Asilo foi fechado por funcionar de forma irregular

Por Cleiton Zimer

Dois Irmãos / Campo Bom | Há mais de um mês um mistério paira na região. Uma senhora, Maria de Fátima Silva Ávila, 64 anos, desapareceu do Lar de Idosos Jardim de Deus, localizado na Estrada Quatro Colônias Norte, na divisa entre Dois Irmãos e Campo Bom.

Ela estava no local há apenas um mês e meio. O desparecimento aconteceu no dia 7 de março e não há nenhum vestígio desde então.

Buscas já foram realizadas pelos Bombeiros, familiares, amigos e comunidade. Parentes procuraram jornais, canais de televisão, distribuiu folhetos, usaram carro de som mas até agora nada.

A Polícia Civil investiga o caso. O asilo foi fechado pela Prefeitura de Dois Irmãos no dia 13 por funcionar de forma irregular.

Era um lugar bom, mas tudo mudou na última semana

A família é de Campo Bom. Segundo a filha Luciana Silva Ávila Medeiros, Maria foi colocada no lar após sair de uma clínica psiquiátrica onde fez tratamento devido uma crise de esquizofrenia e depressão.

“Estávamos numa luta e, como ela estava muito debilitada devido os medicamentos tivemos que levar ela para o lar pois precisava de cuidados 24 horas”.

Os filhos pesquisaram, visitaram diversos locais e encontraram o Jardim de Deus. “Tudo limpo. Todos concordaram. Um amigo nosso tinha um parente que ficou cinco anos, tinha indicação que era um lugar bom”, explica Luciana, enfatizando que a mãe gostava de ficar lá por ser aberto e ter natureza. “Não sei o que aconteceu naquela última semana.”

Encontraram a mãe com hematomas horas antes

No sábado anterior ao desaparecimento Luciana visitou a mãe. “Estava supertranquila. Conversamos”.

Naquela quinta-feira do ocorrido, pela manhã, foi novamente. Mas encontrou outra realidade.

“Ela estava com o olho e a boca rocha, com hematoma. A senhora, dona do lar, falou que ela tinha brigado com uma outra senhora.”

Mas o que gerou estranheza foi que a proprietária não saia de perto durante a visita. “Não sei se este comportamento deles era para não nos deixar preocupados pelo que aconteceu ou, se era para coagir a minha mãe para não contar o que aconteceu.”

O dia todo foi estranho. “Eles não agiam daquela forma, não ficavam em roda da gente.”

Luciana até cobrou que deveriam ter avisado da suposta briga. Saiu e ligou para a irmã, que foi de tarde. “Só que para minha irmã era o dono ficava em roda, dizendo que a mãe tinha caído e batido.”

Não teve rastros do lado de fora, só dentro

As duas irmãs nem tinha se conversado ainda depois da visita da última. “Eu estava saindo do hospital onde trabalho e me ligaram dizendo que a mãe tinha desaparecido. Isso era 19 horas”.

Imediatamente todos foram procurar. “Nada da mãe. Avisei para minha irmã ir direto a Novo Hamburgo fazer um boletim de ocorrência que a mãe não estava mais ali. Acho que eles deveriam ter feito já, no momento que desaparece o idoso a responsabilidade é deles.”

Ninguém descansou. Procuraram na sexta-feira debaixo de chuva. Sábado vieram os Bombeiros com cães farejadores, helicópteros, drones e nada.

Segundo Luciana, os cachorros não sentiram nenhum rastro do lado de fora. “A não ser dentro do lar onde sentiram o cheiro da mãe.”

As câmeras de monitoramento do asilo não estavam funcionando. Já as das ruas, dos comércios e residências, não flagraram dona Maria.

Contradições

Luciana diz que além da contradição sobre o que teria motivado os hematomas – que as irmãs só perceberam ao se falar depois do desaparecimento –, há mais coisas estranhas.

“Na hora, ele ligou dizendo que a mulher dele tinha deixado o portão aberto para ir numa depilação, que até então era no médico, porque para todos nós ela falou que era no médico, e para o inspetor era depilação. Até então era ela, depois era ela e o filho dela. Então são muitas histórias contraditórias, horários que não fecham com o que falaram para nós.”

O portão teria ficado aberto entre 18h e 19h.

“A gente não sabe mais o que fazer, onde procurar”

Desde então a comunidade e amigos se unem à luta da família para tentar achar Maria. “Como está muito tempo sem medicação deve estar muito desorientada.”

A filha diz que seguem sem saber o que aconteceu e que não tem como provar nada. “Aquele dia foi muito estranho. O comportamento deles muito estranho. Porque não nos ajudaram a procurar a mãe. Só no primeiro momento, lá dentro do lar, ali eles tentaram dar uma ajuda. Porque no outro dia ele dizia: ‘aqui podem procurar, aqui tenho certeza que ela não está’. A gente não sabe o que aconteceu, a gente não pode culpar, acusar, porque a gente não tem provas, mas a gente sabe que ela está desaparecida e a gente não sabe mais o que fazer, onde procurar.”

Não há sinal de crime, segundo a polícia

A investigação está a cargo da Polícia Civil de Campo Bom. Segundo o delegado Rodrigo Camara não há evidências de crime.

“Estamos investigando o desaparecimento. Os proprietários do lar informaram que ele saiu pelo portão, depois que eles deixaram acidentalmente aberto. Imediatamente o Corpo de Bombeiros fez intensas buscas na região, que é um local ermo e rodeado de mata fechada. Até o momento ouvimos diversas testemunhas, verificamos câmeras de vigilância, requisitamos informações para outros órgãos públicos, porém ainda não temos nenhuma informação sobre o paradeiro dela.”

O delegado informou que o local foi fechado em razão da ausência de alvará e autorização dos órgãos competentes. “12 idosos havia no local”. O número de funcionários ainda está sendo apurado.

O que diz o proprietário?

A reportagem fez contato com o proprietário, Belamar Ribeiro, na tarde de ontem. Em mensagem, disse que não iria se manifestar. “Por enquanto vamos estera (esperar) um pouco mais”.

Ajude com informações

Caso tenha alguma informação que possa ajudar na localização entre em contato pelo 051 98340-3280, 051 99532-6019 ou pelo 190, com a polícia.