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Bárbara Gisele Koch: a professora que costurava sonhos com o fio da alegria

15/10/2025 - 09h46min

Bárbara construiu um legado na educação. Ela faleceu na semana passada, aos 45 anos (Foto: Feevale/reprodução)

A docente teve a vida interrompida em um acidente na BR-116, mas será lembrada pela alegria, pelo talento e pela entrega ao ensino da moda

Por Cleiton Zimer

Ivoti / São José do Hortêncio | A região ainda tenta compreender e assimilar o silêncio que ficou depois da partida de Bárbara Gisele Koch, 45 anos, professora do curso de Moda da Universidade Feevale. Hoje, Dia do Professor, essa dor fica ainda mais latente.

Bárbara morreu na noite de terça-feira da semana passada, 7, em um acidente na BR-116, entre Estância Velha e Ivoti, quando retornava de um dia de trabalho na universidade.

A mulher que dedicou a vida ao ensino, à família e à arte de costurar — literalmente e simbolicamente — teve a trajetória interrompida de forma trágica, mas o legado que deixa é o de alguém que soube transformar cada ponto da vida em aprendizado e amor.

Onde tudo começou

Natural de São José do Hortêncio, Bárbara cresceu cercada pela família, pela natureza e pelos domingos de almoço na casa da avó. Desde cedo, aprendeu o ofício que marcaria seu caminho.

Ela aprendeu a costurar logo cedo com a mãe, que tinha a costura como profissão”, recorda Êdela Laís Stumm, 30 anos, prima e afilhada. “Ela começou a trabalhar cedo em fábrica de calçados, mas nunca deixou a costura de lado. Sempre teve muita garra de correr atrás dos sonhos, e a faculdade de moda era um deles.”

Bárbara, sempre sorridente, em um registro recente com Êdela, sua prima e afilhada (Foto: Êdela/arquivo)

Determinada, Bárbara conciliou trabalho e estudos. Durante o dia, trabalhava em fábrica; à noite, estudava. Acordava cedo, dormia tarde — mas nunca sem o bom humor e a alegria que a marcavam. “Ela era muito alto astral, estava sempre disposta. Mesmo cansada, tinha um brilho especial”, lembra Êdela.

Uma história de amor com a Feevale

A relação de Bárbara com a Feevale nasceu ainda como estudante e logo se transformou em uma história de amor profissional. “Ela começou a trabalhar e estudar na Feevale, e aí o amor pela instituição começou. Fez trabalhos lindos, como o Trabalho de Conclusão de Curso, onde trouxe a cultura alemã com outro olhar”, conta a prima.

A paixão pela moda e pelo ensino caminharam juntas. Bárbara deu aulas de costura e modelagem no Senai, em Gravataí, e, nos últimos dez anos, também na Feevale. “Ela tinha orgulho enorme de trabalhar na instituição. Amava o contato com os alunos, com o conhecimento, com a moda. Realmente vestia a camisa”, diz Êdela.

O coração da família

Por trás da professora dedicada havia uma mulher de alma leve e de laços profundos com a família. “Bárbara foi a primeira neta, primeira sobrinha e primeira prima do lado da mãe. A gente sempre se reunia nos domingos na casa da vó. Ela amava estar em família, preparar os almoços, organizar tudo”, recorda Êdela.

O Natal era o ponto alto de cada ano. “Ela amava. Quando chegava essa época do ano, já começava a decoração, o amigo secreto, o almoço… Este ano vai ser muito difícil sem ela.”

A relação com a afilhada também foi especial. “Ela foi minha madrinha aos 15 anos, e eu a primeira afilhada dela. Sempre me mostrou o quanto me amava e o quanto se orgulhava de mim. Foi minha madrinha, minha prima, minha amiga e minha irmã.”

Um dos registros dos natais em família, que representa bem o amor de Bárbara pela família – da esquerda para a direita, é a primeira, de vestido florido (Foto: Êdela/arquivo)

O maior sonho: ser mãe

O sonho de ser mãe chegou mais tarde, mas foi vivido com intensidade. Samuel, de 7 anos, era o centro da vida de Bárbara. “Embora o parto tenha sido difícil, o amor pelo pequeno sempre foi muito grande. Ela vivia por ele, tinha orgulho do seu menino, buscava o melhor pra ele. Uma verdadeira mãezona”, diz Êdela, emocionada.

No início deste ano, Bárbara havia se mudado para Ivoti, para facilitar a rotina do filho, que passou a estudar na escola da Feevale. Continuava lecionando, com novos planos e uma energia criativa que parecia inesgotável. “Ela estava trabalhando com uma amiga para lançarem uma marca de roupas, bem a cara dela: elegante, chique e feminina”, conta a prima.

Um adeus abrupto

Bárbara teve a vida interrompida de forma abrupta. O carro que ela dirigia foi atingido por outro veículo na BR-116, entre Estância Velha e Ivoti (km 232), por volta de 22h.

Segundo a polícia, o Cruze seguia em direção a Novo Hamburgo quando, por razões ainda desconhecidas, entrou na pista contrária e colidiu frontalmente com o Toyota Etios, conduzido pela professora, que morreu na hora.

O motorista do Cruze foi socorrido com lesões leves ao hospital. Ele fez o teste do bafômetro que teve resultado negativo. Ao ser interrogado, segundo o delegado Rafael Sauthier, aparentava estado de confusão e não soube explicar a razão de ter adentrado a pista contrária. A Polícia Civil de Estância Velha segue investigando o caso; novas informações não foram informadas até o momento.

Outros dois veículos acabaram sendo atingidos em consequência do impacto, um BYD Dolphin e e um Chevrolet Corsa, mas, sem feridos.

O que fica, porém, vai muito além da tragédia. Fica o exemplo de uma mulher que acreditava na educação como instrumento de transformação, que enxergava a beleza nos detalhes e que amava as pessoas com intensidade.

Perder ela dessa forma foi muito difícil, agressivo e repentino”, desabafa Êdela.

A despedida de Bárbara aconteceu na manhã de quinta-feira (9), no Cemitério Evangélico de São José do Hortêncio. Ela deixa enlutados os pais Jorge Elemar Koch e Loiva Margarida Koch, o filho Samuel, de 7 anos, a irmã Estela Luísa Koch, o sobrinho Heitor, além de demais familiares, amigos e alunos.

A Universidade Feevale também se manifestou: “[…]Suas contribuições, principalmente na aplicação do conhecimento acadêmico em contextos sociais e comunitários, permanecerão entre nós […]”, salientou a instituição, em nota.

 

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