Notícias
“O filho estar na UTI assusta, mas ali é o melhor amparo da medicina”, diz pediatra
Por Melissa Costa
Dois Irmãos – São diversos fatores que determinam um parto prematuro. Alguns podem ser diagnosticados logo no início da gravidez, outros são detectados às pressas. E, segundo o pediatra Jorge Pereira, a ida para a UTI Neonatal é uma jornada especial de cada bebê. Como se diz no popular, cada caso é um caso. Cada pequeno paciente reage de uma maneira. A luta pela vida na UTI ou tem o sonho da alta realizado ou noutras vezes, infeliz mente, independente de todo suporte da medicina e da fé, o bebê não sobrevive. “Viver a UTI é muito intenso. Podemos ter a melhor notícia ou a mais difícil a qualquer momento. Nós, como médicos, é impossível não se envolver. O melhor momento é o da alta, quando o bebê ganha peso e consegue enfrentar todas as adversidades”, disse. O pediatra também lamenta quando precisa encarar a não recuperação do bebê. “As vezes, mesmo com todo esforço, precisamos contar para o pai e a mãe que o filho não resistiu. É duro, difícil e, muitas vezes, nós também desabamos com isso. Nenhum pai ou mãe está preparado para ver o filho partir”.
“Já tivemos casos na UTI em que os bebês
nasceram pesando menos de 500 gramas e sobreviveram”
A permanência em uma UTI pode ser necessária por poucos dias ou até meses. De regra, quanto ao peso, o bebê só ganha alta quando chega aos 2kg. As complicações mais comuns nos recém-nascidos de forma prematura são as respiratórias. Além disso, por deixarem a barriga da mãe muito cedo, eles estão sujeitos a uma série de complicações também de ordem cardíaca e até neurológica. “Já tivemos casos na UTI em que os bebês nasceram pesando menos de 500 gramas e sobreviveram. Nestes casos, foram meses em tratamento. Também há casos que o recém-nascido tem quase o peso ideal e fica alguns dias apenas”.
“Sempre peço que as mães orem”
Jorge conta que em um primeiro momento, a UTI Neonatal assusta muitos os pais e, sabedor do desespero das famílias, a equipe tem qualificação sobre a vivência e passa a ser suporte também para a mãe e pai. “O filho estar na UTI assusta, mas
ali é o melhor amparo da medicina. Quando estava trabalhando em UTI, sempre conversava com as mães e dizia que era impactante ver o bebê na UTI, mas era ali o melhor lugar que ele poderia estar. Na UTI, existe equipe presente 24 horas por dia e monitorando e tratando o recém-nascido”. A presença da mãe na UTI é importante, no entanto, há pouco que ela possa fazer pelo tratamento do filho. O cuidado é diretamente entre médico e paciente. “Tudo é controlado pela equipe, mas a presença da mãe é importante, a visita diária na UTI é essencial. O que sempre peço às mães é que orem. A oração de uma mãe tem muita força; acredito nisso. Eu também sempre rezo antes de entrar nos leitos”, completa.
Busca por vaga em UTI é questão de poucas horas
Dois Irmãos tem uma saúde de média complexidade. Ou seja, não é uma cidade que comporta leitos de UTI, tanto adulto como pediátrico. Pacientes graves são transferidos para hospitais referência ou através da Central de Leitos do Rio Grande Sul. Quando a necessidade é por vaga de UTI Neonatal, essa busca precisa ser concluída de forma imediata, em apenas questão de horas. É uma corrida contra o tempo e, conforme explica o secretário de Saúde, Afonso Bastian, quando essa vaga não abre com rapidez pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o município paga pelo leito de forma particular. Quando se busca uma vaga na Neonatal, também é preciso garantir uma vaga adulta para a mãe, caso seja necessário. “Normalmente, a transferência preciso ser para um hospital com ambas vagas disponíveis. A busca por vaga em UTI Neonatal é muito mais tenso que para vaga adulta. Além de ter menos leitos disponíveis no Estado, tudo precisa ser muito mais rápido”, conta Afonso.
Não há uma estatística apontando qual a taxa de necessidade por leitos de UTI para bebês em Dois Irmãos, mas há casos. “No ano passado, por exemplo, em um curto período a gente precisou de duas vagas. Uma delas tivemos que recorrer ao sistema privado e o bebê ficou cerca de três meses internado”, lembra ele, salientando que a maior alegria, após conseguir a transferência, é saber que o bebê nasceu e segue em tratamento. “O nascimento nessa hora é nossa maior conquista”.
DEPOIMENTOS
A sensibilidade de saber que cada conquista minúscula e que cada ganho de grama são passos que transformam a chegada da alta mais perto é algo que todas as mães entrevistadas destacaram que passaram a ter, além de uma força física e emocional para encarar dias tão tensos. Na UTI, elas aprendem que a vida é “um dia de cada vez”.
“Do medo e desespero à esperança. Isso me tornou a mãe mais forte do mundo. Em meio a tantos sentimentos conturbados, fui mais forte do que imaginava ser. Cada segundo valeu a pena!”, Ana Kney, Ivoti, parto de 34 semanas do Victor
“Ser mãe de neo é aprender a ter esperança, a se emocionar a cada evolução e contar os segundos para ter seu filho nos braços. Só posso dizer que tenho admiração por essas mães, somos muito mais fortes do que imaginamos e superamos tudo pelos nossos filhos”, Jéssica Backes, Dois Irmãos, parto de 36 semanas da Maria Clara.
“Passar por essa vivência foi uma das coisas mais intensas que já senti, ser “mãe de UTI” é nunca perder a esperança. Sua fé, suas prioridades, sua força, sua concepção, seus valores, sua vida, tudo muda! Como escolhemos olhar para a situação é o que vai fazer a diferença. E mesmo não parecendo um dia a montanha russa para pra você descer”, Daniele Mai, Morro Reuter, parto de 30 semanas da Maria Júlia.
“Foi uma experiência intensa e se for definir em poucas palavras, digo foi estranho, tive medo mas tudo me transformar em uma pessoa muito forte, me mostrou o quanto consigo ser forte e paciente, quanto tenho fé”, Kellyn Dorneles, Dois Irmãos, parto de 34 semanas do Samuel
“Quando me tornei uma mãe de UTI, descobri que significa ter paciência, fé e não desistir mesmo quando os médicos acham que não tem muita chance. Cada dia é uma batalha e nunca se poder perder as esperanças. Precisamos acreditar em Deus e ter fé na equipe, que está ali de te dando suporte”, Fabiana Arnold, Santa Maria do Herval, parto de 33 semanas do João Henrique