Polícia

Descobertas e obstáculos marcam o mistério que envolve o assassinato de Maria Soli

03/02/2023 - 09h25min

POR GUILHERME SPERAFICO

Lindolfo Collor – Era por volta das 12h30 do dia 30 de dezembro de 2021, quando a professora aposentada, Maria Soli Schneider, na época com 61 anos, recebia uma misteriosa visita em sua residência, localizada no interior da localidade 14 Colônias. Solteira e sem filhos, ela estava sozinha e abriu o portão, possivelmente, a alguém que ela conhecia.

Na casa ao lado, uma vizinha observava a chegada de um veículo estranho, modelo hatch e de cor branca, que estacionava na frente do terreno de Soli, acessado por uma estradinha rural, típica de interior. Ao perceber que a professora aposentada havia recepcionado os ocupantes, ela voltou para dentro de casa e foi almoçar.

Passaram-se poucos minutos e três disparos foram ouvidos. Em alguns segundos, enquanto os vizinhos, sentados à mesa, assimilavam que escutaram tiros e chegavam até a porta de casa para tentar entender o que acontecia, a misteriosa visita saía da casa de Soli, embarcava no carro e fugia em disparada.

Por um portão lateral à residência da professora, parentes acessaram o local e encontraram, nos fundos, o corpo caído, envolto em muito sangue. O socorro chegou a ser acionado, porém pôde apenas constatar o óbito e a Brigada Militar foi chamada.

Neste momento, uma irmã, que já estava a caminho do Litoral Norte, onde iria passar a virada do ano, foi informada dos fatos e voltou para Lindolfo Collor. Incrédulos, os parentes buscavam tentar entender o porquê do assassinato.

Desde então, 400 dias se completam nesta sexta-feira, mas um grande mistério ainda permanece: quem matou de forma tão cruel, covarde e sem motivos aparentes, uma mulher religiosa, humilde, querida por todos e sem inimigos? É o que a Polícia Civil, por meio da Delegacia de Ivoti, trabalha incansavelmente para elucidar.

O SUSPEITO

As investigações da morte de Maria Soli são marcadas por importantes descobertas e obstáculos legais, que surgiram ao longo dos últimos 13 meses. Durante este período, a Polícia Civil conseguiu chegar ao principal suspeito de ter atirado e matado a professora, porém, por decisões judiciais, o mesmo continua solto.

Morador do bairro Boa Saúde, em Novo Hamburgo, ele chegou a ser ouvido pelos investigadores, confirmando ser proprietário do Volkswagen Gol, flagrado por câmeras e reconhecido por testemunhas nas imediações do local, porém, se manteve em silêncio no decorrer da oitiva. Não disse o que foi fazer na localidade, tampouco admitiu a autoria.

Com base em diversas provas, a investigação chegou a solicitar, em duas oportunidades, a prisão preventiva do suspeito, que acabou negada pela juíza Larissa de Moraes Morais, da Comarca de Ivoti. Houve um pedido de reconsideração de tal decisão, mas também acabou negado, pelo então juiz substituto, Miguel Carpinejar (de Dois Irmãos), que optou por respeitar e manter a decisão da colega.

INQUÉRITO ABERTO

Sem prisão de suspeitos, a Polícia Civil segue trabalhando para fechar o inquérito policial. Diversas diligências foram realizadas, familiares e testemunhas foram ouvidos, assim como o suspeito de ser o atirador.

Por conta de novas diligências solicitadas pelo poder judiciário, as investigações ainda não puderam ser encerradas. A expectativa é de que, o quanto antes, estas solicitações sejam atendidas e o inquérito possa ser fechado. Com isso, serão indiciados os suspeitos, com detalhamento da participação de cada um, mesmo que eles ainda não tenham sido presos.

Caberá ao Ministério Público dar o andamento ao processo, fazendo denúncia dos possíveis autores à Justiça, com base nas provas colhidas pela Polícia Civil, para que os responsáveis apontados pela investigação respondam criminalmente.

FAMILIARES ATENTOS

Se para a Polícia Civil estes 400 dias têm sido de trabalho, para os parentes restam a angústia e o anseio por Justiça. De acordo com uma familiar, todos ainda buscam tentar entender o que aconteceu. “Temos um advogado e é ele quem tem acompanhado a situação com a polícia. Todos nos perguntam porquê dela ter sido assassinada, mas não sabemos dizer. Isso não foi esquecido pela comunidade”, ressalta.

Segundo ela, em relação ao crime, a ficha ainda não caiu. “É difícil de acreditar que isso (o crime) aconteceu”, afirma a familiar, destacando que, agora, tudo o que os parentes querem é Justiça.

QUEM ERA MARIA SOLI

Maria Soli Schneider, morta aos 61 anos, foi professora por muitos anos, lecionando em diversas escolas de Ivoti, São José do Hortêncio e Presidente Lucena. Nascida em 15 de março de 1960, ela era a mais nova de quatro irmãos, era solteira, não tinha filhos e não colecionava inimigos.

Entre os familiares, tinha uma relação mais próxima, de muita amizade, com uma das irmãs, que reside na Espanha, com quem conversava diariamente. Mantinha contato frequente, também, com a outra irmã mulher, que mora em Lindolfo Collor. Além disso, tinha como irmão um sargento aposentado da Brigada Militar, que trabalhou cerca de 30 anos em Ivoti, mas que não possuía relação tão próxima.

Na comunidade, era querida e admirada por todos. Muitos dos seus antigos alunos mantiveram a amizade até o final de sua vida. Soli era convidada para formaturas e festas de casamento. Pouco antes de ser assassinada, também havia aceitado o convite para ser madrinha de uma criança vizinha, porém acabou morta antes do batizado.

Religiosa, costumava frequentar missas e vivia pacificamente. Apesar de não ter inimigos declarados e conhecidos pelos familiares próximos, poucos meses antes de morrer, havia cercado a casa em que morava.

TRÊS TIROS

Além da aparente falta de motivo, um dos fatores que chama a atenção no homicídio é a covardia aplicada pelo atirador. O resultado das apurações levantadas pelo Instituto Geral de Perícias (IGP), aponta que Maria Soli foi atingida por três tiros dados pelas costas.

Dois dos disparos atingiram sua cabeça, entrando pela parte de trás, em um ângulo levemente superior à altura dela. Uma das balas acabou saindo pelo supercílio esquerdo. Já o terceiro tiro entrou pela região lombar inferior, abaixo das costelas, atingiu os dois pulmões, o coração e se alojou na clavícula direita. Possivelmente, pela trajetória do tiro, a vítima já estava no chão no momento do disparo.

 

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