Região

FIF 50 ANOS: A nova imagem de Nova Petrópolis

10/07/2023 - 14h17min

Atualizada em 10/07/2023 - 14h17min

Culturas do mundo são representadas no Palco da Diversidade instalado na Rua Coberta de Nova Petrópolis (CRÉD. MAURO STOFFEL / PMNP)

Nesta semana começa o 50º Festival Internacional de Folclore de Nova Petrópolis. Para dar início ao evento, publicaremos online a série de reportagens especiais feitas para o Especial Rota Romântica, que circulou na edição 5.767, no dia 7 de julho.

Gian Wagner Baum – Jornalista
Editorial / Especial 50 Anos do Festival Internacional de Folclore / O Diário – Nova Petrópolis

Os quatro grupos que primeiro colonizaram Nova Petrópolis tiveram muita coisa em comum. A principal delas, muito provavelmente, foi a dificuldade em se integrar com as outras culturas já existentes no Sul do Brasil. Primeiro porque não havia quase nada de cultura formada naquele pedaço de chão e os homens que ali viviam ainda eram caçadores e coletores, de um período histórico que talvez aqueles imigrantes nem sonhassem que ainda existisse quando embarcaram para o novo continente. Emílio Willems escreveu em 1946 que essa primeira sociedade criou para si uma espécie de cultura às margens das demais, que não se misturava e que preservava o que foi trazido na travessia do oceano.
Com essa cultura marginal, que vem de “às margens” da sociedade brasileira na época, Nova Petrópolis viveu muito bem seus primeiros anos, mas sofreu um duro golpe no período das guerras mundiais, principalmente na segunda quando o Brasil passou por uma nacionalização e tudo que era germânico passou a ser malvisto e até proibido. Na década de 1950, quando Nova Petrópolis vira um município, a cidade nasce como polo político, porém está totalmente despedaçada culturalmente.
Em uma obra escrita para o sesquicentenário da Imigração Alemã, em 1974, Padre Arsênio Schmitz escreve sobre uma nova imagem para Nova Petrópolis. Uma imagem que, resumidamente, retornaria ao passado colher o que de melhor a primeira cultura formou e, desta vez, poderia ser aberta ao público já que “os imigrantes constataram que os grupos estranhos, em relação aos que haviam se retraído, não eram, nem economicamente, nem cultural, nem emocionalmente, tão hostis quanto pareciam”, nas palavras de Schmitz.
Tudo coincidiu para que Nova Petrópolis pudesse amadurecer. A chegada das estradas fez com que os povos antes praticamente isolados pela bonita geografia, mas que sempre dificultou os acessos, agora trazia pessoas que se encantavam com a beleza natural. O grande pinheiro já era atrativo turístico quando Nova Petrópolis começou a pensar nesta nova forma de trabalhar sua cultura. Hoje é a cultura local em sua forma de dança e gastronomia que mais atrai os visitantes.


Ainda em 1974, quando Nova Petrópolis já tinha dado início à Feira de Inverno que viria a se tornar o Festival Internacional de Folclore, Pe. Arsênio escrevia que Nova Petrópolis estava trabalhando para a construção de uma nova imagem cultural. E foi através do folclore que a cultura de Nova Petrópolis foi apresentada para o Estado, quando pela primeira vez um evento foi televisionado (em uma época de apenas rádio e TV).
Essa nova imagem cultural não apresenta nada tão “novo” assim. Pelo contrário, ela existe para preservar o antigo que já tem quase 200 anos em terras tupiniquins. A diferença é que agora isso se tornou um espetáculo apresentado ao mundo, que é motivo de alegria e que pulsa o coração do município que se orgulha de ter uma forte identidade cultural cada dia mais bem preservada. Padre Arsênio acertou quando disse que Nova Petrópolis precisava de uma nova imagem cultural e com certeza teria muito orgulho de como a comunidade conseguiu transformar aquela cultura marginal e fragilizada da década de 1950 em um dos mais belos exemplos de preservação cultural do país.
Pensando em toda a importância que a cultura local tem para a região da Rota Romântica, trazemos neste suplemento especial uma série de reportagens comemorativas aos 50 anos do Festival Internacional de Folclore. Desejo a todos uma ótima leitura e à Rota e ao FIF, longos anos de muito turismo e tradições folclóricas preservadas. Que estas duas iniciativas carregadas de história continuem se complementando. A cultura de toda região agradece!

 

Sair da versão mobile