Região
Morro Reuter 32 anos – Independência e agilidade que inspiram
Aos 80 anos, Cladis Lourdes Lehnen Wittmann administra as suas 5 Lojas Lewi
Por Nicole Pandolfo
Ouvir a história de Cladis Lourdes Lehnen Wittmann é um privilégio de quem conseguiu um espaço na agenda apertada da senhora de 80 anos. Afinal, ela administra 5 lojas espalhadas em Morro Reuter, Dois Irmãos e Picada Café. A primeira, aberta no dia 17 de março de 1976, é a mais antiga da cidade do Morro.
Mas para entender de onde vem a energia, agilidade e inteligência para negócios da dona Cladis, é preciso voltar para a Picada Café dos anos 1950, quando Aloísio Lehnen, seu pai, construiu com as próprias mãos uma pequena fábrica de calçados. Foi daí que a família tirou grande parte do sustento que garantiria, conforme o desejo do seu Aloísio, o estudo indispensável dos filhos, mesmo que, para isso, eles precisassem ficar longe de casa.
Do primeiro internato, em Joaneta, dona Cladis fala que a saudades de casa era grande, apesar da pouca distância: “Do último andar, onde era o nosso dormitório, eu via a minha mãe tratando os animais no potreiro”, ela conta. Mas foi em Novo Hamburgo, depois de 11 anos em um internato, que Cladis concluiu os seus estudos.
O início do empreendimento
Ela não aprendeu contabilidade, como sonhava o seu Aloísio, para ajudar nos negócios da fábrica. Em vez disso, tornou-se professora do primário, antes na localidade de 4 Cantos, depois, quando já era casada, na Escola Estadual João Wagner, em Morro Reuter, muito próximo de onde ela passou a morar.
Em um determinado verão, o irmão mais novo, Romeu Wittmann, deu a ideia abrir uma rede de lojas: “Eu não queria abrir, não tinha dinheiro, já tinha dois filhos”, conta Cladis que, mesmo relutante no início, cedeu à ideia do irmão que, anos mais tarde, fundaria a marca de calçados Dakota.
A loja foi aberta na garagem de casa, local onde hoje funciona o depósito de calçados do espaço que já triplicou de tamanho depois de várias reformas. Em uma sociedade com irmão, Cladis administrava a loja no turno contrário ao que lecionava na escola João Vagner. “Financeiramente era bom, por que o prédio era meu. Eu sempre fui muito econômica, não tirava quase nada de roupa da loja e, se tirava, era o mais barato”, ela conta.
“Eles queriam roubar”
Mais ou menos 4 anos após a abertura, a loja Lewi, já bem estabelecida, sofreu um incêndio criminoso: “Eu vim da praia pra fazer compras, vi muito carro parado na rua, aí vi que tinha pego fogo. Eu chorei muito, mas não podia parar.” Cladis acredita que o incêndio tenha sido originado de uma vela que os assaltantes usaram no momento do crime: “Eles queriam roubar. Eu acho que eles acenderam vela e tinha muito vento naquela noite.” Todas as mercadorias foram danificadas pelo fogo, além de uma parte da casa. Com o dinheiro do seguro, dona Cladis reconstruiu a loja, inclusive ampliando-a. “Meu marido disse: ‘quando tu encheres essa parte toda, aí tu podes parar de trabalhar.’ Nossa, hoje eu já comprei uma parte nos fundos, o terreno do vizinho, e ainda é pequeno!”, conta a incansável empreendedora.
Carinho pelos funcionários e o controle da qualidade
Segundo Cladis, boa parte do sucesso das Lojas Lewi se deve aos funcionários que trabalharam com ela ao longo dos anos: “Eu tenho ótimos funcionários. Eu consegui tudo o que eu tenho hoje pela ajuda dos meus funcionários.” Ela cita nomes de vendedores e auxiliares com o carinho de uma mãe que se preocupa com a saúde e o estudo dos filhos. Além disso, a qualidade da mercadoria que ela vende está relacionada com o seu modo de comprá-las: “Eu compro com as mãos, eu preciso tocar na mercadoria.” E dona Cladis se encarrega do serviço até hoje. Em São Paulo, para onde viaja seguidamente, diz que os lojistas já conhecem o seu ritmo acelerado durante as compras: “Quando chega 16h eu tô cansada de tanto falar!”
Planejamento
Quando perguntada a respeito da sua independência e agilidade, Cladis acha que herdou dos pais: “Não sei, meu pai era assim. A minha mãe era muito trabalhadora.” Até sobre seu futuro, organização e planejamento da empresária falam mais alto. Dona Cladis explica decidida: “Olha, eu já disse pra todo mundo: Quando eu morrer, vendam todas as lojas”, diz ela lembrando dos investimentos que ela juntou ao longo da vida, pensando em cada um dos 4 filhos.