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Prefeituras iniciam protocolos para frear proliferação do mosquito Aedes aegypti

13/02/2024 - 11h56min

Atualizada em 13/02/2024 - 19h05min

Equipes da vigilância de Estância Velha monitoram e combatem a proliferação do mosquito (FOTO: Divulgação / PMEV)

BATALHA CONTRA A DENGUE
VIROLOGISTA PROJETA NÚMERO RECORDE DE CASOS EM 2024

POR GEISON M. CONCENCIA

REGIÃO – O crescimento do número de casos de dengue, provocado pelo mosquito Aedes aegypti, tem elevado o alerta em todo o Estado. A preocupação se justifica pelo aumento significativo do percentual de confirmações da doença, em relação ao mesmo período do ano passado.

Professor da Universidade Feevale e virologista, Fernando Spilki, defende que os números atuais são preocupantes e demandam uma ação conjunta entre poder público e população em geral. Segundo ele, os dados, até agora, apontam para uma dinâmica nunca vista. E defende: “a dengue veio para ficar”.

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Entre os municípios da Encosta da Serra, Ivoti tem seis casos confirmados, assim como em Estância Velha. Segundo o secretário da Saúde ivotiense, Marcelo Bernardes, serviços de saúde estão suprindo a demanda da comunidade. “O pronto atendimento e UBS’s estão atendendo e solicitando o teste para todos que possuem os sintomas compatíveis com dengue. Dia 17 de fevereiro estamos organizando um mutirão de limpeza em alguns bairros, a fim de conscientizar sobre a importância que cada cidadão tem no combate à dengue. A comunidade está convidada para esta atividade”, disse.

Em Dois Irmãos, diversas ações estão em curso para combater a proliferação de focos do mosquito. Município já registrou cinco casos confirmados.

Com seis casos confirmados, Estância Velha também já se prepara para a batalha contra o Aedes aegypti. Entre as táticas para diminuir o crescimento de contaminações, o Município adotou armadilhas para combater o mosquito. Elas são instaladas em diversos pontos da cidade. Semanalmente, um agente analisa a quantidade capturada. Se passar de 100, o protocolo determina um raio de 150 metros de intensificação de esforços, que contempla pulverizações e vistoria na localidade.

A coordenadora de Vigilância em Saúde de Estância Velha, Eliane Fleck, alerta que o pico das contaminações acontece no final de fevereiro e início de março, mas esforços para diminuir sua disseminação ocorrem durante todo o ano. Além disso, ela reforça o pedido de colaboração da comunidade. “O agente vistoria o pátio, mas sabemos que existem focos dentro das casas, como vasos de flor ou ralos. Dentro das residências eles não entram. Pedimos aos moradores que usem bastante repelente e, em caso de sintomas, procure atendimento médico. A melhor prevenção é a conscientização”, destaca.

Clima extremo contribui para proliferação do mosquito

 

O Professor da Universidade Feevale, Fernando Spilki, confirma a probabilidade de um ano recorde, em termos de contaminações. Entre os motivos para esse crescimento significativo de casos em 2024, os extremos climáticos podem estar associados ao alto número de contágios no primeiro mês do ano.

Em entrevista ao O Diário, Spilki explica sobre o surgimento de novas variantes e a necessidade de mudanças no combate ao Aedes aegypti. Além disso, fala sobre a importância da vacina, mas defende a continuidade das políticas de prevenção e conscientização social, como a melhor forma de combater a dengue.

Diário – Este ano, o Brasil e o Rio Grande do Sul podem bater recordes históricos?
Spilki – Acredito que vamos bater recordes históricos, porque a dinâmica que estamos tendo, desde o início do ano, nunca foi vista antes em todo o Brasil. No Rio Grande do Sul, também é preocupante. É muito mais alta.

Diário – Os números atuais apontam para uma probabilidade/tendência disso acontecer?

Se analisar os números atuais, vai perceber isso. No Estado, quase 20 vezes mais que em relação ao mesmo período do ano passado. No Brasil, em algumas regiões, tem elevações ainda maiores. Isso não é normal, ainda mais sabendo que dengue ocorre durante o verão e início de outono, e não estamos no pico da doença.

Diário – Como o clima contribui para elevar os números já nos primeiros meses do ano?

Das variáveis do clima, a temperatura é muito importante por dois motivos. Primeiro, ela permite mais reprodução e disseminação do mosquito. Além disso, o vírus precisa se multiplicar dentro do mosquito, e para que isso aconteça, ele precisa de temperatura alta.

Outra condição que ajuda muito são os extremos dos recursos hídricos, tanto a estiagem quanto excesso de chuvas. Quando está muito seco, as pessoas precisam armazenar água, devido à falta em algumas regiões. No Brasil, há problemas de descontinuidade de fornecimento dela, o que faz com que as pessoas armazenem, e isso pode servir de fonte para o mosquito se proliferar.

O excesso de chuva, como tivemos em 2023, com temporais e, especialmente, quando há acúmulo de entulhos, promove locais com água limpa, em que há proliferação.

A temperatura e os extremos em termos de recursos hídricos favorece muito os surtos de grandes proporções. Já sabemos disso, pois há experiências grandes nesse sentido.

Diário – Assim como ocorre com a Covid, a dengue passa por mutações que podem torná-las mais resistentes?

Sim. Há uma evolução do vírus ao longo do tempo. Inclusive, temos trabalhos aqui na Feevale sobre isso. Notamos que existem tipos que predominam em uma determinada fase., então você tem um surto dessa linhagem, como ocorreu no ano passado. A gente sabe por que em lugares que surgiram linhagens, também ocorreram novas infecções.

A dengue tem outro complicador: você tem mais de um sorotipo. Por exemplo, às vezes você tem o genótipo um circulando ou o dois. Como eles têm diferenças, em uma mesma temporada, as pessoas podem ter reinfecções das pessoas. Ou seja, você pode ter mais de uma vez.

Diário – Estamos em um momento de muitas festas e aglomerações, isso pode influenciar o aumento de casos?

As festas e aglomerações têm mais influência para doenças respiratórias. No mês de janeiro, tivemos uma pequena elevação da Covid, que pode se refletir neste período. Mas, para a dengue, não pensamos nisso. O combate é no mosquito.

Diário – A urbanização interfere no aumento de casos?

A urbanização realizada de maneira desorganizada, sem o fornecimento de água adequada, falta de energia elétrica que demande o acúmulo de água são elementos que colocam regiões urbanas em risco maior para grandes surtos de dengue, especialmente, nas regiões mais precárias.

Diário – Como uma epidemia de dengue pode interferir no serviço público de saúde?

A epidemia de dengue tem diversos desafios. Primeiro porque até três anos atrás não havia os números atuais. Ao que tudo indica, ela veio para ficar. Precisa haver toda uma reeducação e requalificação de todo o corpo técnico dos profissionais que vão atender na linha de frente para reconhecer os sinais da doença, que nem sempre são fáceis de se distinguir, porque os sintomas são muito genéricos, como dor no corpo e cabeça. Além disso, em muitos casos, é necessário a internação do indivíduo para reposição hídrica e acompanhamento adequado. O verão tem outros desafios, como as gastroenterites e doenças cardíacas, que elevam o atendimento nesta fase. Ou seja, mais um peso que a saúde terá que absorver. É preocupante.

Diário – A vacina acende uma esperança? A prevenção é o melhor remédio?

A vacina será uma ferramenta importante no combate à dengue, à medida que ela se tornar disponível. Mas antes dela, a dengue é uma doença evitável, se fizermos o combate adequado ao mosquito. Precisamos saber onde estão os casos e ter atenção nos domicílios em que os casos são registrados para acoplar no esforço de combate.

O esforço na luta contra a dengue inclui participação do poder público e das pessoas. Dentro das competências das administrações, deve-se mapear, localizar as residências ou estabelecimento que tenham focos e eliminá-los. Pode-se usar a dedetização ou outros produtos que evitam o crescimento. Mas nada funciona se a comunidade não fizer sua parte. Todos precisamos cuidar e eliminar possíveis focos de proliferação do mosquito.

Não precisamos esperar a vacina. No Brasil, a dengue sempre foi bem controlada quando as pessoas estavam cientes do desafio, sem a necessidade da vacina.

Em 2016, quando teve o surto de zika, as pessoas ficaram tão assustadas, que no ano seguinte, foi registrado 90% a menos. O susto do ano anterior levou as pessoas a terem consciência.

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