Região
Marcas no asfalto e relatos contradizem versão da suposta condutora de Mercedes-Benz que matou motociclista na BR-116

Por Geison Concencia
Estância Velha – A morte da motociclista Karine Louise Friedrich, de 43 anos, na madrugada da Sexta-feira Santa (18), no km 231 da BR-116, entre Estância Velha e Ivoti, trouxe à tona uma série de contradições que desafiam a versão apresentada por uma das ocupantes do carro envolvido no acidente. Segundo a PRF, a Mercedes-Benz GLA 250 branca que colidiu com a moto da vítima invadiu a pista contrária em um trecho sinuoso conhecido como curva da pedreira.
Relatos de testemunhas, laudos preliminares e fotos registradas pela reportagem no local indicam que o carro trafegava em alta velocidade e cruzou a faixa central. As marcas de frenagem no asfalto mostram nitidamente o rastro deixado pela Mercedes invadindo a contramão, o que contradiz a fala da mulher que se apresentou como condutora do carro após o acidente.
A enfermeira de 44 anos, moradora de Lindolfo Collor, afirmou que viu apenas “um clarão” vindo em sua direção e sugeriu que a motociclista pudesse estar em alta velocidade ou até embriagada. “Tenho certeza de que ela também não estava devagar. Ela veio para cima”, declarou. Contudo, nenhuma das suposições é sustentada por evidência visual. Pelo contrário, os indícios reforçam que Karine trafegava com o farol aceso e em velocidade compatível com o trecho.
A motocicleta Yamaha Fazer vermelha pegou fogo após o impacto, e Karine morreu na hora. A Mercedes estava com o licenciamento vencido, e um dos ocupantes — um médico de 48 anos — tinha a carteira de habilitação suspensa.
“Ela não respirava mais. O tórax estava exposto”
Alã de Britto estava entre as primeiras pessoas no chegar no local da colisão. Ele participava da tradicional caminhada ao Santuário do Padre Reus com um grupo de amigos e viu o carro passar pouco antes da batida.
“Estávamos perto da boate Kilômetro. A Mercedes passou por nós a mais de 100 km/h, com um farol queimado. Nos assustamos porque passou muito rápido, diferente dos outros veículos naquela noite. Segundos depois, ouvimos o estrondo da colisão e a explosão”, contou.
Alã correu para tentar socorrer Karine. “A moto pegava fogo. A moça estava caída, sem se mexer. O tórax dela estava exposto, não se movimentava. Tentei conferir pulsação, mas ela já estava sem vida”, relatou.
Sobre quem dirigia a Mercedes, Alã disse que não consegue afirmar. “Quando cheguei, o pessoal comentava que a mulher teria saído do banco do motorista. Mas eu não vi quem saiu. Só vi ela já fora do carro.”
“Ela também não estava devagar”, diz mulher que assumiu a direção
A mulher que se apresentou como condutora do carro após o acidente, uma enfermeira de 44 anos, moradora de Lindolfo Collor, afirmou que não viu a moto até o momento do impacto.
“Vi só um clarão vindo na minha direção”, disse em entrevista. Ela alegou que a motociclista poderia estar em alta velocidade ou até embriagada: “Tenho certeza de que ela também não estava devagar. Ela veio para cima. Tinha muito movimento. Não tinha como estar muito rápido. Não Lembro minha velocidade”, diz enfermeira.
Questionada sobre as marcas no asfalto, que mostram que o carro invadiu a pista contrária, a mulher disse não se lembrar do momento da batida. Também afirmou que não foi retirada por resgate oficial, mas sim por populares.
“Minha porta foi aberta por populares. A PRF chegou depois. Fui para o hospital com dor no tórax. O médico de plantão disse que não precisava fazer exame de sangue”, afirmou.
Fatos contradizem versão da condutora
Na foto, é possível verificar a trajetória do carro através das marcas de pneu
As declarações da enfermeira contrastam com os registros feitos no local e com a análise preliminar da PRF. As fotos tiradas pela reportagem logo após o acidente mostram com clareza as marcas de frenagem no asfalto e o deslocamento lateral do veículo, comprovando que a Mercedes atravessou a faixa de rolamento em direção à pista contrária, atingindo frontalmente a motocicleta.
Segundo testemunhas, a motociclista trafegava com o farol aceso e em velocidade compatível com o trecho.
A suposição feita pela suposta condutora, de que a vítima “veio para cima” ou poderia estar embriagada, não encontra amparo técnico ou visual nas evidências levantadas até o momento. Pelo contrário: os indícios reforçam que a moto estava na mão correta e que o carro invadiu a faixa contrária por excesso de velocidade.
Histórico do médico levanta suspeitas
O homem que estava no carro, de 48 anos, é médico e possui um histórico preocupante de infrações de trânsito: em agosto de 2023, teve a carteira suspensa após colidir com dois carros estacionados. Na ocasião, recusou-se a fazer o teste do bafômetro; em outubro do mesmo ano, o mesmo carro se envolveu em novo acidente em Lindolfo Collor; em 2019, foi flagrado por câmeras fugindo de uma batida com vítima em São Leopoldo, sem prestar socorro.
Apesar da mulher afirmar que ele era apenas passageiro na noite do acidente, o histórico dele, a recusa em fazer o teste do etilômetro e as contradições sobre quem estava dirigindo lançam dúvidas sobre a real dinâmica.
Polícia segue investigando
A PRF confirmou que o veículo trafegava no sentido Capital–interior e invadiu a pista contrária. O local da colisão foi periciado. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil.
“Fui lá achando que podia salvá-la”
Alã de Britto ainda se emociona ao lembrar da cena. “Fui com a intenção de salvar. Já fiz curso de primeiros socorros, mas quando vi que ela não respirava, tentei me manter calmo. Me marcou muito.”
Para ele, não resta dúvida sobre quem causou a tragédia. “A mulher disse que foi a moto que veio para cima. Mas eu vi eles passarem voando. Não tem como a culpa ser da motociclista. Só quero que se faça justiça.”
Karine Luise Friedrich voltava de um trabalho realizado em Ivoti