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Polícia faz operação contra traficantes que sequestraram a sogra de PM

03/11/2020 - 07h22min

Atualizada em 03/11/2020 - 07h23min

Ofensiva conta com aparato de 500 policiais civis e militares. (Foto: Ronaldo Bernardi / Agencia RBS)

Canoas – “Não alerta a polícia. Responde as perguntas que ele quer. Negócio é sério. Eles tão comigo, eu tô com uma arma na minha boca, não avisa ninguém, se não eu vou morrer”. O apelo da mãe a uma filha foi registrado em áudio pelo celular e com direito a foto para comprovar a ameaça: na imagem, uma mulher cabisbaixa aparece com uma arma apontada para a cabeça. No comando da ação, estava um criminoso preso em Charqueadas, que ordenou o ataque à família porque, dias antes, a filha foi visitar a mãe em um condomínio em Canoas na companhia do namorado, um policial militar (PM).

No mesmo dia, houve uma ação da Brigada Militar (BM) no local para prender um suspeito de participação em chacina, e os criminosos desconfiaram que o foragido havia sido delatado pelo PM que foi ao residencial. Queriam então punir a família por ter levado um PM ao reduto das atividades ilegais. Primeiro, determinaram a expulsão da moradora do residencial. Dias depois, sequestraram a mulher para exigir a identificação do soldado. O plano era atraí-lo para um “acerto de contas”.

O drama imposto por criminosos, porém, não era só daquela família. A Polícia Civil descobriu que dois condomínios do Programa Minha Casa Minha Vida, situados no bairro Rio Branco, funcionam como espécies de cativeiro para quem lá vive. Traficantes ligados a uma facção instalaram parentes nesses locais, de onde já expulsaram, ao menos, 23 famílias, e controlam o entra e sai com a ajuda de funcionários. A investigação, que durou um ano, embasou a Operação Cativeiro, desencadeada na manhã desta terça-feira (3), em cinco cidades: Canoas, Porto Alegre, Cachoeirinha, Pelotas e Charqueadas.

A ofensiva, que conta com aparato de 500 policiais civis e militares, guardas municipais e agentes penitenciários, é também uma resposta à máxima que os criminosos costumam alardear aos moradores, de que a polícia não pode resolver o problema deles. Além de apoio aéreo da BM e Polícia Civil, policiais foram posicionados no matagal aos fundos do residencial para bloquear eventuais tentativas de fuga.

— O ataque a um policial é um ataque ao Estado, pois o policial é a última barreira entre a criminalidade e a sociedade. Nosso objetivo é restaurar a ordem nos condomínios. Os criminosos que ameaçaram moradores serão todos identificados e responsabilizados — diz o delegado Mario Souza, diretor da 2ª Delegacia Regional Metropolitana. O comandante do 15º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Jorge Dirceu Filho, ressaltou que as ações de combate à criminalidade organizada em condomínios populares de Canoas têm sido frequentes e que o trabalho tem sido em conjunto à Polícia Civil.

— É inadmissível. A gente pode até pensar que é um ato isolado contra o PM, mas não nós enxergamos isso de forma diferente: foi contra a Brigada, foi contra o Estado, foi um desafio daqueles criminosos contra todo o Estado — afirma o oficial. São cumpridos oito mandados de prisão preventiva — dois deles em presídios — e 60 de busca e apreensão. A polícia não revela quem são os suspeitos, mas GZH apurou que um dos alvos de prisão é um porteiro do condomínio, que atuaria como “olheiro” do grupo criminoso.

A vítima que durante 10 horas foi mantida refém e ameaçada com uma arma contra a cabeça teve de ingressar no Programa Estadual de Proteção, Auxílio e Assistência à Testemunhas Ameaçadas e, hoje, vive fora do Estado. O PM, que pertence ao 15º BPM e atuava em ações nos dois condomínios, foi trocado de região. A BM deu autorização para que ele ficasse com arma e colete da corporação por 24 horas para aumentar a proteção pessoal.

* Com informações de Gaucha ZH.

 

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