Polícia
Idosa segue desaparecida após cinco meses: “apenas achismo e desconfiança”
Desaparecimento aconteceu em um asilo situado numa propriedade envolta de matagal
Por Cleiton Zimer
Dois Irmãos / Campo Bom | A angústia e as noites mal dormidas não têm fim. Já são cinco meses sem Maria de Fátima Silva Ávila, 64 anos. E o mais doloroso para a família é não saber o que aconteceu.
“Sem saber onde a senhora está, sem saber o que aconteceu, apenas achismo e desconfiança. Está complicado, pois sei que a senhora não iria longe sozinha”, disse a filha Luciana Silva Ávila Medeiros.
No dia 7 de março deste ano, Maria desapareceu do Lar de Idosos Jardim de Deus, localizado na Estrada Quatro Colônias Norte, na divisa entre Dois Irmãos e Campo Bom. E desde então nenhum vestígio, nenhuma notícia.
Asilo foi interditado dias depois
Embora territorialmente o local do desaparecimento seja em Dois Irmãos, a investigação está a cargo Delegacia de Campo Bom. O delegado Rodrigo Câmara não falou mais sobre o caso por conta da determinação da Associação dos Delegados – que os impede de falar com a imprensa como forma de protesto contra o governo.
Mas, conforme já apurado, os proprietários do lar disseram à Polícia Civil que ela saiu pelo portão do lar depois que eles o deixaram acidentalmente aberto. Imediatamente, o Corpo de Bombeiros fez buscas na região – um local ermo e rodeado de mata fechada.
Testemunhas foram ouvidas, câmeras verificadas, mas a polícia não conseguiu nenhuma informação sobre o paradeiro da idosa.
Logo após o desaparecimento, no dia 13, o lugar foi interditado pela Prefeitura de Dois Irmãos diante da ausência de alvará e autorização dos órgãos competentes. Havia outros 12 idosos no local.
Estranheza
A família é de Campo Bom. Segundo a filha Luciana, Maria foi colocada no lar após sair de uma clínica psiquiátrica onde fez tratamento devido à crise de esquizofrenia e depressão.
Ela estava bem, gostava do lugar. Mas na quinta-feira do ocorrido, a família já encontrou outra situação. “Estava com o olho e a boca rocha, com hematoma. A senhora, dona do lar, falou que ela tinha brigado com outra senhora.”
Mas o que gerou estranheza foi que a proprietária não saiu de perto durante a visita.
Luciana até cobrou que deveriam ter avisado da suposta briga.
Saiu e ligou para a irmã, que foi de tarde. “Só que para minha irmã era o dono que ficava em roda, dizendo que a mãe tinha caído e batido.”
Não há rastros dela fora do local, só dentro
As duas irmãs nem tinha se conversado ainda depois da visita da última. “Eu estava saindo do hospital onde trabalho e me ligaram dizendo que a mãe tinha desaparecido. Isso era 19 horas”.
Imediatamente todos foram procurar. Ninguém descansou. Procuraram na sexta-feira debaixo de chuva. Sábado vieram os Bombeiros com cães farejadores, helicópteros, drones e nada.
Segundo Luciana, os cachorros não sentiram nenhum rastro do lado de fora. “A não ser dentro do lar onde sentiram o cheiro da mãe.”
As câmeras de monitoramento do asilo não estavam funcionando. Já as das ruas, dos comércios e residências, não flagraram dona Maria.
Foram feitos anúncios em jornais, canais de TV, folhetos e até carro de som, mas ninguém a viu.
APELO
“Hoje só tenho a apelar para as pessoas entrar contato se souberem de algo. Pois está difícil. Já tive muita esperança, hoje não tenho mais da mesma forma”, lamentou Luciana, dizendo que não vai desistir de encontrar a mãe.
Quem tiver quaisquer informações que possam ajudar na localização pode entrar em contato pelo 051 98340-3280, 051 99532-6019, ou pelo 190, com a polícia.
“Têm coisas erradas”
Novamente procurado pela reportagem, o proprietário do asilo, Belamar Ribeiro, disse que não vai se manifestar a respeito, mas afirmou que “têm coisas erradas. Deixar com a polícia”, escreveu. No entanto, não disse o que acredita estar errado.