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Região

Ministério Público denuncia irmão e matador pela morte da professora aposentada em Lindolfo Collor

02/12/2023 - 09h50min

Lindolfo Collor/Ivoti – Passaram-se pouco mais de seis meses desde que o Diário revelou, com exclusividade, o surpreendente indiciamento de Reinoldo Jacó Schneider, pela Polícia Civil de Ivoti, como mandante do assassinato da própria irmã, Maria Soli Schneider. A professora aposentada foi morta brutalmente a tiros pelo também indiciado, Adelino José Kehl, no dia 30 de dezembro de 2021.

Desde então, por mais de cinco meses, o caso esteve com o Ministério Público, através da Promotoria de Ivoti. Em um de seus últimos atos como promotora ivotiense, Cristine Zottmann – que recentemente recebeu uma promoção e deixou o município – ofereceu a denúncia à Justiça. Em 31 de outubro, a juíza da Comarca de Ivoti, Caroline Zanotelli, recebeu a denúncia e deu início ao processo.

Com isso, foi feita a citação dos acusados para responder à acusação, por escrito, e por meio de advogado, no prazo de 10 dias, contados a partir da intimação. Assim, inicialmente, ambos terão o tempo de constituir defesa ou receber um defensor público para o andamento do processo judicial.

De acordo com o promotor do Ministério Público de Dois Irmãos e que também está respondendo pela promotoria de Ivoti, Wilson Grezzana, os dois foram denunciados por homicídio qualificado.

Entre as qualificadoras apresentadas estão motivo torpe, devido ao crime ter sido cometido por razão patrimonial, e a utilização de recurso que impossibilitou a defesa, já que a professora foi atingida por tiros dados pelas costas.

IRMÃO E ATIRADOR TINHAM RELAÇÃO ANTIGA

Em um tempo em que raros eram os crimes na região e, consequentemente, haviam poucos policiais, Reinoldo Jacó Schneider era um dos mais conhecidos por defender a comunidade da criminalidade. Desde pequeno morador da Encosta da Serra, trabalhou por aqui quando entrou para a Brigada Militar, há aproximadamente quatro décadas.

Tido como um homem de bem, simpático e bem-visto pelos moradores mais antigos, após meses de investigação, ficou identificado o papel de Jacó como mandante da morte de Soli.

Assim como Jacó, Adelino Fortuna Kehl, que reside em Novo Hamburgo, também ingressou na Brigada Militar há mais de quatro décadas. Foi na academia de polícia que os dois se conheceram e fizeram uma amizade que, depois de muitos anos sem contato, foi retomada meses antes do assassinato.

A trajetória dos dois, porém, viria a ser diferente logo após terem se conhecido. Ao contrário do amigo Jacó, Adelino não chegou a se tornar – efetivamente – policial. Foi expulso da BM ainda durante a academia e acabou parando do lado oposto à lei: se tornou criminoso. Tem diversos antecedentes e prisões por roubo, além de crimes como porte ilegal de arma e receptação.

MOTIVAÇÃO

De acordo com a investigação, Jacó encomendou a morte de Soli por motivos patrimoniais. Os dois não tinham uma relação próxima e, ao longo dos anos, pode-se dizer que esta relação havia evoluído para uma rixa.

Entre os motivos da desavença estava a divisão de terra na propriedade da família. Sem entendimento com o irmão, meses antes de ser assassinada, Soli construiu uma cerca em volta de sua residência. E a instalação foi um dos pivôs da sua injustificável morte.

ADELINO CONFIRMOU SER O MOTORISTA

Foram mais de 450 dias de investigação. O trabalho da polícia foi marcado por importantes descobertas e obstáculos legais, que surgiram ao longo dos meses. Durante este período, os investigadores conseguiram chegar em Adelino como principal suspeito de ter atirado e matado a professora.

Ele chegou a ser ouvido pelos investigadores. Em depoimento, confirmou ser proprietário do Volkswagen Gol, flagrado por câmeras e reconhecido por testemunhas nas imediações do local.

Adelino confirmou, inclusive, ser ele o motorista do carro, porém se manteve em silêncio no decorrer da oitiva. Não disse o que foi fazer na localidade, tampouco admitiu a autoria do crime. Nas filmagens, a polícia conseguiu verificar que foi o único Gol branco a passar por lá naquele dia.

Com a quebra do sigilo telefônico, foram identificadas, somente entre 1º de dezembro de 2021 e 1º de janeiro de 2022, 36 ligações entre Adelino e Jacó. Uma delas cerca de três horas antes do homicídio, que ocorreu por volta do meio-dia. A Polícia Civil chegou a pedir as ligações de ambos em um período maior, mas as operadoras nunca não retornaram.

Embora tenha tentado despistar a polícia nos primeiros depoimentos afirmando desconhecer Jacó, diante das ligações telefônicas entre os dois em poder da polícia, confirmou que eles chegaram a almoçar juntos e a se encontrar.

PEDIDOS DE PRISÕES FORAM NEGADOS

Com base nas provas, a Polícia Civil solicitou em duas oportunidades a prisão preventiva dos suspeitos. Os pedidos receberam parecer favorável da então promotora Cristine Zottmann, mas não foram aceitos pela ex-juíza da Comarca de Ivoti, Larissa de Moraes Morais.

Houve um pedido de reconsideração depois da última negativa, já durante as férias da magistrada, mas também acabou negado pelo então juiz substituto, Miguel Carpi Nejar, lotado em Dois Irmãos, que optou por respeitar e manter a decisão da colega. Desta forma, tanto Jacó quanto Adelino seguem soltos enquanto, agora, começa a caminhar o processo.

SOLI FOI MORTA COM TRÊS TIROS

O resultado das apurações levantadas pelo Instituto Geral de Perícias (IGP), aponta que Soli foi atingida por três tiros dados pelas costas. Dois dos disparos atingiram sua cabeça, entrando pela parte de trás, em um ângulo levemente superior à altura dela. Uma das balas acabou saindo pelo supercílio esquerdo.

Já o terceiro tiro entrou pela região lombar inferior, abaixo das costelas, atingiu os dois pulmões, o coração e se alojou na clavícula direita. Possivelmente, pela trajetória do tiro, a vítima já estava no chão no momento do disparo.

Ao lado do corpo, havia uma caixa para a colocação de ovos, fato que corrobora para as provas de premeditação. No dia anterior, o motorista do mesmo carro usado para a morte da professora foi até Soli com pretexto de comprar ovos. Tudo indica que esta foi a tática que encontrou para se aproximar e, em seguida, matá-la.

JACÓ “CONFESSOU” O CRIME AO DIÁRIO

Outro elemento que também demonstra a frieza na participação de Jacó é uma entrevista concedida ao Diário durante os ritos funerários do irmã. Entre outras coisas, ele afirma que, por “sua experiência”, o crime havia sido uma execução. Além disso, de forma espontânea, revela que o motivo poderia ser a construção da cerca por parte de Soli, fato, que mais tarde, a investigação viria a mostrar que foi o pivô do crime.

QUEM FOI MARIA SOLI

Maria Soli Schneider, morta aos 61 anos, foi professora por muitos anos, lecionando em diversas escolas de Ivoti, São José do Hortêncio e Presidente Lucena. Nascida em 15 de março de 1960, ela era a mais nova de quatro irmãos, era solteira, não tinha filhos e não colecionava inimigos.

Entre os familiares, tinha uma relação mais próxima, de muita amizade, com uma das irmãs, que reside na Espanha, com quem conversava diariamente. Mantinha contato frequente, também, com a outra irmã mulher, que mora em Lindolfo Collor.

Na comunidade, era querida e admirada por todos. Muitos dos seus antigos alunos mantiveram a amizade até o final de sua vida. Soli era convidada para formaturas e festas de casamento. Pouco antes de ser assassinada, também havia aceitado o convite para ser madrinha de uma criança vizinha, porém acabou morta antes do batizado. Religiosa, costumava frequentar missas e vivia pacificamente.

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