Região
Caderno 65 anos de Dois Irmãos – Devoção, trabalho e reconhecimento da comunidade
A presença acolhedora e familiar das irmãs do Colégio Imaculada
Por Nicole Pandolfo
“Irmã, onde é que tu mora?”
A pergunta de uma das crianças que estudam no Colégio Imaculada Conceição expressa a curiosidade da maioria dos pequenos que convivem com a presença familiar e acolhedora das irmãs na escola. “Mãe, olha a profe do colégio!” A criança foi logo corrigida pela mãe: “Não é profe, é irmã!” “Irmã de quem?” A lembrança desse diálogo diverte a irmã Rosália de Nadal, umas das 5 religiosas da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria que moram na residência do Colégio. Ela tem 82 anos, é natural de uma localidade entre Guaporé e Muçum e está há 15 anos em Dois Irmãos.
O chamado
Irmã Rosália, assim como suas atuais companheiras, entraram para a congregação numa época de suas vidas em que, nos dias atuais, seria considerado imprudente a tomada de uma decisão tão significativa – entre 12 e 15 anos de idade. “Eu praticamente me criei com as irmãs, estudava desde os 5 anos em colégio de freiras, então eu sempre dizia que queria ser irmã”, ela conta. Para a irmã Lúcia Mallmann, 78 anos, de Pinhal Alto, em Nova Petrópolis, a influência na educação também a direcionou à vida religiosa: “De tanto que eu gostava da minha professora, eu virei irmã!”
Já para a irmã Lucila Thiele, de 84 anos, a ideia de ser freira veio na forma de um chamado espiritual: “Tirando a palha do milho, sozinha, com 6, 7 anos, de repente, uma voz aqui dentro disse: ‘Por que não vai ser irmã?’”, ela conta.
Os desafios
Ainda muito jovens, as irmãs deixaram suas casas e suas famílias para assumirem o compromisso de servir a todos que necessitem da sua ajuda baseadas na religiosidade. A mudança de vida que exigia total doação ao próximo talvez não faça sentido para a maioria dos jovens de hoje em dia, mas na época das irmãs, “os tempos eram outros”. A vida religiosa apresentava-se àquelas meninas como uma oportunidade de conhecer o mundo quando, para a maioria, pouco seria oferecido além da lida na roça. De qualquer forma, a cada mudança proposta pela congregação, um novo processo de adaptação é exigido e, ainda que a fé represente um poderoso pilar de sustentação, a dúvida é um lembrete de que elas são seres humanos como qualquer outra pessoa: “Tive um momento de baixa, quis desistir”, conta a irmã Leonilde Trevisan, de 88 anos. Na congregação desde 1952, ela dedicou 40 anos da sua vida à sala de aula. “Achei que poderia ter minha casa. Até tive namorados!”, ela conta rindo. “Mas desisti de todos! Estou feliz na congregação, há 64 anos de votos perpétuos”, conta com orgulho, ela que já passou por 13 transferências.
O reconhecimento
Na comunidade onde elas atuam, a dedicação pode ser entregue em uma palavra de conforto, na difusão da fé ou, como no caso da irmã Leonila Steffens, de 78 anos, no trabalho contínuo na Secretaria do colégio. E o reconhecimento acontece a cada passeio pela cidade: “Quando saio pra rua, faço duas ou três paradas. Encontro ex-alunos e ficamos conversando. ‘Me conhece ainda?’ eles perguntam! Junta pai, mãe, alunos, e ficamos conversando numa roda!”, conta a irmã natural de Joaneta.
“A gente procura dar o melhor da gente no nosso trabalho junto às crianças, aos jovens daqui. Incentivá-los, motivá-los. Acho que lá no coraçãozinho deles sempre fica algo de bom”, diz a irmã Rosália, sobre como a presença das irmãs reflete na comunidade.
A continuidade
As irmãs lamentam que hoje em dia o número de devotas tenha caído tanto: “Em 1960, éramos 1600 irmãs, agora somos 500 e poucas”, diz irmã Leonilde. A diminuição expressiva, segundo irmã Rosália, é uma interrogação para todas as congregações: “Vai ter que ter uma mudança muito grande na vida religiosa, talvez até não existindo mais congregações, mas uma junção. Hoje Já tem muitos projetos em que as congregações trabalham em conjunto pra se fortalecer”, reflete Irmã Rosália. Enquanto isso, as 5 irmãs que residem no Colégio Imaculada Conceição continuam sua missão e estão longe de se aposentar, podendo ainda passarem por mais uma transferência, de acordo com a demanda da Congregação. Irmã Lucila resume o que as motiva a continuar servindo: “A necessidade e sede que o povo tem de Deus.”