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Região

Imprudência de motoristas e inércia do DNIT em Dois Irmãos transforma o Travessão num lugar perigoso

Moradores não se sentem mais seguros e pedem por alguma intervenção das autoridades (FOTO: Cleiton Zimer)

04/01/2024 - 10h32min

Atualizada em 04/01/2024 - 11h47min

Diversas pessoas foram atropeladas no trecho da BR-116; teve mortes e sequelas irreversíveis

Por Cleiton Zimer

Dois Irmãos – O atropelamento que vitimou a idosa Christina Kayser, 72 anos, no dia 9 de dezembro, infelizmente entra para as graves estatísticas do km 230 da BR-116, no bairro Travessão. Ela foi atingida por um motorista embriagado e segue internada praticamente um mês depois se recuperando dos ferimentos. O condutor foi indiciado por lesão corporal.

Mas desta vez a comunidade quer um basta, uma solução para o problema de décadas que cada vez se acentua mais. Diversos moradores já foram atropelados, teve mortes e sequelas irreversíveis.

De um lado há a imprudência dos motoristas que não respeitam a velocidade de 40 km/h. Do outro, a inércia das autoridades que, mesmo com tantos ocorridos, ainda não adotaram nenhuma medida para atenuar o risco. O trecho é de responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).

Acidentes acontecem no km 230 da rodovia, defronte à Igreja Católica (foto: Cleiton Zimer)

“Nos sentimos esquecidos”. Essa é a frase quase unânime dos moradores.

Os acidentes acontecem sempre no mesmo trecho, nas imediações da Igreja Católica. Além do templo há uma escola, geriatria, salão da comunidade, shopping e tantos outros pontos que fazem com que os moradores tenham que se deslocar o tempo todo de um lado para o outro na rodovia.

Atropelada e com sequelas até hoje

Nelsi (esquerda) sofreu diversas fraturas e nunca mais pôde ter uma vida normal. Elda, sua irmã, já não tem mais coragem de atravessar a BR nem para pegar ônibus (foto: Cleiton Zimer)

No dia 26 de julho de 2015, numa tarde fria de inverno, Nelsi Hepp, hoje com 79 anos, estava retornando para casa depois de visitar a vizinha.

Tinha neblina. Ela não viu nenhum carro e pensou que poderia ultrapassar. “Não vi ele, o motorista disse que também não me viu”, lembra. Ela foi atingida em cheio. Fraturou joelho, duas pernas e braço.

A idosa foi socorrida em estado grave permanecendo acamada por dois anos – sendo que durante quatro meses nem sequer podia se erguer. Ela, que era independente e até dirigia, passou a depender totalmente dos outros.

Depois de sair da cama ficou outros dois numa cadeira de rodas e, até hoje, só anda de muletas – com muito cuidado – fazendo acompanhamento direto com personal trainer. Na perna esquerda, que quase foi decepada, tem titânio.

O perigo não é somente para os moradores, mas também os outros que vem e precisam atravessar”, destaca Nelsi, pedindo por alguma intervenção imediata.

A irmã dela, Elda Hepp Robinson, 77, diz que o primeiro passo é implantar algo para reduzir a velocidade. “Uma passarela seria o ideal, mas sabemos que não é de hoje para amanhã. Porque é muito movimento. Em finais de semana é pior.”

Elda diz que tem muito medo. “Não atravesso mais a rua nem para pegar o ônibus do outro lado.”

“Até lá vai acontecer muita coisa ruim ainda”

Marcelo Parma mora no trecho há 50 anos, desde que nasceu. Ele escutou o estrondo do atropelamento de Christina em dezembro e foi correndo ajudar no socorro.

Nos últimos anos a BR ficou terrível, virou uma pista de competição. É moto, carro. Uma loucura isso daqui. Em domingos então quando acha que vai ter um sossego, que vai poder dormir um pouco mais, é seis horas e as motos potentes começam a passar dos 150 km/h.

Marcelo alerta que mais atropelamentos vão acontecer (foto: arquivo pessoal)

Ele também destaca que estão reivindicando uma passarela. “Sei que é complicado, vai anos. Até lá vai acontecer muita coisa ruim ainda, muito atropelamento.”

Mas diz que um redutor de velocidade já poderia ter sido instalado. Naquele ponto não tem nenhum. Um chegou a ser colocado no acesso à rua Alberto Rubenich – um quilômetro adiante, mas foi retirado. Tem outro no acesso a Ivoti. Deveria ter sido colocado aqui, não lá em baixo. Era a solução de imediato.

O morador tem a mãe idosa e conta que, aos domingos, ela gosta de ir na missa durante a manhã. “Ela só vai se estou em casa e atravesso ela; para ir nos vizinhos também.

Comunidade fez reivindicações na Câmara

A comunidade, logo após o recente ocorrido, esteve na Câmara de Vereadores pedindo por ajuda aos legisladores.

Essa passarela seria muito mais usada do que as que vemos por Novo Hamburgo. Aqui, quando tem velório, temos que parar a BR, deixar o povo atravessar porque o cemitério é na rua Pedro Enzweiler. Isso toda vez é um risco para todos”, disse a moradora Liane Ternus.

Prefeito diz que estão cobrando

De acordo com o prefeito Jerri Meneghetti a situação já vem sendo avaliada há muito tempo. “Solicitamos, na época, ao DNIT um controlador de velocidade, mas na última conversa nos informaram, informalmente, que havia uma dificuldade devido à proximidade com o outro existente no acesso de Ivoti.”

O prefeito disse que mais recentemente chegaram a pedir para que o redutor que estava na rua Alberto Rubenich [e que foi retirado] fosse deslocado. “Mas não fomos atendidos, provavelmente devido ao mesmo motivo.”

Jerri pontua que sempre que há a oportunidade levam essa demanda pedindo algum tipo de intervenção. “Da parte da Prefeitura, infelizmente não temos como executar obras de travessia pois o trecho está sob domínio do DNIT.”

O prefeito reforça que o DNIT já tem atendido diversas demandas, como dois acessos e o terceiro já iniciado. “Acredito que, em breve, tenhamos alguma ação naquele local.”

DNIT

Procurado pela reportagem diversas vezes, o DNIT não se manifestou sobre a situação.

Em recuperação

Christina, citada no início da matéria, foi transferida para o Hospital de Parobé que é referência em traumatologia. “Ela tem muitos traumas a serem tratados. Temos uma luta pela frente para reabilitar ela”, disse a filha Adriana.

Ela sofreu fraturas nas vértebras, bacia e escapula. “Ainda não caminha. Usa por duas horas um colete postural que tivemos que mandar fazer sob medida.

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