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Caderno 65 anos de Dois Irmãos – Os “Guardiões do Tempo” – Rodolpho Lauter

10/09/2024 - 09h38min

Atualizada em 10/09/2024 - 14h05min

Rodolpho trabalha com vista privilegiada da Av. São Miguel, de onde viu a cidade crescer (Fotos: Nicole Pandolfo)

Os “Guardiões do Tempo” de Dois Irmãos

Para comemorarmos os 65 anos da nossa cidade, recorremos às memórias e arquivos que compõem a sua história. Mas o que seria da história, se não tivéssemos o tempo como referência?
Na escala do tempo, registramos os acontecimentos com os quais construímos nossa identidade.
Há 5 mil anos o ser humano tenta controlar o tempo, desde o desenvolvimento dos relógios mais rudimentares até as engenhosas e delicadas máquinas que decoraram as paredes das casas e adornaram nossos pulsos.

Com a livre metáfora de guardiões do tempo, entrevistamos os dois relojoeiros de Dois Irmãos: Rodolpho Lauter e Jacintho Hahn. Suas habilidades de manter relógios precisos e funcionais foram essenciais para o desenrolar da nossa história. Hoje, as engrenagens foram substituídas pelos dispositivos eletrônicos e a profissão do relojoeiro transformou-se em um ofício raro que corre grande risco de extinção.

Mesmo assim, nossos relojoeiros continuam ativos e com uma demanda de trabalho considerável, provando que a qualidade dos seus serviços é reconhecida ainda hoje, não somente em Dois Irmãos, mas em toda região e além, de onde os procuram para consertar peças de valor e história inestimável.

Conheça um pouco sobre um dos nossos estimáveis Guardiões do Tempo Rodolfo Lauter e Jacintho Hahn no texto a seguir e no link: Caderno 65 anos de Dois Irmãos – Os “Guardiões do Tempo” – Jacintho Hahn

Pioneiro da relojoaria em Dois Irmãos, Rodolpho Lauter assistiu ao desenvolvimento da cidade da janela do seu local de trabalho

Por Nicole Pandolfo

Quando Rodolpho Lauter chegou aqui com a esposa e uma filha de 6 semanas, a cidade tinha menos de 2 anos de emancipação, o que confere a ele não somente o título de primeiro relojoeiro, mas também de primeiro “forasteiro” de Dois Irmãos: “Essa cidade não tinha nada! Comi poeira aqui pra caramba! Só tinha essa rua aberta [Av. São Miguel]. O pessoal aqui nem aceitava gente de fora, não vendia terreno”, ele lembra.

Não bastasse a dificuldade encontrada por ele e pela família pelo fato de não serem dessa terra, Rodolpho ainda teve que enfrentar a má fama que relojoeiros desonestos haviam construído na região: “Antes os caras vinham aqui oferecer conserto, juntavam uns 10, 20 relógios e se mandavam!”, ele conta. Para ganhar a confiança da nova clientela, Rodolpho realizava o concerto das peças na presença do freguês e, aos poucos, relógios de toda a região começaram a chegar na sua loja: “De Boa Vista do Herval, lá além de Ivoti… De tudo que era lugar. De bicicleta, à cavalo…!

A demanda de trabalho mudou, mas é constante, segundo Rodolpho. Na foto, um cliente foi à loja buscar o relógio de parede que havia deixado para conserto

Quase aviador

Natural de Bom Retiro do Sul, Rodolpho aprendeu a consertar relógios aos 12 anos com o tio que morou na Alemanha e de lá trouxe a habilidade para o ofício. Passou a trabalhar como relojoeiro com o irmão, mas alimentava um sonho diferente para o seu futuro: “Eu queria ser aviador, mas como eu era ruim no português…”. Em casa, a língua predominante entre os 7 irmãos era o alemão e a falta de domínio do português o prejuducou na seleção para a Aeronáutica, onde ele chegou a servir por um ano, na base aérea de Canoas: “Foi meu melhor ano, que eu mais aprendi”, ele recorda.

Rodolpho exibe com orgulho as ferramentas – algumas de origem alemã

Por amor à arte

Mas a reloajaria também era uma paixão para Rodolpho. Depois de 9 anos trabalhando com o irmão, mudou-se para Dois Irmãos no dia 6 de março de 1961 e abriu a primeira loja “logo abaixo”, segundo ele, da atual Galeria Ranft: “Pra me manter, consertava relógio pra Porto Alegre, pra Taquari, Bom Retiro, trabalhava dia e noite praticamente”, lembra.

Com uma coleção de 120 relógios que datam desde 1700, seu Rodolpho, hoje com 85 anos, lamenta que a profissão esteja em extinção, não só pela evolução tecnológica, mas também pela dificuldade em ensinar o ofício: “É difícil ensinar, porque quem vem aprender estraga muito mais”, ele conta. Mesmo assim, ele afirma que o seu trabalho ainda é bastante requisitado: “Vem gente de tudo que é lugar pra fazer uma pecinha de relógio.” Mas não dá pra ficar rico, o cara trabalha de teimoso! Tem que ter amor a profissão!”

As fontes artificiais com peixes nos fundos de casa são uma das paixões do relojoeiro. Por muito tempo Rodolpho praticou a caça e, exímio atirador, foi campeão interestadual de tiro ao alvo: “Hoje eu tô arrependido dos bichos que eu cacei. Hoje eu boto caixinha pra criar os passarinhos, aguinha para beija-flores…”

 

 

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