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Morando sozinha aos 89 anos – e sem perder um baile – Lori Arnecke, de Dois Irmãos, aproveita o melhor da vida
Por Nicole Pandolfo
Dois Irmãos – Com o chimarrão pronto, dona Lori Arnecke recebeu a reportagem do Diário na cozinha de sua casa. Fazia frio e o fogão a lenha aquecia o ambiente e a comida que, mais tarde, ela finalizaria para o almoço com a família. Aos 89 anos ela mora sozinha, mas dificilmente se sente só. A família mora logo ao lado e não gosta de deixá-la sem alguém por perto. Não que ela precise estar acompanhada, muito pelo contrário. A lucidez e saúde, à beira dos 90, impressionam até o médico: “Ele me disse: ‘Como a senhora, são poucos!’”, reproduz orgulhosa o que ouviu em uma consulta.
O segredo da vitalidade
A vitalidade de Lori pode ser explicada com uma receita simples: estar ativa socialmente. “Enquanto as pernas e o corpo ajudam, eu não fico em casa!” Integrante do Clube Reviver, dificilmente perde um baile: “É só o que falta!”, braveja, indignada com a ideia de faltar a uma festa. E o melhor disso tudo, segundo ela, é conhecer pessoas.
Uma vida de muito trabalho
“Eu não posso me queixar de nada”, diz dona Lori. Mas quem vê a disposição e bom humor de hoje, não imagina que essa paz foi conquistada a um custo bem caro. Lori é natural de Nova Hartz, mas mudou-se com a família para Frankenthal, em Morro Reuter, ainda criança. Trabalhou na roça e cuidou dos irmãos até os 16 anos de idade: “Era na serra, era no arado, era fazer carvão…”, ela descreve sua infância e início da adolescência.
Aos 17, ela e a família mudaram-se para Dois Irmãos e a jovem passou a trabalhar fazendo faxina. Aos 21, quando casou, Lori já trabalhava numa fábrica de calçados, ramo em que permaneceu até a aposentadoria, aos 62 anos. Se gostava do que fazia? “Claro!”, ela afirma. Foi o emprego na indústria e as faxinas aos finais de semana que deram condições para sustentar os filhos de 7 e 16 anos quando ficou viúva aos 39. A perda do marido deixou um vazio que ela não permitiria ser preenchido por mais ninguém: “Eu sempre disse: não quero outro porque igual ele eu não vou receber.”
“A minha vida tem que continuar”
E as perdas na vida de Lori representariam ainda muito mais ao longo do tempo. Há 5 anos, um câncer levou seu filho mais novo. Segundo ela, uma mãe não deveria enterrar um filho, não é natural. “Eu já passei por muita coisa na minha vida, por isso eu não me entrego e não vou me entregar tão fácil”, ela diz. Determinada em aproveitar a vida, dona Lori prende-se às bênçãos que já recebeu e, apesar de tudo, recusa-se a lamentar: “Por isso eu não fico em casa, a minha vida tem que continuar.”