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Depois do susto com a saúde, Salsicha recebe o carinho dos leitores durante a entrega do jornal em Dois Irmãos

23/02/2024 - 08h00min

Atualizada em 23/02/2024 - 08h57min

Trabalhar à noite entregando os jornais é uma atividade prazerosa para Cláudio (Foto: Nicole Pandolfo)

Diário da Terceira Idade

No Diário há 20 anos, Cláudio, o Salsicha, é um dos funcionários mais antigos

Por Nicole Pandolfo

Dois Irmãos – Para Cláudio Ruppenthal, entregar jornais de madrugada é uma atividade tranquila: “Parece que me dá um alívio andar de moto. De vez em quando a gente encontra um conhecido, um amigo segurança.” Há 20 anos ele percorre o mapa das entregas, garantido que a informação chegue até o leitor. Mas, recentemente, ele precisou se afastar da atividade.

No final de 2022, depois de um turno de trabalho, Salsicha – como é mais conhecido – sentiu dores no braço e falta de ar. Quando teve certeza de que os sintomas não eram apenas o cansaço do fim do dia, resolveu ir até o posto de saúde: Ele havia infartado. “Eu entreguei na mão de Deus, não tinha o que fazer. Minha sorte é que eu nunca bebi e nunca fumei”, ele relata.

Saudades da companheira

Depois da cirurgia de ponte de safena, Salsicha voltou para casa, onde aproveitou para cuidar da horta na companhia dos melhores amigos, os cachorros, dos quais ele fala com muito carinho. Os médicos pediram que ele aguardasse 4 meses antes de andar de moto novamente, mas a saudade dessa “companheira” foi mais forte do que o juízo e, no terceiro mês após a cirurgia, Salsicha resolveu dar uma volta: “Caí um tombo ‘de brincadeira’, no saibro, bem devagarinho. Juntei rápido a moto, sem pensar na cirurgia. Não podia erguer peso, no máximo 20kg.” Felizmente, não houve nenhuma complicação.

A primeira moto, comprada em 12x de R$150, há 20 anos (Foto: arquivo pessoal)

Os 400 pés de cebola, mais couve, repolho e alface que Salsicha produziu no tempo em que ficou sem trabalhar foram distribuídos entre os amigos e vizinhos: “Depois eu pedi pro médico: me libera que eu não tenho mais nada o que fazer na minha horta”, ele lembra com humor.

O carinho dos leitores

De volta à rotina da entrega dos jornais, em setembro de 2023, Cláudio recebeu o carinho de diversos leitores que souberam do infarto e comemoraram o retorno do entregador: “Essa semana, uma pessoa ‘me atacou’, no Primavera. Ela estava voltando de uma festa de madrugada e disse: ‘Bah, que legal te ver trabalhando de novo!”. Salsicha se emociona com cada demonstração de afeto e faz um pedido especial: “Eu queria colocar no jornal, agradecer por todos os leitores que rezaram por mim!”

Padeiro de mão cheia

Salsicha é natural de Gramado, nascido há 59 anos na Linha Araripe, mas criado em Santa Catarina, para onde foi com a família desde muito pequeno. Estudou até o 2º ano do 2º grau e passou a trabalhar numa padaria. Desde o início com a mão na massa, aprendeu o ofício que seguiria desenvolvendo por anos, até a aposentadoria. De volta ao Rio Grande do Sul, ele trabalhou na padaria Stoffel e, anos depois, na padaria Becker. Por algum tempo, ele conciliou a vida de padeiro com a de jornaleiro, duas atividades noturnas, com pouco espaço para descanso. Hoje, Salsicha conta que ainda faz pães e bolos em casa com muita facilidade: “Eu tenho uma prática…! Pego a receita, faço, em 10 minutos está pronto. Tem que saber os segredos!”

“O padeiro, meu professor, tinha preguiça de fazer o pão, só mandava fazer. Então eu aprendi muito com ele na prática!” – Cláudio, à esquerda, com que o ensinou a ser padeiro

Salsicha, no tempo de padeiro

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