Região
Investigação que iniciou em Ivoti descobriu falsa psicóloga que atendia crianças e adolescentes na Capital e região metropolitana
Falsária tinha como prioridade atender crianças com algum grau de hiperatividade ou déficit de atenção
Por Geison Concencia
Ivoti – Em maio deste ano, a Polícia Civil de Ivoti deu início a uma investigação contra uma mulher identificada como Jessica Duarte Lara, de 33 anos, responsável por se passar por psicóloga sem possuir a devida formação; o mais grave é que ela atendia crianças e adolescentes, alguns deles com necessidades especiais que demandam cuidados diferenciados. Para simular legalidade na atuação, Jessica utilizava o registro profissional de uma psicóloga de Ivoti, sem o consentimento da verdadeira titular.
A falsa psicóloga, inclusive, forjou uma formatura, exibindo fotografias do tradicional “ensaio de toga” ― momento que antecede a colação de grau ―, sem jamais ter concluído o curso de Psicologia. Durante a operação, policiais encontraram agendas nas quais ela anotava metas de faturamento, estabelecendo como objetivo ganhar R$ 10 mil apenas neste mês.
O caso chegou ao conhecimento da Polícia Civil de Ivoti quando a profissional lesada percebeu que seu número de registro no Conselho Regional de Psicologia estava sendo utilizado por terceiros. Conforme detalha o delegado Fábio Motta Lopes, titular da delegacia de Ivoti, Jessica usava seu nome verdadeiro, porém vinculava-o ao registro da verdadeira psicóloga, criando a falsa aparência de legitimidade.
“A partir dessa comunicação de ocorrência, abrimos a investigação. Na manhã desta terça-feira, em parceria com a 3ª Delegacia de Polícia de Proteção à Criança e ao Adolescente ― que também conduz outro inquérito contra a suspeita ―, cumprimos mandados de busca e apreensão na residência e nos consultórios onde ela atendia em Porto Alegre e Canoas. Foi apreendida vasta documentação, essencial para responsabilizá-la pelos crimes de exercício ilegal da profissão e falsidade ideológica”, explicou Motta.
Os policiais civis recolheram receituários em que Jessica se apresentava como psicóloga, além de declarações, recibos e um carimbo confeccionado em nome da profissional de Ivoti. “Há uma série de documentos e objetos que demonstram, sem margem de dúvida, que ela atuava como psicóloga de crianças e adolescentes”, acrescenta o delegado.
“Aqui uma preocupação grande. Ela atendia crianças com problemas neurológicos e psicológicos de extrema gravidade. Situações que exigem atendimento adequado de um profissional capacitado. Mas eram crianças que estavam sendo atendidas por uma falsa profissional”.
Paralelamente à investigação de Ivoti, a suspeita é alvo de inquérito em Porto Alegre, cidade onde várias mães, ao descobrirem a fraude, compareceram à DPCA para denunciar o caso. “A tendência é que novos registros de ocorrência apareçam após a divulgação dos fatos. Orientamos pais e responsáveis que procurem a 3ª DPCA da Capital, local onde ocorreu a maior parte dos atendimentos”, reforça o delegado.
Como a psicóloga legítima descobriu a fraude
A profissional que teve seu registro usado sem autorização só tomou conhecimento do golpe depois que uma mãe ― cujo filho era atendido por Jessica ― solicitou documentos clínicos. A falsa psicóloga mostrou-se incomodada e, evasiva, não forneceu os papéis solicitados. Desconfiada, a mãe pesquisou o número do registro no site oficial do Conselho Regional de Psicologia e descobriu que pertencia a outra pessoa, residente em Ivoti. Na sequência, a verdadeira titular foi procurada e confirmou que desconhecia qualquer atuação em Porto Alegre, formalizando imediatamente a ocorrência na delegacia.
O delegado Fábio Motta Lopes faz um apelo para que possíveis vítimas se apresentem: “Quem foi atendido deve procurar as autoridades para registrar boletim de ocorrência. Filhos e filhas foram acompanhados por alguém não habilitado para esse tipo de trabalho, o que é extremamente preocupante. Muitas dessas crianças apresentam déficit de atenção e hiperatividade ― justamente o público-alvo prioritário da falsa psicóloga. É fundamental que procurem agora um profissional qualificado, garantindo tratamento correto e seguro”.






