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Irmãos de Fazenda Padre Eterno contam como é a vida em uma propriedade familiar

02/08/2022 - 21h00min

Geison Machado Concencia

Morro Reuter – A família Espig vive na Fazenda Padre Eterno, onde a principal fonte de renda é a plantação de acácia. Mas também cultiva, para sua subsistência, legumes e verduras. Além de plantar tudo que precisa para sobreviver, também cria aves, coelhos e vacas. Os irmãos Jair e Ismael, junto com o pai Romaldo, continuam o legado que começou com o avô que, como eles mesmo dizem com orgulho, juntou as extensas propriedades de terra que tem com base na enxada e no machado.

Tanto Jair quanto Ismael sentem muito orgulho de trabalhar no campo, pois sempre admiraram o esforço do pai e do avô para cultivar as terras. “Vimos muitos conhecidos saindo do campo, mas não troco esse trabalho por nada.” Eles gostam da calma da região, pois quando vão para a cidade logo querem voltar para a paz e a tranquilidade de suas casas

ACÁCIA

O pai de Ismael e Jair ainda trabalha no campo, é Romaldo Espig. Os três têm uma rotina de muito trabalho. Começam às 6h da manhã e durante o dia precisam cortar acácia, descascá-la e transportá-la até a estrada para que a empresa compradora possa carregar. Como o relevo da região não é plano, essa característica da localidade dificulta, pois além da acácia ser pesada, existe a condição do terreno que é íngreme e dificulta o trabalho. Há pouco tempo, a família comprou um trator que facilitou o transporte da lenha. Isso agilizou o trabalho e como consequência, por ano, os três cortam cerca de 500 a 600 m² de acácia.

VARIEDADE DE PLANTIOS

A família também planta feijão, arroz, batata, aipim, verdura, abóbora, cebola e tudo que precisam para sobreviver. “Durante o verão plantamos de tudo, sem agrotóxicos, tudo orgânico,” disseram os irmãos. Os alimentos que cultivam durante a safra duram até a próxima. Eles também têm cerca de 100 galinhas que vendem para varejistas e também usam para consumo. Além disso, também criam coelhos, bois e vacas. A vida deles é tão sustentável que a própria energia é limpa, pois usam painel solar para geração de luz.

TEMPOS MELHORES

Hoje a família vive entre sete pessoas na propriedade. A mãe, Celi Blum Espig, cuida da casa e da avó, Renida Blum. Ismael Espig, 33, mora com sua esposa, Analice da Silva Espig, com quem tem um filho, Pedro Arthur Espig. Jair Espig tem 41 anos e é o irmão mais velho.

Ismael disse que teria muito orgulho se o filho quisesse trabalhar no campo, seguir essa área, mas também deixará ele tomar essa decisão sozinho, assim como seu pai lhe deu a mesma oportunidade. Segundo ele, hoje está muito bom para criar seu filho, pois tem transporte escolar, diferente da sua época, quando tinha que ir a pé para o colégio. Jair falou que quando era mais novo caminhava cerca de 2 km para chegar na aula, pois não tinha ônibus. “Lembro das manhãs de inverno, percorrendo a estrada de chão para chegar até na escola.”

 

Tudo começou com o avô de Ismael e Jair

 

A história dessa família começou com o avô, homem que perdeu o pai muito cedo, cinco meses depois que ele nasceu. O bisavô de Ismael e Jair pisou em um prego e teve tétano e veio a óbito. Então, o avô dos dois irmãos foi criado pelo avô dele na época, quando a família morava na Picada São Jacó, em Sapiranga. Depois, conforme cresceu, já começou a trabalhar no campo, como era comum na época, trabalhar desde cedo. Depois, mudou-se para Fazenda Padre Eterno, onde seus herdeiros vivem até hoje. Ismael e Jair contam com orgulho das façanhas de seu antepassado. “Ele era muito trabalhador, carregava sacos de batata de 50 quilos nas costas e por mais de 2 km, pois não havia trator na época e também não tinha carroça. No meio do percurso, havia uma pedra, aonde o avô colocava o saco de batata pesado e aproveitava para descansar. Era estratégico, pois a rocha ficava na altura do ombro, portanto, ele não precisava se abaixar toda vez que descansava,” relembram os dois irmãos, com saudades do falecido avô, que começou tudo.

Eles contam que o avô pagava a prestação das terras com aipim. Além disso, também se plantava batatas, inclusive, Ismael e Jair contam que, na época, o valor do saco de batata custava meio salário mínimo. Hoje, conforme dizem, isso não tem o mesmo valor.

Mutirão: vizinhança se ajuda na Fazenda

A vizinhança coopera na época de plantação de feijão, pois quando acontece a colheita, eles precisam ser rápidos, antes que chova, para não perder a plantação.

Os irmãos comentam que, quando isso ocorre, os vizinhos se unem em uma propriedade e trabalham sem parar até colher tudo. Jair e Ismael falaram que sempre quando precisam, podem contar com outros agricultores da Fazenda Padre Eterno para ajudar. “E quando eles precisam da nossa ajuda, também estamos dispostos para colher nas propriedades deles, assim como era no passado, essa colaboração aqui na região está muito viva.”

Família trocou o cultivo de batata pela acácia

Até a década de 1980 a família Espig plantou bastante batata. Mas com a modernização das atividades agrícolas, as áreas mais planas conseguiram colocar maquinários e cultivar o alimento em mais quantidade. Com isso, consequentemente, estas propriedades passaram a ter um preço mais competitivo. E esta realidade é bem diferente da região onde a família Espig vive.

Como a propriedade da família da Fazenda tem morros, não tem como colheitadeiras e outros tipos de máquinas fazer o trabalho. Isso fez com que os produtores rurais locais não conseguissem ter preços competitivos. A alternativa para muitos foi migrar para a plantação de acácia e eucalipto.

PANDEMIA

Os irmãos comentam que desde o início da pandemia a procura por acácia aumentou e a margem de lucro também. As empresas que extraem o tanino da acácia, espécie de matéria prima usada para tingir couro, chegam a fornecer mudas gratuitamente aos produtores rurais. Eles comentam que se não fosse a acácia hoje, não teria como os moradores desta região ganhar dinheiro com outras culturas.

ENCHENTE

Ismael e Jair cresceram na região e lembram do tempo em que houve uma enchente no local e ficaram ilhados sem poder voltar para casa. “Estávamos na casa de um amigo e quando queríamos voltar a ponte estava completamente submersa, tivemos que dormir fora, pois não havia passagem”, relembram. Segundo eles, só depois que o rio finalmente abaixou é que voltaram para a casa. “Já estávamos muito preocupados com nossos pais, pois há um rio que passa na propriedade. Ao chegar em casa, graças à Deus, percebemos que estavam bem”, comentam.

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