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Polícia

Quem são os três réus acusados pela morte do empresário e político Adélcio Haubert, em Santa Maria do Herval

22/03/2024 - 10h43min

Atualizada em 22/03/2024 - 10h51min

Adélcio foi morto com um tiro certeiro na cabeça. Na porta de vidro a marca do tiro fatal. Os assassintos teriam ficado à espreita na cerca - ao fundo (FOTO: Cleiton Zimer / destaque: arquivo)

Segundo o MP, mandante seria o comprador do Frigorífico fundado por Haubert

Por Cleiton Zimer

Santa Maria do Herval | Após mais de três anos, o assassinato do fundador do Frigorífico Haubert e ex-vice-prefeito do município, Adélcio Haubert, se encaminha para um desfecho.

Ele foi morto com um tiro na cabeça na noite de 21 de outubro de 2020 em sua própria casa, na localidade de Boa Vista do Herval. A esposa dele, Flávia, que estava ao lado, foi atingida por estilhaços do mesmo projétil que o matou.

Três pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público na terça-feira, 18, através do promotor Bruno Amorim Carpes, de Estância Velha – que aponta que o crime teria tido motivação financeira.

O juiz Miguel Carpi Nejar, da Comarca de Dois Irmãos, acatou-a no dia seguinte considerando que há justa causa para a instauração da ação penal. Os três deverão ir a júri, tanto pela morte de Adélcio como pela tentativa de homicídio de sua esposa.

O principal acusado…

Segundo Carpes, um dos réus é o empresário catarinense Cristiano de Bem Cardoso, 44 anos – que comprou o Frigorífico de Adélcio em maio de 2018, já em recuperação judicial.

Outrora, a empresa foi o principal sustentáculo de Santa Maria do Herval arrecadando milhões de reais mensalmente com grande retorno de ICMS para a cidade. Há cerca de dois anos, na pandemia, foi fechada.

… e mandante

O valor não foi informado, mas segundo o promotor “o denunciado Cristiano de Bem Cardoso, inconformado por estar sendo cobrado por uma dívida milionária decorrente da compra do Frigorífico Boa Vista, que era de propriedade das vítimas, inclusive mediante processo de execução, mandou Sílvio Cristiano Soares das Chagas, 48 anos, com quem tinha estreita relação, matar as vítimas”.

A execução

Sílvio teria conhecimento da rotina Adélcio, tendo inclusive lhe prestado serviços como segurança durante anos.

Em sua fundamentação, o promotor explica que, por sua vez, Sílvio recrutou duas pessoas. “Uma delas Joni André Haubert, 34 anos, e outra ainda não identificada.”

Teria orquestrado a forma como se daria a execução. “Forneceu ao menos uma das armas utilizadas, possivelmente uma Puma calibre 38, que não foi localizada, e informações sobre a rotina das vítimas, bem como indicou a rota de fuga por um matagal localizado entre a casa dos ofendidos (vítimas) e os fundos do Frigorífico Boa Vista, onde trabalhava.”

Carpes afirma que Joni, junto da outra pessoa cuja identidade é desconhecida, ficou de tocaia em frente à residência dos Haubert, “aguardando o momento em que estivessem sentadas no sofá, distraídas, sem qualquer possibilidade de defesa, ocasião em que efetuaram os disparos”.

A execução teria ocorrido entre 19h52 e 19h54 daquela quarta-feira. Era época de campanha eleitoral e o então candidato e reeleição para vice-prefeito, Gilnei Capeletti, tinha acabado de sair da mansão dos Haubert. Em uma entrevista ao Diário na época, Gilnei disse não ter visto nada anormal e, minutos depois, foi avisado do ocorrido.

Segundo a perícia um dos disparos foi certeiro e atingiu Adélcio na cabeça, e, fragmentando-se, acertou a face de Flávia que estava sentada a seu lado. Teria sido efetuado através de uma Puma calibre 38.

Atingido enquanto via o neto pelo celular

Pouco tempo depois a reportagem também conversou com Flávia. Ela lembrou dos detalhes daquela noite.

Contou que depois da saída de Gilnei, Adélcio estava sentado no mesmo lugar de sempre, no sofá da sala, que fica de frente para a televisão e posicionado lateralmente à porta de vidro que leva ao jardim. Estava com o cachorrinho da família sobre o colo e o gatinho aos seus pés – amava os animais.

Flávia estava sentada ao lado dele (de forma que ficou no campo de visão entre a porta e Adélcio).

Os dois ficaram conversando e cada um mexendo no seu celular. Em determinado momento Flávia mostrou um vídeo para ele, de um dos netos brincando. “Aí começou, parecia que estavam saindo faíscas do meu celular. Aí olhei para ele e vi o sangue saindo pela cabeça”, lembrou, na época.

Flávia disse que não escutou nada, estava tudo confuso e, desnorteada, achou que seu celular tinha explodido e uma parte atingido marido. Sem saber o que fazer se agarrou nele e sentiu que começava a suar.

Ela abriu a porta da frente implorando por ajuda de alguém que à pudesse escutar. Foi neste momento que olhou para os vidros e viu as marcas dos disparos. Notou que também tinha sido atingida e estava sangrando. O desespero aumentou. Correu para o telefone e o funcional não estava funcionando. Foi ao celular, tentou ligar para familiares, amigos e, a primeira que a atendeu foi uma amiga de anos que chamou o socorro.

Em poucos minutos a ambulância do Ambulatório 12 de Maio veio, junto com a polícia. Socorreram Adélcio com vida, porém inconsciente; Flávia, que sangrava no rosto, também foi levada.

Adélcio teve os sinais vitais estabilizados e, depois, sob escolta policial, transferido para um hospital da rede particular em Novo Hamburgo.

 Cinco dias em coma

Ficou em coma durante cinco dias. Desde o início recebeu diagnóstico irreversível e, mesmo se sobrevivesse, as sequelas que ficariam seriam graves, deixando-o em estado vegetativo para sempre.

Dias de angústia se seguiram e, na segunda-feira, 26, ele morreu. Flávia sobreviveu, mas passou 14 dias internada. O olho direito está sob titânio e parte do rosto, onde o disparo a atingiu, foi reconstituído com ferro.

Adélcio foi sepultado no Cemitério Católico do Centro de Herval (FOTO: Cleiton Zimer / arquivo)

O que disseram os acusados?

A reportagem tentou contato com todos os citados pelo Ministério Público.

Silvio retornou por mensagem dizendo “sou inocente”.

Joni respondeu que, por orientação da defesa, somente trataria com os advogados. O contato da defesa não foi informado

Cristiano também foi procurado, porém, até o final da tarde de quinta-feira, seu celular caia na caixa postal.

Todos respondem em liberdade. Silvio e Jone moram em Herval. Cristiano em Florianópolis.

 

Cristiano chegou a ser cogitado como candidato a prefeito de Herval

Em fevereiro de 2020, o fundador e presidente nacional do PRTB (Partido Renovador Trabalhista Brasileiro), hoje falecido Levy Fidelix, anunciou um convite e apoio ao empresário Cristiano Cardoso para pré-candidatura a prefeito de Santa Maria do Herval. Mas a candidatura não foi lançada.

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