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Uma das primeiras moradoras do Bairro Navegantes, em Dois Irmãos, relembra os 90 anos de vida

05/04/2024 - 07h25min

Diário da Terceira Idade

Feliz Aniversário, dona Genoveva!

Por Nicole Pandolfo

Dois Irmãos – Dona Genoveva, de 90 anos, aprendeu a falar português, ou “brasileiro”, como ela se refere ao idioma, por volta da adolescência, quando o convívio com os irmãos mais velhos trouxe a influência da cidade para a roça, onde ela morava com os pais. Ela era a mais nova de 12 irmãos, hoje todos falecidos: “Acho que eu vou ficar pra semente”, ela ri enquanto relembra a história da sua vida, sentada na área em frente a casa, no bairro Navegantes.

Origem italiana

O sotaque marcante entrega a descendência italiana. A mãe de Genoveva partiu da Itália com apenas dois meses e aportou no Brasil com 7. Foram 5 meses vividos embarcada em um navio. Em Guaporé, município da serra gaúcha de colonização italiana, ela deu à luz Genoveva Giordani, mas logo a família migrou para Pinheirinho do Vale, no norte do estado, quase fronteira com Santa Catarina. Foi lá onde Genoveva se criou, onde tudo era “puro mato” e, por isso, o acesso a praticamente tudo era muito difícil, inclusive à escola que dona Genoveva não frequentou.

Ainda criança, ela partiu com a família de Pinheirinho para Miraguaí, um pouco mais para “dentro” do estado, onde continuou vivendo da roça. “Tinha vaca de leite, porco, cavalo. Plantar, era só milho e feijão, na época não tinha soja”, ela conta. “Minha mãe não falava ‘brasileiro’. Ela sofreu quando nós fomos morar em Miraguaí. Ela não sabia nem dizer bom dia!” Em um local distante de centros urbanos e de vizinhos, o italiano era a língua principal da família.

De menina à mulher

Genoveva brincava de boneca, mas também ajudava em casa: “Minha mãe mandava fazer as coisas e eu fazia.” A vida difícil na roça não dava muito espaço para a infância: “Quando eu pude levantar a enxada, eu estava junto com o pai na roça.”

De uma infância esparsa, o casamento abreviou também a adolescência e, ao lembrar do namoro com o falecido marido, Jacob de Moura, Genoveva expressa um certo arrependimento de não ter adiado um pouco mais essa fase da vida: “Eu casei muito nova, eu tinha 16 anos. Meu pai e minha mãe deixaram, não era pra deixar. Pra quê? Podia ficar um tempo lá sozinha.”

Mas seu Jacob se apaixonou: “Ele tinha outra namorada e deixou ela pra ficar com a mãe”, observou Ademir Francisco de Moura, um dos 14 filhos do casal. “Aquele tempo era brabo o namoro. Era eu aqui e ele lá. [A gente] ia na igreja junto rezar, mas nunca ir pra casa ‘pegando na mão’”, lembra Genoveva.

Ao recordar, ela não sabe dizer se a época foi boa ou ruim: “Eu não pensava… tinha minha casa…”, como se a novidade de uma casa nova despertasse uma empolgação quase infantil na menina de 16 anos. Mas ela precisou se adaptar: “Eu só sabia fazer comida de italiano, polenta, radite, massa feita em casa, galinha…”. O primeiro filho veio quando ela tinha 17 anos, nascido em casa, como a maioria, nas mãos da cunhada que era parteira e de quem ela recorda com muito carinho.

Genoveva, o falecido marido Jacob e os 6 primeiros filhos do casal

“Quanta mudança!”

Na década de 80, a abundância de empregos no setor calçadista em Dois Irmãos atraiu os filhos da dona Genoveva e do seu Jacob para a região. O casal acabou ficando sozinho em Miraguaí, mas logo decidiram se mudar para perto dos filhos. Um ano em Dois Irmãos e seu Jacob decide voltar a Miraguaí. Dois anos em Miraguaí, e o casal volta a Dois Irmãos novamente: “Quanta mudança! Agora eu vou ficar aqui e não volto mais!” recordou Genoveva que não aguentava mais as idas e vindas.

Viva a dona Genoveva!

E assim, dona Genoveva tornou-se uma das primeiras moradoras do Bairro Navegantes. Hoje, por questões de mobilidade, não faz mais as caminhadas que costumava fazer anos atrás. “Tinha muita vizinha que vinha aqui em casa. Às vezes a gente chegava do serviço, tinha 4, 5 mulheres aqui”, lembra o filho Ademir. Viúva desde 97, Genoveva passa os dias em casa, “corujando” netos e cultivando a fé com suas imagens de santos, as quais ela mostra com carinho e orgulho. Ainda que a saúde física tenha dado alguns sustos nos últimos anos, a lucidez da senhora que completou 90 anos no último dia 2 é impressionante.

Amanhã, a família irá se reunir para celebrar o aniversário e a longevidade da matriarca. Feliz aniversário, dona Genoveva! Que os anos ainda lhe tragam muita saúde e alegrias!

Os filhos com a mãe na comemoração dos 80 anos da dona Genoveva

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