Região
Morro Reuter 32 anos – O encanto do Morro
Quem vem quer ficar, quem é daqui não quer sair
Por Nicole Pandolfo
Num passeio pelo centro da cidade, com o olhar observador de quem não é de lá, Morro Reuter se apresenta de uma maneira encantadora. Ao deixar a BR 116 e cruzar o pórtico, a rua de paralelepípedos ajuda a compor o cenário interiorano e calmo, em qualquer dia da semana. Tudo é limpo e organizado e os morros abraçam, tão próximos que os desacostumados podem querer esticar as mãos na expectativa de tocá-los.
Não temos dados precisos, mas abordando pessoas que transitam pela cidade, é fácil constatar que, dos 6029 moradores registrados pelo IBGE no último censo em 2022, a parcela de novos habitantes é considerável e vem aumentando. Alguns buscam tranquilidade, outros, qualidade de vida. Certo é que pandemia contribuiu para aumentar a busca por estas características e a viabilidade do trabalho em home office fez de Morro Reuter, assim como outras cidades do interior, a opção de moradia perfeita.
Da água pro vinho
Era uma terça-feira quente e nublada, quando encontramos Jaqueline Azevedo, 57 anos, cuidando das plantas em um terreno na esquina da Travessa Piratini. Paramos para conversar.
Depois de 10 anos morando em Brasília, Jaqueline se aposentou e resolveu voltar para o Rio Grande do Sul: “A ideia era morar numa cidadezinha assim, minúscula. Vendi o carro lá, peguei minha mãe que morava em São Leopoldo com a minha irmã e vim pra cá. Cheguei aqui dia 19 de janeiro de 2020 e a pandemia chegou em março”, recorda Jaqueline que, como ela mesmo diz, mudou da água para o vinho. Acostumada com o movimento da cidade grande, teve que se adaptar ao interior numa época em que visitas e qualquer contato eram desaconselhados.
“Em todos os lugares que eu morei, eu fazia parte de trabalhos voluntários”, contou Jaqueline. “Então a minha ideia era chegar aqui e já começar a conhecer pessoas fazendo trabalho voluntário. Eu me inscrevi no mutirão da prefeitura que arruma jardins, praças e ginásios e fui uma vez só, dia 15 de março. A pandemia chegou dia 20 de março.”
Ela conta que a mãe, idosa, demorou um pouco para se acostumar à cidade nova. “A mãe levou um tempo para se entrosar, mas agora faz parte de um grupo de artistas que se encontra na biblioteca toas as segundas, que faz um trabalho de decorar as praças, paradas de ônibus.”
Jaqueline percebe que o movimento na cidade tem aumentado desde o fim da pandemia: “Aqui, antigamente as pessoas falavam em veranista, tinha uma casinha que vinha no final de semana, com família, filhos. E agora muitos usam a casa pra trabalhar.”
“Eu adoro olhar os morros”
Ana Marlene da Silva Vieira, 64 anos, passava pela Praça Municipal José Paula Sabá Meyrer com o passo apressado de quem estava preocupada com as janelas abertas de casa. Mesmo com o tempo anunciando um temporal, parou para conversar conosco. Ela veio de Serro Largo, próximo da fronteira com a Argentina: “Minha filha mora há 17 anos aqui, a outra está aqui há 4 anos. Vim passear, gostei e resolvi ficar.” Ela ainda não fez muitas amizades, mas gosta de vir até a praça para brincar com os netos, quando também aproveita para conhecer os vizinhos do centro: “O pessoal é fechado, mas a gente tem que pegar e conversar, aí eles se soltam”, ela explica. Fora a dificuldade do primeiro contato, Ana tem só elogios à cidade que escolheu para morar: “Tudo é muito bom, é outra vida, eu adoro olhar os morros. O clima é muito bom, maravilhoso à tardinha. Eu adoro o frio e lá pra campanha é muito quente.”
Ana destaca as atrações do município: “Segunda vez que eu vou ver a Festa da Lavanda. A Feira do Livro foi muito, muito lindo! Fica a meia quadra da minha casa, a gente descia pra ver os shows!”
Um lugar silencioso
“Não me acostumaria morando em outro lugar”, disse Sophia Taschetto, de 15 anos, escorada na parada de ônibus. Era quase meio dia e ela aguardava o transporte para Dois Irmãos, onde ela trabalha em um supermercado à tarde, depois da escola. “Se eu morasse em Dois Irmãos, não ia gostar, porque eu gosto de lugar silencioso. Eu moro na Linha Görgen, lá não se escuta nada. Eu gosto de cidade mais silenciosa.”
Sophia vem de uma família de agricultores e, apesar da pouca idade, já traçou os planos, com detalhes, para o seu futuro profissional: “ Eu estudo e quero trazer o melhor em forma de estudo. Meu tio tira leite e eu tenho outro tio que mora na Alemanha e trabalha com trator, fazenda. Com 18 anos eu vou morar lá”, ela conta, explicando que quer trazer o conhecimento que adquirir fora para aplicar na sua região.