Região
“Sou fruto de um milagre de Deus”, diz morador de Presidente Lucena
Após perda das funções do fígado e parte dos rins houve cinco protocolos de morte cerebral
Por
Cândido Nascimento
A vida causa surpresas e até mesmo sustos. A fragilidade do ser humano é confirmada no momento em que surge uma enfermidade e ainda mais se ela for grave. No caso de Éder Carvalho, 41 anos, todo o problema começou quando, em um determinado dia, teve náuseas e vômitos durante a madrugada, que pensou ser uma virose. O sintoma inicial era dengue, mas o branco dos olhos começou a amarelar. Primeiro foi ao posto de saúde do município, depois ficou por 11 dias internado no Hospital São José, em Ivoti e, por fim, foi transferido para Porto Alegre.
Sua vida estava se esvaindo e ele teve cinco anúncios de morte cerebral feitos pela equipe médica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. O diagnóstico final foi hepatite crônica. Depois de receber os protocolos de morte cerebral, por milagre ele sobreviveu para contar a história, após a esposa ter ouvido uma voz suave que daria tudo certo. “Os médicos disseram que eu era um fenômeno”, explica o morador.
COMO TUDO COMEÇOU
A doença causa problemas gastrointestinais, como diarreia ou vômito, febre e dores musculares, mas o mais característico é a icterícia, que é a coloração amarelada da pele e dos olhos. A origem do problema foi descoberta por um dos médicos do posto de saúde, dr. Tales. Éder destaca o empenho da secretária de Saúde Joice Froehlich e do vice-prefeito. Ele teve que ir até a Defensoria Pública do RS para conseguir a vaga no Hospital de Clínicas. O empenho foi total até o atendimento chegar no Hospital de Clínicas.
PERDAS DAS FUNÇÕES VITAIS E MORTE CEREBRAL
Ao chegar na Capital, o paciente já apresentava a perda das funções do fígado, e passou a realizar exames todos os dias, mas estes não eram registrados no sistema do Sus. Conseguiu a vaga após longos 11 dias de espera. “No terceiro dia após chegar no Clínicas perdi por completo a minha memória, tive encefalopatia aguda, meu fígado parou de funcionar e, por consequência, houve uma sobrecarga nos rins. A partir daí tive os protocolos de morte cerebral”, conta.
Depois da degeneração completa do fígado e do funcionamento de apenas cerca de 15 a 20 % de apenas um rim, os médicos informaram a esposa de Éder, Lisiane Wolff, que ele viria a óbito, e que era para a família se preparar para o pior e organizar o funeral. Ela entrou em desespero com a notícia e voltou para casa, reunindo a família e pedindo orações, e foi uma noite de muito choro.
CONVERSA COM DEUS
Era uma quinta-feira, noite de 14 de julho de 2023. Durante a madrugada seguinte, após os familiares voltarem para casa, a esposa se ajoelhou e orou a Deus, passando por uma carga emotiva muito forte, pedindo pela vida do seu marido. Ainda na madrugada ouviu a voz suave falando ‘vai dar tudo certo, o Éder vai sobreviver’. Em seguida ela adormeceu. Na manhã de sexta-feira deixou os filhos Erick (14) e Enzo (4) com familiares e foi para Porto Alegre, se encontrando com a equipe médica, entre o meio-dia e 13 horas. Após o relato da morte cerebral, falaram que ‘ainda existe vida’. Na sequência ela solicitou que o incluíssem na listagem de espera de transplante de fígado. Após ouvir que ele estava muito debilitado, tinha o fígado necrosado e somente um rim funcionava (através de diálise), ela insistiu. A fila de espera era grande, mas diante do quadro grave, a expectativa médica era pequena, pois deveria haver compatibilidade e o físico teria que suportar o transplante. E ele corria o risco de ficar na mesa de cirurgia, além de ficar 100% sem memória, devido ao alto grau de toxinas que causaram a encefalopatia.
LIGAÇÃO
No final da tarde daquela sexta-feira (15), a esposa foi descansar e disse que ligariam, afirmando que chegaria o fígado novo para Éder. Ela foi para a casa de uma irmã, em São Leopoldo, mas com o telefone perto, esperando a ligação com a boa notícia. “Eu estava nos 45 do segundo tempo, mas havia a possibilidade de aceitar até mesmo um fígado doente, mas a minha família estava lutando pela minha vida”, declara Carvalho. Às 21 horas daquele dia chegou a ligação afirmando que havia uma chance, e que um médico estava em Caxias do Sul para trazer um fígado de helicóptero.
Após 15 dias no hospital, Éder ficou completamente sem memória. Um detalhe interessante é que começaram a preparar a cirurgia do transplante e no caminho da UTI até o bloco cirúrgico aconteceu o inesperado, Éder veio a si, reconheceu a esposa e pediu o telefone para se despedir dos pais. O transplante, que duraria 7 horas, durou 9 horas. Uma hora depois da cirurgia foi desintubado, acordou na UTI, mas estava muito falante, com os médicos dizendo: “esse rapaz é um fenômeno”. Com o fígado novo e sem defeito algum os rins voltaram a funcionar e, após 4 dias na UTI, ganhou alta e ficou ainda uma semana no quarto. Logo após voltou para casa.
MOTIVAR A FÉ
“Eu ia na igreja com a minha avó materna, Olga, e meus pais também iam à igreja, mas depois me desliguei e passei anos mais tarde por uma igreja onde familiares lideravam e cheguei a reunir algumas pessoas em um círculo de orações. Mas hoje entendo o meu chamado. Fiquei pensando que alguém perdeu a vida para mim ter a minha de volta. Hoje tenho a convicção que voltei à vida por um motivo: acrescentar a fé das pessoas. O meu pensamento mudou, o meu sonho é que todos possam ter o entendimento da vida que tenho hoje sem precisar sofrer. A igreja somos nós e todos temos um propósito de vida e cada um precisa descobrir o seu propósito. Pois não estamos aqui por acaso. Jesus é a essência de tudo”, finaliza Carvalho.