OPERAÇÃO GEISEL: cinco pessoas são presas em Dois Irmãos e Ivoti em investigação contra maus-tratos de animais

Por Cleiton Zimer 

Dois Irmãos / Ivoti – Na manhã desta segunda-feira, 6, agentes da Delegacia de Polícia de Dois Irmãos, acompanhados de fiscais do Conselho de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul, e com apoio de agentes das delegacias de Novo Hamburgo, Sapiranga, Campo Bom, Ivoti e Estância Velha, coordenados pelo delegado Felipe Borba, executaram a Operação “Geisel” cumprindo quatro mandados de busca e apreensão, sendo três em Dois Irmãos e um em Ivoti. Cinco pessoas foram presas, sendo elas pai e mãe – de 60 e 52 anos, os dois filhos – de 28 e 24, e um veterinário – de 43.

A investigação tinha por escopo apurar a prática de maus-tratos contra animais, especificamente em relação a proprietários e profissionais vinculados a canis e gatis com atuação nestas duas cidades. De acordo com o delegado Borba, em Dois Irmãos visitou-se o consultório veterinário do profissional responsável técnico pelos outros dois canis fiscalizados. “Em Ivoti, foi verificado outro canil, vinculado aos mesmos alvos da operação.”

Em Ivoti não foram encontradas irregularidades, já em Dois Irmãos, sim.

Borba explica que em Ivoti, cujo estabelecimento pertence à filha, não foram constatados crimes. “A loja é bonita, ajeitada, tanto que lá não tem irregularidade, mas pertence às mesmas pessoas”.

No entanto, nas duas unidades de Dois Irmãos no bairro Travessão (sendo uma do pai e a outra da mãe e do irmão) encontraram aspectos caracterizadores de maus-tratos. “Animais em pequenas jaulas e nitidamente doentes; pratos de alimentos e água sem higienização – sendo que em alguns havia inclusive larvas vivas; cachorros e gatos em ambientes completamente fechados, sem ventilação ou acesso à luz solar.”

O delegado disse que, num dos canis, encontraram descartes inadequados de materiais, como seringas, vidros de vacinas. “Eram incendiados nos fundos da propriedade e restos mortais de animais enterrados sem qualquer observância das normas.”

Documentos com indicativos de fraude, diz a polícia

De acordo com o delegado, foram apreendidos diversos documentos com indicativo de fraude, como cartões de vacinas de animais com aparente adulteração de assinatura do veterinário responsável. Havia dois carimbos do mesmo profissional que foram apreendidos, além de autorizações de viagem, atestado de boa saúde e receitas sem preenchimento mas já assinadas pelo veterinário. “Funcionários confirmaram que o descarte de materiais empregados em vacinas não seguiam as normas sanitárias, que o veterinário responsável autorizava que utilizassem seu carimbo e que assinassem por ele os cartões de vacinação”, disse o delegado.

Vendas para famosos, cantores e políticos

Conforme a polícia, ainda não há muitos detalhes de como e há quanto tempo o negócio funciona, mas encontraram documentações de mais de três anos. Dentre alguns clientes dos presos estão cantores sertanejos, jogadores de futebol e políticos da máxima do Executivo Nacional.

O delegado estima que havia cerca de 100 animais em cada local. Cujos preços de cada variam entre R$ 5 e R$ 7 mil.

Vários daqueles animais seriam reprodutores. Os proprietários teriam afirmando que possuem chip’s. “Mas que não tinham a máquina de leitura, que estaria estragada”, disse o delegado.

Os crimes

Conforme a polícia os presos foram autuados em flagrante por crimes contra o meio ambiente – maus-tratos e poluição ambiental – e por posse de arma. Não cabe fiança e, portanto, após todas as oitivas, eles seriam encaminhados ao sistema prisional ainda na tarde de hoje (até o fechamento da reportagem permaneciam na DP).

“Quanto à fraude documental, iremos apurar no desdobramento do inquérito polícia. Exceto o veterinário, as demais pessoas presas são proprietárias dos canis e gatis e possuem vínculos de parentesco, sendo pai, mãe, filha e filho, o que de certa forma explica a confusão entre os negócios. A investigação vai prosseguir com o intuito de identificar outras pessoas que mereçam a responsabilização criminal pertinente”, disse Borba.

O nome dos presos não foi divulgado pela Polícia.

Investigação começou com denúncia

Segundo informado pelo delegado, a investigação iniciou a partir de denúncia realizada por pessoa que teve acesso a um dos locais e que tinha conhecimento sobre diversas infrações sanitárias e que consubstanciariam crueldade contra os animais ali mantidos. “Devido à credibilidade do relato de quem denunciou, procedemos a algumas diligências que fortaleceram a hipótese, motivando então nosso pedido de autorização judicial para ingressar nos locais. Além da apreensão de uma espingarda calibre 20, sem registro, constatou-se a existência de diversos ilícitos, e, conforme a avaliação do Conselho de Medicina Veterinária, restaram configurados maus-tratos contra alguns dos animais”.

Advogado diz que estabelecimentos não estão interligados

Ainda na Delegacia, a reportagem conseguiu falar com o advogado Fernando Fontes Correa, que estava representando tanto da família como o veterinário.

Fernando defende que, embora sejam da mesma família, os empreendimentos são individuais, sem relação um com o outro. “São três coisas distintas, sendo um da filha, um da mãe e um do pai. O veterinário presta um apoio aos três canis.”

Ele reiterou o que o delegado já havia destacado: de que em Ivoti não foram constatadas irregularidades. Disse que em Ivoti há profissionais 24 horas e, nos outros dois de Dois Irmãos, responsáveis pela ordem do local – tal como evitar furtos, roubos ou até mesmo brigas entre os animais. “Quando a polícia chegou os funcionários estavam chegando para fazer a limpeza, é feita uma na parte da manhã e outra final da tarde. Então eles pegaram todas as fezes de toda uma noite antes da limpeza”, disse. O advogado também negou que os animais estavam em locais fechados, sem ventilação e iluminação adequada.

Qualquer pessoa pode contribuir com o trabalho da Delegacia de Polícia de Dois Irmãos, encaminhando informações por meio do tel 51 3564-1190 e ou pelo whats 51 985437318.