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“Sim, amor. A mãe não vai esquecer!” – Uma homenagem do Diário a todas as mães

10/05/2024 - 06h55min

Atualizada em 10/05/2024 - 09h14min

Eloísa, o marido e dois filhos deixaram o apartamento onde moravam em São Leopoldo, socorridos por voluntários em um barco, com água na altura do pescoço (Fotos: Nicole Pandolfo)

Com a história da Eloísa, o Diário homenageia a todas que protegeram das águas da enchente os seus filhos, biológicos ou não, com a força que só uma mãe tem

Por Nicole Pandolfo

Morro Reuter – Quando Eloísa Haak Machado saiu do trabalho na sexta-feira à noite, a água na rua em frente ao condomínio onde ela mora, no bairro Santos Dumont, em São Leopoldo, a deixou nervosa, mas nada mais do que uma preocupação de quem aprendeu a dirigir há pouco tempo. Ela, assim como muitos, não acreditava que o nível subiria além do que já era visto.

Eloísa mora no quarto andar com o marido e dois filhos, Rafael e Luís Gabriel, de 2 e 6 anos.

A saída de casa

15 minutos após o síndico do condomínio alertar por mensagem que aquele era o momento de sair de casa, no sábado (4), Eloísa e a família viu-se presa no apartamento, não havia como utilizar o carro já parcialmente coberto. No domingo pela manhã, sem bateria nos celulares e sentindo um cheiro forte de gás e de vazamento de óleo dos carros na água, Eloísa decidiu agir. Arrumou uma mochila para cada filho e uma muda de roupa para ela e outra para o marido: “Trouxe um balde com as mochilinhas deles dentro, pra não molhar. Eu saí dentro da água, na ponta dos pés com água até o pescoço. O meu pequeno foi por cima da cabeça do vizinho, pra não se molhar. E o grande, meu marido levou nos ombros.” Ela e a família foram resgatados em um barco, por voluntários que vieram de Sapiranga.

“Eu já chorei muito, sabe?”

“Olha, mamãe! O carro do papai tá mergulhando na água!”, disse o pequeno Rafael quando eles deixavam o condomínio no barco. “Dava pra ver só uma pontinha do teto do carro”, que no dia anterior eles haviam colocado em cima de macacos, com a intenção de elevá-lo do chão.

“Como mãe, a gente passa por qualquer coisa, mas expor eles numa situação dessas…”, desabafa Eloísa. Ela contou sobre a apreensão dos meninos vendo o volume da água aumentar: “Mãe, tá ficando tudo alagado!”, dizia Luís Gabriel. “O Gabi chegou a perguntar ‘mãe, a gente vai morrer aqui? Eu tenho medo do escuro, eu não quero ficar no escuro…’ Então foi mais em função deles que a gente saiu”, conta Heloísa.

8 pessoas dividiram espaço no barco pequeno que, apesar de ter motor, precisou ser remado. Não havia coletes salva-vidas. “Eu posso passar pelo que for, mas eu colocá-los nessa situação…”, ela não termina a frase com um nó da garganta de quem imagina o pior que poderia ter acontecido.

“Olha, eu já chorei muito, sabe? Eu tô me sentindo até mais forte por falar, porque antes eu não conseguia.”

“A mãe não vai esquecer”

Do abrigo, no salão da Paróquia Imaculada Conceição, em Morro Reuter, Eloísa conta a sua história de três dias atrás, enquanto Rafael e Luís Gabriel correm brincando. “Mãe! Eu quero que o meu amigo passe o endereço dele pra ti, pra um dia eu ver ele de novo!”, interrompeu Rafael, por duas vezes. “Sim, amor. A mãe não vai esquecer!”. O amigo de Rafael era um rapaz, o Felipe, voluntário que ajudava a divertir as crianças no abrigo.

“Em nenhum lugar que a gente fosse, eu tenho certeza que a gente não teria sido tão bem tratado como a gente foi aqui. A recepção, a acolhida do pessoal, o capricho com a comida, não tem igual.”

Antes que pudéssemos terminar a conversa, os sogros de Eloísa adentraram o abrigo com pressa para levá-los embora para Viamão, de onde eles levaram mais de 3 horas para chegar. Queriam sair antes do temporal que se formava na tarde de quarta-feira. Eloísa, mais uma vez, recolheu os pequenos e os poucos pertences e foi embora com a família, pronta para a batalha que segue.

Do abrigo em Morro Reuter, a família segue para a casa dos sogros em Viamão até o nível da água onde eles moram baixar

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