Região

“Radioamadorismo ainda é a salvação em casos de emergência”

10/07/2024 - 06h00min

Atualizada em 10/07/2024 - 09h30min

Ary Molter com o jornal da época

ESTANCIENSE COM RÁDIO AMADOR AJUDOU DE LONGE NAS ENCHENTES

Por Nadine Dilkin

Estância Velha – Ary Molter, de 72 anos, morador do bairro Encosta do Sol em Estância Velha, é radioamador. Na enchente que afetou o estado do mês de maio, ele, enquanto trabalhava na sua floricultura, deixava o rádio ligado, escutava as comunicações e, às vezes, fazia alguma ponte, ou seja, passava alguma informação.
O radioamadorismo é uma atividade de forma de lazer e um serviço de telecomunicação. É praticado em quase todo o mundo, por pessoas habilitadas e licenciadas pelas autoridades de telecomunicações para a intercomunicação e estudos técnicos sem motivo de lucro.
Molter conta que, durante os resgates feitos da enchente no mês passado, havia muitos voluntários de radioamadores no alto morro do bairro de Santa Teresa, onde tem uma antena de TV. Neste local o rádio tem um melhor sinal. “Os voluntários ficavam lá durante um tempo e depois trocavam por outros, alguns ficavam em casa e qualquer coisa, avisava a pessoa que ficava lá no morro”, relata.
“O rádio amador é um dos meios de comunicação que não falha”, conta Molter, e complementa que uma das vantagens do radioamadorismo é que todos escutam a comunicação passada, como: a Polícia Civil, Brigada Militar, Bombeiros, Exército. “Todos ficam ligados na mesma frequência, chamada, frequência de emergência, mas em cada Estado tem uma frequência diferente”, explica.

Relatos ouvidos no rádio amador
Enquanto Molter trabalhava em sua floricultura, ouvia os relatos no seu rádio amador, sobre os resgates da última enchente. “Aqui de Canoas, preciso um barco para três pessoas”; “Preciso de apoio, socorrei nove pessoas, duas crianças e três cachorros”; “Eu moro em apartamento, na avenida Farrapos, de Porto Alegre, no 3º andar, tenho lugar para abrigar quatro pessoas.” Esse último relato, segundo Molter, foi um dos que mais impressionou ele, da pessoa aceitar conviver com pessoas desconhecidas.
Durante os relatos que contava, o Molter conclui dizendo: “O radioamadorismo ainda é a salvação em casos de emergência”.
Pelo conhecimento de Molter no assunto, ele estima que tem em torno de 2 mil radioamadores no Rio Grande do Sul. Em Estância Velha, existem pelo menos 8. “Em Novo Hamburgo deve ter em torno de 40 radioamadores”, conta.

Última convocação
“Em casos de emergência o radioamador pode ser convocado para ajudar”, conta Molter. Em 2008 foi a última convocação que ele recebeu pela Defesa Civil. No incêndio que atingiu a reserva ecológica do Taim, ele ficou uma semana acampado perto do local. Ajudou na comunicação e falava direto com a Defesa Civil.
Pelo rádio, as forças de segurança informavam que precisavam de algum material e Molter ia até o almoxarifado pegar o objeto, que alguém levava até o local

Jornal da época
Um colega de Ary Molter, também radioamador, lhe entregou uma cópia da página do jornal semanário “A Época” de Caxias do Sul. A edição é do dia 11 de maio de 1941. Ele retrata a triste realidade que está sendo vivida novamente: “O Rio Grande do Sul vive os dias mais angustiantes e catastróficos da sua história”.
Trata-se da histórica enchente de 1941, que, até então, era a maior já registrada no estado. Nas linhas da reportagem, o destaque para o radioamador que narrava aquilo que acontecia por todo o Rio Grande do Sul.

 

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