Região
Lula descarta retaliação e conversa com Trump enquanto Rio Grande do Sul projeta perdas bilionárias
Por Geison Concencia
Em entrevista concedida à agência Reuters nesta terça-feira (6), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que não pretende retaliar os Estados Unidos pelas tarifas impostas a produtos brasileiros nem iniciar um diálogo direto com o presidente Donald Trump. Segundo Lula, procurar contato com o líder americano neste momento seria uma “humilhação” para o Brasil.
A declaração, feita no mesmo dia em que as novas tarifas entraram em vigor, revela negociações no âmbito do BRICS e medidas internas de apoio às empresas exportadoras. Entretanto, a decisão contrasta com a gravidade dos impactos já sentidos em estados exportadores, especialmente o Rio Grande do Sul, que projeta perdas superiores a US$ 1,6 bilhão em vendas anuais.
“No dia em que minha intuição me disser que Trump está disposto a conversar, eu não terei dúvida de ligar para ele. Mas hoje minha intuição diz que ele não quer conversar. E eu não vou me humilhar”, afirmou o presidente.
Estado cobra ações diante da crise
Enquanto o Planalto conversa com os EUA, o governo gaúcho intensifica a pressão por respostas. O governador Eduardo Leite esteve reunido nesta quarta-feira (6), em Brasília, com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, para tratar diretamente da crise comercial. No encontro, Leite entregou um ofício acompanhado de um relatório técnico elaborado pela Fiergs (Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul), detalhando os efeitos severos do tarifaço para a economia gaúcha.
De acordo com o documento, 85,7% das exportações do Estado para os Estados Unidos serão atingidas pelas tarifas, o que representa aproximadamente US$ 1,6 bilhão em perdas anuais. Estima-se que até 22 mil empregos estejam em risco entre os 143 mil trabalhadores das indústrias mais afetadas.
“É fundamental que o Brasil atue com pragmatismo nesta negociação. Precisamos deixar de lado discursos que só criam atritos e focar em resultados concretos, que protejam nossa indústria, os empregos e a competitividade do país no cenário internacional”, declarou o governador.
Os setores mais atingidos são:
produtos de metal (45,8% das exportações para os EUA);
máquinas e materiais elétricos (42,5%);
madeira (30,1%);
couro e calçados (19,4%);
e tabaco (8,9%).
Propostas emergenciais e sinais de Brasília
No ofício entregue ao governo federal, Leite manifestou apoio às propostas da Fiergs para mitigar os impactos da medida. Entre as sugestões, estão: ampliação do Reintegra (incentivo à exportação); reativação do Programa Seguro-Emprego; linhas emergenciais de crédito via BNDES; e prorrogação de regimes fiscais especiais.
“Estamos pedindo ao governo federal medidas semelhantes às adotadas durante a pandemia e as enchentes. Precisamos proteger setores estratégicos neste momento crítico”, destacou Leite.
O governador também afirmou que recebeu de Alckmin a sinalização de que o governo federal trabalha em um pacote de apoio às empresas impactadas, incluindo tratativas com autoridades americanas para buscar exceções às tarifas. “Esperamos que essas medidas venham logo, com foco na manutenção de empregos”, concluiu.
A reunião contou com a presença do chefe de gabinete do governador, Euclides Neto, e da secretária de Relações Institucionais, Paula Mascarenhas.
