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DIÁRIO RURAL:Produtores de Linha Nova acumulam 100% de prejuízo nas plantações atingidas pelas enchentes
Após grande volume de chuvas no mês de maio, estima-se a perda de 105 hectares em função da fertilidade do solo
Por Nadine Dilkin
Linha Nova – As lavouras do município de Linha Nova sofreram com os estragos das enchentes do mês de maio, segundo laudo da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). Os prejuízos chegam a somar 100% nas áreas usadas para a produção de milho e hortaliças.
A cidade é referência na produção de brássicas – vegetais com formato floral, como o brócolis, a couve-flor e o repolho. O engenheiro agrônomo da Emater, Paulo Roldan Pinto, conta que praticamente toda a produção do município é comercializada na região metropolitana, principalmente na Centrais de Abastecimento do Rio Grande do Sul (Ceasa).
Duas das principais atividades agrícolas de Linha Nova são a cultura do milho e a olericultura – ramo da horticultura que estuda todos os aspectos relacionados ao plantio e cultivo de hortaliças.
O ex-secretário de agricultura do município, que também é produtor, Cristiano Nienov, relata que teve uma perda cerca de 60% da sua produção de couve-flor. “Nossa família planta bastante, em torno de sete hectares de hortícolas (planta comestível) e as perdas foram grandes”, comenta.
Com a pausa nas chuvas intensas, Nienov começou a retomar o trabalho, refazendo as lavouras e fazendo novos plantios. A produção que restou precisou ser vendida direto na propriedade, pois a Ceasa também acabou sendo afetada pelas enchentes. “Desde o dia 2 de maio, todas as nossas vendas ocorreram aqui em nossa propriedade. No dia 17 de junho, retornamos com as vendas na Ceasa, que está ocorrendo de forma gradativa”, afirma.
Danos na fertilidade do solo
Além do prejuízo das plantações, o município teve uma perda de fertilidade do solo, equivalente a uma área de 105 hectares. Segundo dados levantados pela Emater de Linha Nova, essa área teve o escorrimento de matéria orgânica e estima-se um prejuízo de mais de R$ 1,1 milhão para recuperar o território.
Cristiano Nienov conta que teve que ser feito todo um remanejo no solo de suas plantações. “Precisamos de insumos para tornar o solo fértil novamente. Vai adubo, esterco de aviários, é todo um trabalho que tem que ser feito”, explica.
O engenheiro-agrônomo Marcelo Biesuz, doutor em Ciência do Solo e Assistente Técnico Regional da Emater/RS – Ascar, explica que a fertilidade do solo é o resultado da interação dos fatores químicos, físicos e biológicos – ou seja, dos nutrientes, da estrutura e da vida do solo. “Com as fortes chuvas no estado, tivemos basicamente três situações: onde a água chegou com velocidade, havendo arraste de solo, ocasionando a erosão; onde teve alagamentos sem correnteza, com deposição de sedimentos, e nas beiras dos arroios, em que tivemos o desbarrancamento dos taludes dos arroios”, esclarece.
Biesuz ressalta que a perda da fertilidade pode ocorrer pelo processo erosivo e pela saturação do solo. “As raízes das plantas respiram, e quando ficam muitos dias sem oxigênio devido à inundação, acabam morrendo. O solo agrícola pode ficar coberto por uma camada espessa de areia, o que também prejudica as plantas”, ensina.
O engenheiro pontua que, com a baixa das águas e diminuição das chuvas, o solo deve estar exposto à radiação solar, o que ajuda a eliminar microrganismos nocivos. O próximo passo, é a aeração, que reativa a vida no solo. De acordo com Biesuz, essa reativação pode ser estimulada utilizando composto orgânico, a chamada terra preta.
Segundo Biesuz, o indicado é plantar primeiro aveia, centeio, tremoço (espécie de feijão), nabo, forrageiro e ervilha. Estes adubos verdes ajudam na circulação dos nutrientes do solo e na eliminação de possíveis contaminantes, como metais pesados, pois muitas indústrias químicas tiveram seus insumos misturados com as águas das enchentes. “Utilizar composto orgânico ajuda no reequilíbrio da vida do solo, e finalmente, a começar o replantio das culturas para o consumo humano”, conclui.
Perdas no Estado
Segundo o boletim de Evento Adverso, lançado pela Emater e o Governo do Estado do Rio Grande do Sul, a produção primária foi severamente afetada pelas chuvas, e houve perdas significativas em produtos armazenados e também em várias culturas como as de verão – soja, milho, algodão, cana-de-açúcar e arroz – e os plantios iniciais de inverno, como alface, feijão e aveia.
Ao atingir regiões próximas à região metropolitana, as chuvas extremas também geraram danos severos na horticultura e fruticultura. Além disso, a produção pecuária gaúcha foi muito impactada nos mais diferentes tipos de exploração: bovinos de leite, bovinos de corte, suínos, aves e peixes, entre outros, o que exige um longo período para recuperação dos setores.
As perdas, no entanto, não ocorreram da mesma forma em todo o estado. Em algumas regiões, os danos foram muito expressivos, como nos vales do Taquari, do Caí, do Rio Pardo, na região da Quarta Colônia da Imigração Italiana, no Vale do Paranhana e na Encosta da Serra. Mais de oito mil produtores sofreram perdas na produção de hortaliças, o que afeta consideravelmente a cadeia de suprimentos e a economia estadual.