Região

Morro Reuter 32 anos – Num tempo em que tudo era São Leopoldo

20/03/2024 - 10h25min

Atualizada em 21/03/2024 - 10h44min

“Minha meta é chegar nos 100”, diz seu Querino que, aos 87, conserva lucidez e disposição: “O segredo é que tu nunca pode parar.” (Foto: Nicole Pandolfo)

Roque Querino Klauck compartilhou alguma das suas lembranças sobre as proximidades da localidade de Cristo Rei

Por Nicole Pandolfo

Muito antes de Morro Reuter existir, colonizadores alemães chegaram em São Leopoldo e de lá foram encaminhados às terras que lhes haviam sido designadas. A uma determinada família, os Klauck, coube se instalar e cultivar o terreno em uma região próxima de onde hoje se encontra a localidade de Cristo Rei.

Eu nasci onde agora chamam de bairro Canelinha, mas o certo seria “4 Cantos”, em Picada Café, encostado de Cristo Rei. Na época era São Leopoldo”, conta Roque Querino Klauck, cujo bisavô instalou-se na região com mulher e filhos por volta dos anos 1860/70.

Durante as divisões de terras distribuídas entre os imigrantes alemães, medições foram feitas partindo de São Leopoldo e outras de Caxias do Sul: “Chegaram lá na divisa de Joaneta, em Picada Café, e sobrou um pedaço, não deu um lote inteiro. Então chamaram de “4 cantos”, era o “Viereck”, quadrado em alemão”, conta seu Querino, resgatando uma entre as suas inúmeras memórias de um lúcido senhor de 87 anos que viu e participou ativamente do crescimento da região.

Cruzada Eucarística

Seu Querino, que um dia quis ser padre, teve que interromper os estudos no Seminário São José, em Gravataí, por causa de um problema no pulmão aos 17 anos. De volta para casa, aceitou o convite do professor e padrinho Edvino Utzig para assumir a escola paroquial de Picada São Paulo. Querino trabalhou lá até 1962, quando a escola fechou, influenciada pelo surgimento de uma “brizoleta” – como eram conhecidas as escolas erguidas pelo governo de Leonel Brizola: “Eu reunia as crianças na Cruzada Eucarística”, conta. Por um tempo, seu Querino lecionou nas duas instituições: de manhã na escola paroquial e de tarde na brizoleta.

O então professor Querino observa os alunos que brincam ao lado de uma “brizoleta”

Apesar do carinho que tinha pelos alunos e pela educação, ser professor naquela época não era garantia de um futuro financeiramente saudável, por isso Querino desistiu da docência e dedicou-se a comercializar o que se produzia na região. A vazão dos produtos da roça acontecia pela estrada que interligava as cidades da região: “A estrada principal passava pela Gregórius e ia até Caxias do Sul, passava por Jammerthal, Pinhal Alto e ia adiante. Em muitos trechos, só passava carroça e cavalo, carro não passava”, ele conta.

Mas onde a sua Chevrolet 46 e, mais tarde, seu caminhão F6 tivessem passagem, ele circulava. Seu Querino comprava verduras e banana dos colonos e vendia em São Leopoldo e Novo Hamburgo, e foi numa dessas viagens que a história da origem de um apelido curioso da sua região chegou até ele.

Na época, Cristo Rei não existia, chamavam de Periquita Eck”

Numa de suas viagens a Novo Hamburgo, Querino parou em uma lancheria perto da antiga rodoviária para descarregar mercadoria. “Veio um senhor bem idoso, viu a placa de Dois Irmãos e perguntou: ‘de onde o senhor é?’” Ao que o comerciante respondeu: “de Periquita Eck”, como era, e ainda é, por muitos, conhecida a localidade de Cristo Rei.

Ao ouvir o local de origem de Querino, o senhor se identificou como Albino Sperb: “Eu tinha ouvido falar muito nele, ele tinha o armazém mais forte de Morro Reuter, então nos domingos de manhã, quando tinha missa, os colonos aproveitavam e faziam as compras no armazém”, lembrou Querino. Seu Albino Sperb contou que, num certo domingo de manhã, dois senhores, criadores de porcos da região de Cristo Rei, fizeram suas compras e, na hora do pagamento, um deles apresentou uma nota de 500 cruzeiros, ou 500 mil réis. Sobre a moeda em circulação na época, não se tem certeza, mas certo era que a cédula continha uma ave, um “periquito”.

Veio o segundo colono pagar e também apresentou um periquito”. A nota tinha grande valor, o que dificultava o troco e irritou o dono do comércio. “De onde são esses senhores?”, perguntaram a Albino, que, conforme relatou ao seu Querino, respondeu com pouca paciência: “São lá do periquita, que só tem periquita no bolso!”

O nome pegou! “Periquita”, das cédulas que circulavam entre os criadores de porcos da região, “Eck”, do alemão “canto”, localidade.

Registro de criação de porcos na região de Cristo Rei

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