Esporte
Marlei Willers, de Morro Reuter, vai representar a seleção brasileira no Sul-Americano de Maratona
Por Cleiton Zimer
A maratonista Marlei Willers, de 47 anos, moradora de Morro Reuter, acaba de conquistar um dos maiores marcos de sua trajetória no esporte: representar o Brasil no Campeonato Sul-Americano de Maratona, que será realizado no dia 31 de agosto de 2025, em Assunção, no Paraguai. A convocação oficial foi feita pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) na noite de ontem, 30, e sela um sonho antigo — alcançado com suor, resultados e resistência.
Atleta da Instituição Evangélica de Novo Hamburgo, Marlei será treinada para a prova pelo professor Luis Fernando Almeida Paula, com quem mantém uma parceria sólida. Sua vaga na Seleção Brasileira veio como consequência direta de sua performance na Maratona de Berlim, onde se consagrou a melhor brasileira, e não por convite.
“Com certeza essa conquista não veio de convite, ela veio de resultado. A maratona de Berlim me deu essa oportunidade”, contou Marlei, emocionada.
O que é para ser, será. Tinha cinco atletas no ranking. Duas se classificaram antes de Marlei, mas, por questão de agendas, elas não aceitaram. “Mas eu com certeza eu aceitei, era um dos meus sonhos de atleta, desde muito pequena sempre era algo que eu via, os atletas levando a bandeira, entoando o hino.” Naquela época ela não sonhava com isso, mas, ao entrar no mundo das corridas tornou-se propósito. E, agora, é real.
Do interior ao topo: uma trajetória de superação
Conhecida carinhosamente como “Preta”, Marlei começou a correr apenas aos 39 anos. De lá para cá, construiu um caminho marcado por conquistas expressivas, mas sobretudo pela persistência e pela entrega ao que acredita.
“Foram muitas idas e vindas nessa estrada aí, muitos dias difíceis, de solidão, de insegurança… Mas vale a pena lutar pelas coisas que a gente gosta e acredita. A Seleção Brasileira era um sonho que eu sabia que podia sonhar”, afirmou, logo após receber a confirmação da convocação.
Em busca do melhor desempenho da vida
A maratonista já vinha se preparando para disputar a Maratona Fila, em São Paulo, mas reorganizou os planos após a convocação para o Sul-Americano. “Vou fazer uma dupla ou quarteto lá na Fila, para ajustar a carga, e depois foco total para o dia 31. Com toda a minha alma, meu coração e minhas forças”, disse.
Marlei encara a responsabilidade com seriedade e honra. “É muito mais que representar uma bandeira. É representar meu país, o lugar onde nasci, cresci e que amo. Sei que é uma grande responsabilidade, como pessoa e como atleta.”
Nesta madrugada de quinta-feira, logo após a entrevista por volta de umas 5h – e sob o frio cortante da manhã gaúcha, ela já seguia firme na preparação. “Estou chegando agora em Dois Irmãos pra treinar, está uns sete graus. Mas essa rua gelada da 25 (Av. 25 de Julho) me ajudou a conquistar esse presente da vida que é representar o Brasil.”
Uma experiência que transformou sua visão de mundo
Em junho, Marlei esteve em Iten, no Quênia, considerada a Meca do atletismo mundial. A cidade, localizada a 2.400 metros de altitude, é berço de diversos campeões olímpicos de longa distância. Lá, ela viveu uma imersão profunda, que impactou sua forma de ver a vida — e o esporte.
“Foi um choque de realidade, mas também uma reconexão comigo mesma. Em alguns momentos, me senti de novo a Marlei garotinha do interior do Paraná”, relembrou. A maratonista observou de perto a rotina dos corredores quenianos, marcada por disciplina extrema, simplicidade e um foco quase espiritual na corrida.
“Eles vivem para correr. E descansam para correr. Essa pureza me tocou”, disse Marlei.
Da simplicidade ao propósito
Marlei relatou que a viagem a Iten a fez refletir sobre os valores do esporte. “Lá, a corrida é sobrevivência. Eles correm para tentar mudar de vida. Aqui, a gente corre para fugir do estresse. Eles têm pouco acesso a muita coisa, mas também têm algo que a gente perdeu: foco, essência, tempo.”
A visita ao Quênia foi viabilizada por um projeto com a marca Fila, que apoia Marlei desde o início de sua carreira. Mesmo sem tempo para adaptação à altitude e com agenda apertada, ela voltou com o que considera seu maior ganho: clareza de propósito.
“Voltei mais leve. Mais certa do meu caminho. E grata por tudo.”
A atleta que inspira
Com sua história, Marlei Willers se consolida como referência nacional não apenas por resultados técnicos, mas por sua humanidade, sua entrega e a verdade com que vive o esporte. Aos 47 anos, ela mostra que nunca é tarde para transformar sonhos em realidade — e que a estrada, por mais solitária que pareça, pode levar exatamente onde o coração quer estar.