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Diário da 3ª Idade: “A gente achava que não ia sair vivo”, afirma casal de Ivoti salvo de enchente pelo telhado

10/12/2023 - 14h15min

Atualizada em 10/12/2023 - 14h16min

Hoje, a alegria está estampada no rosto, apesar das lembranças tristes do que passaram Crédito: Cândido Nascimento
Depois que o sufoco passou, casal cria galinha e planta para eliminar o estresse

Cândido Nascimento

Ivoti – Segundo relatos de parentes e amigos de Paulinho e Ivone, os donos do Bar do Paulinho, que funcionou por mais de uma década junto ao Núcleo de Casas Enxaimel, nunca houve uma enchente tão forte nos últimos 70 anos como esta do mês de junho. Eles saíram com as pernas congeladas pelo telhado do restaurante, resgatados com ajuda dos bombeiros de Ivoti e Dois Irmãos e de um jet ski de um particular. Eles atribuem a mão de Deus por saírem ilesos.
Natural de Gravataí, de uma família de 13 irmãos, Paulo de Deus Maciel (Paulinho), veio para Ivoti em 1976, para trabalhar na lavagem de veículos na Antiga Laticínios Ivoti. Ele morou na casa de um familiar e depois na pensão do Hari Dilly. Trabalhou por 30 anos na Prefeitura, atuando nas Obras, Educação e Saúde, dirigindo até ambulância.
Ivoni (Voni) trabalhou num curtume e também como merendeira na Escola Mathias Schütz, onde se aposentou, após 28 anos de serviços prestados. Eles se conheceram em um baile na 48 Baixa, Lindolfo Collor e casaram em 1982. Tiveram um filho, Samuel Luiz Maciel, que faleceu em 2022 por problemas cardíacos.
Mais tarde eles abriram um depósito de gás, onde atenderam por 12 anos. Em 2012 abriram o Bar do Paulinho, onde serviam cafés e almoço durante os dias de feiras e eventos no Núcleo, atendendo todos com muito carinho e fazendo uma multidão de amigos.

O dia em que a água entrou e tiveram que sair por cima

O relato é dramático, pois o casal estava na companhia de um sobrinho dentro do bar, quando a água começou a subir rapidamente no dia 15 de junho, sábado. Eles ficaram da meia-noite até as cinco horas da manhã do outro dia até ser resgatados por bombeiros de Ivoti e Dois Irmãos e por um particular (Cesar Henz) que cedeu um jet ski para fazer o resgate.
Primeiro um funcionário da Prefeitura tentou chegar próximo ao bar e não conseguiu passar, pois apagou. O próprio operador da máquina teve que ser resgatado de barco. Na sequência, o barco dos bombeiros de Ivoti virou durante o resgate.
Tanto Paulinho, quanto Ivoni e o sobrinho Jandir Weber ficaram junto com dois bombeiros sobre o balcão do bar, onde a água nunca chegou até mais que meio metro dentro do local, mas alcançou três metros nesta vez. A saída foi subirem no telhado e chegar até a churrasqueira, onde o jet ski estava pronto para o resgate, levando o grupo até a estrada que sobe para a Picada 48 Alta.
“Nós víamos os freezers passando pela água e até o contêiner da Adoma sendo levado, panelas e outros objetos carregados pela correnteza”, lembra Ivoni. O carro deles, uma Saveiro, teve que ser amarrada pelos bombeiros para não ser arrastada para longe do local. Depois eles tiveram que arrumar e vender o veículo.
Os freezers e geladeiras foram secos e recuperados, mas uma motosserra e um gerador tiveram que ser consertados. Foi perdido um telefone, micro-ondas e fornos, entre outros equipamentos e diversas mercadorias. Como o casal já pensava em parar, decidiu vender o restaurante para o funcionário Valdir (Magrão) e a esposa, que já trabalhavam assando carnes, fazendo saladas e auxiliando na limpeza.

O que fazem hoje para esquecer as aflições

Paulinho e Ivoni tem 170 galinhas poedeiras e três galos, além de dois porcos. Eles vendem os ovos caipiras para clientes que vão direto no sítio buscar. A produção chega de 12 a 13 dúzias por dia.
O local fica atrás do antigo bar, em uma propriedade familiar. Ali também plantam molho, brócolis, tempero verde e couve-flor, além, de chuchu, pepino e melancia. Para fazer companhia contam com a cadela Suzana, que também foi salva no mesmo dia da enchente, pois estava com a família dentro do bar.
“Agradecemos a Deus por estaremos vivos, pois o rio passava por cima das caixas de luz e podíamos levar um choque e morrer ali mesmo, mas a mão d´Ele estava junto até sermos salvos; também agradecemos a todos que nos ajudaram a trazer as coisas até no sítio”, explicam.

 

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