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Região

Plantar, sem saber se vai colher! A dura realidade dos agricultores de Herval, afetados pela escassez e agora excesso de chuva

10/12/2023 - 18h30min

Atualizada em 10/12/2023 - 20h08min

Após perdas com três estiagens, agora, a chuva intensa – agravada com a enxurrada –, está causando muitos prejuízos (FOTO: Cleiton Zimer)

Após estiagens, a chuva ininterrupta afeta plantios e colheitas

Por Cleiton Zimer

Santa Maria do Herval – O setor primário é a base mais forte do município, representando uma fatia de 59% do total da arrecadação. No entanto, os produtores das diversas esferas estão sofrendo reveses nos últimos anos.

E aquela máxima: plantar para colher – já não é mais bem assim; muitos estão plantando e não sabem se terão resultados.

Lavouras foram literalmente “lavadas” pela última enxurrada (FOTO: Secretaria de Agricultura)

Os “empresários a céu aberto” vêm de três estiagens consecutivas – sendo duas graves. E, neste ano, enfrentam um acumulado extremo de chuva, agravado pela enxurrada dos dias 17 e 18 de novembro.

E como se não bastasse ainda há o fator da oscilação negativa dos preços. Determinados segmentos acabaram empatando e até mesmo tendo prejuízos.

“Quase não dá para acreditar”

Jaime Morschel, secretário de Agricultura (FOTO: Cleiton Zimer)

 

O secretário de Agricultura, Jaime Morschel, avalia a situação como complicada. “Isso já vem acontecendo há vários anos. Estamos vindo de duas estiagens fortes e quase não dá para acreditar que agora estamos nessa situação, enfrentando demasia de chuva, essa enxurrada. E pela previsão parece que nem é para mudar tão rápido.

Lá no início muitas sementes se perderam. Agricultores que plantaram um pouco mais cedo – para antecipar o serviço – ficaram com a germinação incompleta.

E aí chega o momento em que precisa decidir: se deixa, mantém o que germinou, o que cresceu, ou vira o solo novamente e efetua um novo plantio. Porquê os tratos, digamos quando falta 20, 30%, talvez esses poderiam ser o lucro lá na frente. Porque os tratos culturais vão ser os mesmos, a aplicação dos defensivos, a mão de obra é a mesma, mas lá na frente muito menos produção.”

Mas não foi só na germinação. Partes de lavouras inteiras se perderam. “A enxurrada simplesmente lavou roças, empossou água, se formaram açudes em meio às lavouras. A adubação, ela simplesmente não existe mais no solo.”

Solo ficando “pobre”

Ao passar pelo interior se nota que muitas plantações que nasceram estão paradas, amareladas, por falta de sol e nutrientes. A chuva em excesso está “lavando” a terra e tirando dela muitas riquezas.

No caso das batatas, Jaime diz que mesmo aplicando defensivos toda semana, devido a alta umidade e falta de sol, não consegue segurar. “Da mesma forma a uva, tivemos este mesmo problema com a cebola, enfim, generalizou.”

Preços em queda: desânimo

O ano se torna ainda mais complicado diante dos preços. “Até então o gado, o milho, a lenha baixaram. Então está criando um certo desanimo.

Jaime reforça que estão fazendo de tudo para segurar e tornar a alavancar o setor novamente, para fazer com que as pessoas, inclusive os jovens, fiquem no campo.

Eu sempre estava muito otimista, vimos que nos últimos 8, 10 anos mais jovens continuavam ficando no campo. Vinha muita máquina nova para nosso município e a gurizada tocando a roça. E estamos aí, nessas intempéries, mas torcendo para que isso mude amanhã ou depois, que tudo volte ao normal.”

O impacto na produção do milho

A produção de milho é o forte de Santa Maria do Herval. Ano passado, embora a estiagem não fosse tão forte, teve perdas. A colheita, de maneira geral, não foi boa.

Os insumos eram altos. Aqueles primeiros que começaram a colher até pegaram um preço bom, na faixa de R$ 90. Depois veio baixando e claro, quem colheu mais tarde vendeu milho a R$ 60, R$ 65.”

Agora os insumos estão mais baratos, mas, os produtores já estão na expectativa de um preço também menor, possivelmente estancado entre R$ 60 e R$ 65. “É quase trocar meia dúzia por seis. Compramos mais baratos, mas sabemos que vamos vender mais barato.

Jaime explica que o valor do grão sofre influência direta do Paraná, Mato Grosso, Minas Gerais. “O preço vem de cima. Então este valor é complicado.

O secretário pontua que seria menos grave se os agricultores tivessem toda mão de obra e maquinário próprio, mas de maneira geral não é isso que acontece no Município. As pessoas dependem da terceirização do serviço.

Incentivos

Para ajudar na recuperação do setor o município ampliou os serviços terceirizados. Desta forma, os agricultores pagam menos pela hora de máquinas – uma diferença de praticamente R$ 100.

E estamos tentando, para o próximo ano, conseguir algo no sentido de adubos inorgânicos. Estamos analisando e se couber no nosso orçamento, com certeza, ano que vem vai sair”, antecipa Jaime.

Dificuldade desde o grande ao pequeno

Canisio Luis Andreis planta pouco, mas sente o impacto (FOTO: Cleiton Zimer)

Canisio Luis Andreis, 58 anos, planta para consumo próprio na localidade de Nova Renânia. Até mesmo para ele, que não produz de maneira a obter lucro, há perdas.

Os pêssegos apodreceram. Beterrabas, que no ano anterior estavam grandes, agora foram colhidas numa proporção bem menor. Rabanete, quase não deu. “Quase não adianta plantar. Mas é preciso mesmo assim, para ter algumas coisas.”

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