo acordo anunciado entre os Estados Unidos e a China — que adiciona um cenário de incertezas para as relações comerciais com o Brasil.

Apesar disso, até o início de julho, segue em vigor a tarifa de 10% imposta pelos EUA sobre quase todos os países. A expectativa é de que esse cenário ainda sofra alterações ao longo do segundo semestre.

Queda nos preços das commodities impacta exportações

O fator decisivo para a retração nas exportações, segundo especialistas, está na redução dos preços das commodities, especialmente a soja, principal produto gaúcho exportado em 2024. Houve uma queda de 22% em valores totais nos embarques de soja para a China, apesar de a baixa em volume ter sido menor, 12%.

— Já havia uma tendência de queda nos preços das commodities. Com as tarifas e a possibilidade de recessão americana, os preços caíram mais, afetando a soja — explica o economista Marcos Lélis, professor da Unisinos.

Ele destaca ainda que a base de comparação de 2024 era bastante elevada, o que ajuda a explicar o recuo expressivo nos valores totais.

Exportação de carne bovina despenca 92%

Ainda mais drástica foi a queda nas exportações de carne bovina para a China, que desabaram 92%. Entre janeiro e abril de 2024, os envios somaram US$ 23,4 milhões. No mesmo período deste ano, o montante caiu para apenas US$ 1,8 milhão.

O professor Marcos Lélis aponta para a possibilidade de redirecionamento de comércio. Enquanto a China reduziu drasticamente a compra de carne bovina do RS, os Estados Unidos aumentaram sua demanda. As exportações gaúchas para os EUA cresceram 590%, o que representa um salto de sete vezes no volume financeiro.

Importações da China aumentam 21%

Na contramão das exportações, as importações gaúchas vindas da China cresceram 21% no mesmo período. Saltaram de US$ 589,7 milhões para US$ 712,2 milhões, aumentando a pressão sobre a indústria nacional, que teme uma “invasão asiática” no mercado interno.

Setores como o de calçados e produtos manufaturados já solicitam ao governo federal mecanismos de defesa comercial para limitar a entrada de produtos chineses no Brasil.

— Desde o primeiro governo Trump, a China vem perdendo participação no mercado americano. O problema é que outros países também vão perder exportação para lá, com atividade econômica mais fraca e tarifas mais altas, e podem direcionar a produção para o Brasil — avalia Lélis.

Superávit ainda se mantém

Mesmo com a retração nas vendas, a balança comercial entre o Rio Grande do Sul e a China ainda registra superávit de US$ 127,8 milhões até abril. Porém, a tendência de queda nas exportações e alta nas importações impõe novos desafios ao setor produtivo gaúcho.

A expectativa é que os desdobramentos do acordo entre EUA e China, somados à oscilação nos preços das commodities, continuem impactando o comércio exterior do RS nos próximos meses.

Fonte: Coluna de Marta Sfredo, com colaboração de João Pedro Cecchini (GZH)

 

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