Região
Atrás do volante, quem é o profissional que faz o mundo se mover
Uma homenagem a todos os motoristas que abdicam do tempo com a sua família para conectar os outros aos seus destinos
Por Nicole Pandolfo
Dois Irmãos – Antônio Luis Bertolo Neto é motorista de ônibus há mais de 20 anos. Formado no magistério e técnico em contabilidade, ele conta que a profissão nunca esteve nos seus planos, mas pela oportunidade oferecida pela empresa Wendling, onde trabalha desde os 21 anos, encontrou atrás do volante a função que serviu de sustento para a família e que fez dele um profissional realizado: “Hoje não me vejo em outro lugar, gosto de estar em movimento”, ele diz.
Paciência e fé
Para Antônio, o sucesso na carreira está diretamente ligado ao relacionamento com os passageiros: “Eu sempre tive facilidade de lidar com as pessoas. Eu não me lembro, nos 26 anos que estou aqui, de ter tido algum conflito sério com passageiro.”
Já a segurança de cada viagem, além da habilidade do motorista experiente e da tecnologia cada vez mais avançada dos ônibus, está à cargo da fé projetada no terço que ele carrega consigo: “Antes de viajar eu peço a benção”, ele explica. “Porque a gente sai e vê muita coisa na estrada…”
O futuro da profissão
Com grande parte dos colegas “cabeça branca”, como ele brinca, Antônio projeta um futuro em que a profissão precisará ser reformulada para se adaptar a escassez de profissionais: “Esse é um grande problema hoje em dia, não só no ônibus. Falta motorista pra tudo que é lado.” Antônio ressalta que, além o número de passageiros ter diminuído, provavelmente devido ao aumento do número de carros próprios e dos meios de transporte alternativos, o trabalho nos finais de semana também torna a função pouco atraente. “Hoje tu tens que gostar, tem que ter amor, tem que ter paciência, porque o trânsito não é brincadeira, é difícil de lidar”, diz Antônio.
O motorista acredita que uma reconfiguração nas estradas poderia otimizar as viagens de ônibus e, consequentemente, atrair mais passageiros: “As vias deveriam ser mais acessíveis pro ônibus que leva 40, 45 passageiros e tira 30 carros da estrada.”
Os tempos difíceis ficaram para trás
Antônio se sente agradecido: “Se hoje eu tenho uma casa pra morar, um filho encaminhado, é por causa da minha profissão. Mas não foi fácil no início”, ele conta sobre as muitas horas de trabalho na estrada que o impediram de acompanhar boa parte da infância do filho. Atualmente, a esposa Noeli costuma acompanhá-lo em viagens, lembrando que os tempos difíceis ficaram para trás.