Região

Dois Irmãos – 66 anos: Patrimônio Histórico preserva a memória da colonização alemã

17/09/2025 - 11h10min

Atualizada em 23/09/2025 - 07h05min

A Ponte de Pedra sobre o Arroio Feitoria foi construída em 1855

Você conhece os imóveis tombados da nossa cidade?

Por Leonardo Boufleur

No coração do Vale dos Sinos, a cidade de Dois Irmãos se destaca como um verdadeiro museu a céu aberto da colonização alemã no Rio Grande do Sul. Com um expressivo acervo de 24 bens tombados catalogados oficialmente pelo município, a cidade preserva de forma exemplar a memória arquitetônica e cultural de comunidades teuto-brasileiras, desde casas até cemitérios.

Museu Histórico: a Casa Kieling foi habitada pela família desde 1893 até virar museu

Inventário completo do patrimônio local

O acervo de bens tombados de Dois Irmãos revela a diversidade arquitetônica e cultural dos povos germânicos que colonizaram a região da antiga Colônia de São Leopoldo. Entre as residências históricas destacam-se a Casa Família Engelmann, que por muitos anos foi um armazém de secos e molhados; a Casa Auler, chama a atenção pelos arcos plenos das janelas; e a Casa Dienstmann, por estar mais alta que o nível da rua, marca as mudanças que vieram com o tempo, pois a Avenida São Miguel passou por rebaixamento.

A Casa Soine e a Casa Konrath complementam este conjunto residencial, enquanto o Museu Histórico Municipal funciona como centro de preservação e divulgação da memória local, abrigando importante acervo documental e material da colonização, além de ser um exemplar arquitetônico característico da colonização germânica, por ter sido construído com base na técnica enxaimel.

O Antigo Armazém Schmitt representa a atividade comercial que sustentou a economia local, recebiam seus clientes vindos a cavalo do interior, possuíam linha própria de telefone e o prédio sobreviveu a um incêndio que atingiu parte da propriedade na década de 1980.

A Casa Saueressig é uma residência de amplo espaço, composta por porão, térreo e sótão, que possibilitava seu uso para além da moradia, tornando-se também um local de convivência e celebração dos familiares durante o Kerb de São Miguel.   Quando se fala de Kerb e festas o Armazém e a Casa Sander são a maior representação, em nível nacional, afinal no ano de 1948 a Revista O Cruzeiro mandou repórteres para cobrir as comemorações do Kerb de São Miguel, que atualmente é o maior Kerb de rua do Brasil e já está na sua 196ª edição.

A Casa Kolling 01, que possui dois andares, desde sua construção teve função comercial e residencial, o andar inferior já foi estrebaria e também escritório da CRT (Companhia Riograndense de Telecomunicações).

A Casa Kolling 02, que hoje faz parte do São Miguel Center, foi o lar de uma família de agricultores, que possuía em sua propriedade parreiras e cultivava diversos legumes.

A Casa Família Wendling preserva na parte inferior as salas que serviam de ambulatório e clínica para o Gabinete Dentário de Erni H. Liesenfeld, conforme anúncio no Jornal Correio de São Leopoldo de 1939.

 

O Patrimônio Religioso de Dois Irmãos

As Igrejas Luteranas se destacam na paisagem da Avenida São Miguel. A Casa Pastoral Luterana, Igreja IELB (Igreja Evangélica Luterana do Brasil) e a Escola Paroquial, representam um marco de divisão entre as comunidades protestantes na cidade, pois o Cemitério e a Igreja IECLB (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil), entre o período de 1907 e 1938 eram divididos entre os dois grupos religiosos. A situação só veio a mudar com o início da construção da Igreja IELB no ano de 1937. Dentre os bens religiosos há ainda a Casa Pastoral da IECLB, outro exemplar de casa construída com técnica enxaimel.

Igreja Matriz de São Miguel, construída entre 1868 e 1880 em estilo neogótico, representa o marco mais significativo para o início do tombamento de bens na cidade, por quase ter sido derrubada e impedida em virtude da movimentação da própria comunidade, que viu na preservação uma forma de manter viva as memórias.

O Cemitério Evangélico completa conjunto patrimonial, representando as tradições funerárias, além de seu estilo gótico único representado em suas lápides, que o diferencia dos demais.

Patrimônio Educacional e Cultural

Além da Escola Paroquial, parte do conjunto de bens da Igreja IELB, há o Colégio Imaculada Conceição, liderado desde seu início pelas irmãs da Congregação do Imaculado Coração de Maria para atender a comunidade católica local. A Casa Professor Matheus Grimm honra a memória de importante educador local, que foi responsável por desenvolver livros para auxiliar os alunos nos estudos.

Marcos da Engenharia e Infraestrutura

O Moinho Collet traz em suas paredes histórias de famílias trabalhadoras, Blauth e Collet, que se destacaram na produção em larga escala de farinhas e óleo de amendoim que abasteciam desde a comunidade local até cidades grandes como São Leopoldo e Porto Alegre.

A Ponte de Pedra sobre o Arroio Feitoria, construída em 1855, foi uma importante ligação entre o Travessão Rübenich e a picada Dois Irmãos. A obra, essencial para o transporte da produção do Moinho, teve como responsável Jacob Blauth, dono do moinho.

A Serraria Becker evidencia a importância da atividade da marcenaria, fundamental para o desenvolvimento da região, principalmente na fabricação de rodas de carroças, se destaca pela serra movida a força produzida por uma roda d’água.

Turismo Cultural em Ascensão

A maior parte destas 24 construções históricas pode ser apreciada em um roteiro concentrado, especialmente na região central da cidade, transformando Dois Irmãos em um verdadeiro museu a céu aberto da colonização alemã no Rio Grande do Sul. A riqueza patrimonial de Dois Irmãos não passa despercebida pelo setor turístico A Rota Colonial Baumschneis convida para um passeio pela história da colonização, passando por pontos marcantes em sua área rural.

O reconhecimento da importância deste patrimônio se evidencia também na participação da cidade em eventos estaduais. Dois Irmãos participou em agosto das comemorações do Dia Estadual do Patrimônio Cultural, promovido pela Secretaria de Estado da Cultura (Sedac) do Rio Grande do Sul, reforçando seu compromisso com a preservação histórica.

Preservação ativa e participação comunitária

A cidade conta com organizações dedicadas à preservação patrimonial, como a Associação de Amigos do Patrimônio Histórico e Cultural de Dois Irmãos, que mobiliza a comunidade local para a proteção e valorização dos bens históricos.

A preservação deste conjunto patrimonial representa não apenas o cuidado com a memória local, mas também um investimento no potencial turístico e cultural da região, consolidando Dois Irmãos como destino obrigatório para quem deseja conhecer a história da imigração alemã no Rio Grande do Sul.

Fonte: Texto produzido com base nas Fichas de Inventário do COMPAC, realizadas por MALLMANN, Josiane; ARANDT, Ingrid; DUARTE, Rodrigo

 

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