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Produtores de milho que apostaram em sementes modernas acumulam prejuízo em Santa Maria do Herval
Algumas propriedades estão tendo perdas de 80%
Por Cleiton Zimer
Santa Maria do Herval | Após enfrentar duas estiagens em períodos anteriores, agora, os agricultores estão tendo que lidar com as consequências do excesso de chuva do ano passado. Os problemas se acumulam e refletem, principalmente, na baixa produtividade de algumas culturas.
Já mostramos o prejuízo para produtores de cebolas que tiveram uma quebra de quase 70%. Mas não é somente isso. O milho também está sofrendo.
Segundo o secretário de Agricultura, Jaime Morschell, as sementes simples, convencionais, estão com a produtividade aparentemente normal. No entanto, os que apostaram em variedades mais sofisticadas – com tecnologia para aumentar e acelerar a produção –, estão acumulando prejuízos que variam entre 50, 70 e 80%. E, quando o impacto é nesta proporção, considera-se uma perda quase que total pois não há como fazer uma boa colheita de grãos.
PLANTAÇÃO TARDIA
Dentre as causas apontadas está a plantação tardia. “Choveu muito. Ideal é plantar no máximo até 10, 15 de outubro. Mas só conseguimos em novembro”, explica Jaime. Isso degringolou uma série de situações e teria facilitado a infestação da cigarrinha causando um distúrbio genético no milho – aparecendo várias espigas mas sem grãos.
PREÇO
Aliada à baixa produção, também está a questão do preço da saca que oscila entre R$ 58 e R$ 60. Jaime acredita que estes impactos estão desestimulando cada vez mais a produção – que é praticamente o carro-chefe do setor primário local – levando a uma diversificação maior.
“Provavelmente ainda teremos problemas nas vendas”, frisa, explicando que os compradores dos grãos são criteriosos quanto à qualidade.
Insumos estão, de fato, mais baratos. Isso até incentivou alguns a investirem nas plantações. No entanto, na ponta, a queda no preço fez os produtores trocar seis por meia dúzia, assim como já alertado previamente por Jaime no final do ano passado.
Perda total
A reportagem esteve em uma propriedade de Alto Morro dos Bugres, cujo produtor preferiu não ser identificado na matéria. Ele cultivou quatro pedaçõs de terra totalizando 7,2 hectares, plantando cerca de nove sacos de milho. A perda dele é total em alguns trechos.
“É difícil dizer algo, tenho que tomar uma atitude, ou colocar os animais ou cortar para silagem. E se cortar para silagem também não tem muito, não tem folhas, não tem volume, não tem grão para a saciedade dos animais”, disse. Ele foi um dos agricultores que acionou o seguro do Proagro.
Ele já planta há bastante tempo mas, agora, vai avaliar se seguirá com o cultivo. Essa não foi a primeira baixa. Há dois anos sofreu forte impacto por conta da ventania que derrubou parte das lavouras.
Inverno pouco rigoroso e chuva
Flávia Kaufman, agrônoma da Emater na região, esteve no Teewald fazendo avaliação dos prejuízos para o encaminhamento dos seguros.
Ela conta que a cigarrinha é um problema generalizado nesta safra diante de um inverno não tão rigoroso e de muita chuva.
Ela se alojou no período entressafra e, quando encontrou o momento ideal, passou a atacar o milho. “A condição ambiental favoreceu e a população dela aumentou muito. Tem manejos para combater, mas o El Niño não facilitou.”
A cigarrinha também está com um vírus novo – que surgiu há cerca de seis anos, e que a tecnologia ainda não tem um produto eficiente o bastante para combater. “Até então o controle não tem sido efetivo. E como foi um ano muito chuvoso o produtor aplicava, chovia e lavava o produto.”
Tecnologia X resistência
Para o extensionista da Emater local, Charles Rech, a semente é boa mas, talvez, não esteja adaptada para a região ou então necessita de mais tecnologia – como irrigação, análise de solo, melhor adubação. “Não existe resistência e produção ao mesmo tempo. Na natureza, tu tira de uma para por na outra e vice-versa.”
Charles analisa que uma semente com altíssima produtividade trará um resultado em um hectare o que uma comum teria em dois, com ciclo rápido. “Só que ela exige condições ideais de solo, clima, de precipitação.”
Comenta que em janeiro ocorreu um período de estiagem que durou cerca de duas semanas. “Bem quando ela precisava, sentiu.” E todos esses problemas se aliaram à cigarrinha, causando o impacto devastador.
A diferença para o “milho comum” é gritante e salta aos olhos. É possível notá-la na mesma propriedade onde há as duas variedades.
Impacto de quase R$ 11 milhões em 2023
No ano passado, em decorrência da chuva, o total da perda agropecuária em Herval foi de R$ 10.905.162,50.
Segundo um levantamento da Emater, o milho grão e silagem teve perda de 25% cada. O feijão de 40 %. Olerícolas em geral 40%. Batata inglesa 30%. E avicultura de corte 10%.