Polícia

Ligações, imagens e depoimentos: as provas que levaram a Polícia Civil aos indiciados pela morte de Maria Soli Schneider

12/05/2023 - 11h30min

Ivoti/Lindolfo Collor – Foram mais de 450 dias de uma complexa, minuciosa e robusta investigação, até a conclusão do inquérito que apurou a morte da professora aposentada Maria Soli Schneider, assassinada em 30 de dezembro de 2021. O trabalho da Polícia Civil foi marcado por importantes descobertas e obstáculos legais, que surgiram ao longo dos meses.

Durante este período, os investigadores conseguiram chegar  ao mandante, Reinoldo Jacó Schneider, o próprio irmão de Soli, e em Adelino Fortuna Kehl, indiciado por ter atirado e matado a professora, porém, por decisões judiciais, ambos continuam soltos.

Morador do bairro Boa Saúde, em Novo Hamburgo, Adelino chegou a ser ouvido pelos investigadores. Em depoimento, confirmou ser proprietário do Volkswagen Gol, flagrado por câmeras e reconhecido por testemunhas nas imediações do local.

Adelino confirmou, inclusive, ser ele o motorista do carro, porém se manteve em silêncio no decorrer da oitiva. Não disse o que foi fazer na localidade, tampouco admitiu a autoria do crime. Nas filmagens, a polícia conseguiu verificar que foi o único Gol branco que passou por lá naquele dia.

Com a quebra do sigilo telefônico, foram identificadas, somente entre 1º de dezembro de 2021 e 1º de janeiro de 2022, 36 ligações entre Adelino e Jacó. Uma delas cerca de três horas antes do homicídio, que ocorreu por volta do meio-dia. A Polícia Civil chegou a pedir as ligações de ambos em um período maior, mas as operadoras, até hoje, não retornaram o pedido.

Embora tenha tentado despistar a polícia nos primeiros depoimentos afirmando desconhecer Jacó, diante das ligações telefônicas entre os dois em poder da polícia, confirmou que eles chegaram a almoçar juntos e a se encontrar.

Prisões negadas

Com base nas provas, a Polícia Civil solicitou em duas oportunidades a prisão preventiva dos suspeitos. Os pedidos receberam parecer favorável da promotora Cristine Zottmann, mas não foram aceitos pela juíza Larissa de Moraes Morais, da Comarca de Ivoti.

Houve um pedido de reconsideração depois da última negativa, já durante as férias da magistrada, mas também acabou negado pelo então juiz substituto, Miguel Carpi Nejar, lotado em Dois Irmãos, que optou por respeitar e manter a decisão da colega. Desta forma, tanto Jacó quanto Adelino seguem soltos enquanto caminha o processo.

É UM CASO ESTARRECEDOR”, DIZ DELEGADO

Há cerca de três meses titular da Delegacia de Ivoti, o experiente delegado Fábio Motta Lopes não esteve presente na condução no início das investigações após o crime, mas foi ele o responsável por dar andamento e concluir o inquérito, remetendo-o ao Ministério Público.

Mesmo para quem chefiou a Polícia Civil gaúcha, o crime surpreende. “É um caso estarrecedor. Pessoas próximas não têm dúvidas de que o irmão é o mandante e elencaram fatores que levaram ao crime”, pontua.

O delegado destaca o trabalho dos investigadores da Delegacia de Ivoti e ressalta as informações levantadas durante os diversos depoimentos, que demonstram a premeditação do crime. “A própria Soli chegou a relatar para pessoas próximas que, em certa ocasião, flagrou o irmão parado atrás de uma árvore, com uma espingarda na mão, olhando para ela. O crime foi premeditado, pois haviam diversas ameaças para a vítima, que foram feitas indiretamente, em falas do irmão para terceiros”, explica.

Segundo Fábio, em uma conversa, o irmão (Jacó) afirmou a um familiar que conhecia um colega da academia (Adelino), que, depois de expulso, se envolveu com “más companhias”. Em outra conversa com familiares, relatou que sabia como matar alguém sem deixar rastros. Além disso, em 2019, também teria dito que Soli “não passaria daquele ano”.

Soli foi morta com três tiros

Além da falta de motivo, um dos fatores que chama a atenção no homicídio é a covardia aplicada pelo atirador. O resultado das apurações levantadas pelo Instituto Geral de Perícias (IGP), aponta que Soli foi atingida por três tiros dados pelas costas.

Dois dos disparos atingiram sua cabeça, entrando pela parte de trás, em um ângulo levemente superior à altura dela. Uma das balas acabou saindo pelo supercílio esquerdo. Já o terceiro tiro entrou pela região lombar inferior, abaixo das costelas, atingiu os dois pulmões, o coração e se alojou na clavícula direita. Possivelmente, pela trajetória do tiro, a vítima já estava no chão no momento do disparo.

Ao lado do corpo, havia uma caixa para a colocação de ovos, fato que corrobora para as provas de premeditação. No dia anterior, o motorista do mesmo carro usado para a morte da professora foi até Soli com pretexto de comprar ovos. Tudo indica que esta foi a tática que encontrou para se aproximar e, em seguida, matá-la.

Ao término das investigações, Jacó e Adelino foram indiciados pela Polícia Civil por homicídio qualificado. Entre as qualificadoras, está o fato de o crime ter acontecido por motivo fútil, assim como a dissimulação (ter simulado a compra de ovos, escondendo o real propósito que era matar) e uso de recurso que impossibilitou a defesa (tiro com arma de fogo dado pelas costas).

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