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Região

União da comunidade reacende fagulha de esperança de família em Dois Irmãos

04/08/2023 - 10h55min

Atualizada em 04/08/2023 - 11h54min

Depois de gritar por socorro, por não ter o que comer, comunidade doou muitas coisas; na foto, Cleusa e o marido Pedro, Emile estava na escola (FOTO: Cleiton Zimer)

No domingo de noite, ao ver que só teriam alimentos até quarta-feira, mãe gritou por socorro

Por Cleiton Zimer

Santa Maria do Herval – Domingo de noite. Em vez de repousar e se preparar para uma nova semana, uma mãe de família olha para a geladeira, para os armários, e sente uma fisgada no peito: não há mais comida. E quando falta isso – que é o básico –, a esperança se esvai; é sinal de que tudo está desmoronando.

O que fazer? A quem recorrer? Afinal, já tinha pedido ajuda há um tempo, e foi atendida. Será que deveria gritar por socorro novamente?

Não tinha o que fazer e, como uma medida desesperada, entrou em contato com a reportagem. “Estou com meu marido com depressão e começo de alzheimer e não estou conseguindo comprar alimentos. Estou trabalhando, mas dá apenas pra pagar as contas. Tive que comprar todos os medicamentos pra ele e está perto de findar. Não sei o que fazer, eu tenho comida até quarta. Estou muito preocupada, pois tenho minha menina, às vezes choro escondida pra ela não ver. Ela fica cuidando o pai até meio-dia, de tarde ela vai para a escola e deixamos ele sozinho. A cabeça sempre está em casa, preocupada. Às vezes eu tenho que levar ele no psiquiatra. Estou mesmo precisando. Se puder me ajudar outra vez”, escreveu, Cleusa Wagner da Costa, 49 anos.

Ao ser questionada do que precisava, respondeu: arroz, feijão, azeite e farinha.

Cleusa é quem mantém toda a família, sozinha, com salário de R$ 1.500

Mobilização gerou uma reviravolta

Ao postar a situação nas redes sociais, diversas pessoas de Santa Maria do Herval, Morro Reuter, Dois Irmãos e até de Ivoti se mobilizaram. Alguns já levaram donativos na segunda-feira mesmo. Na terça veio muito mais – o suficiente para vários meses. Além disso, foi doada certa quantia em dinheiro, usada para comprar carne.

Ela pediu apenas itens básicos, mas a comunidade se comoveu e mandou de tudo um pouco. Até mesmo brinquedos para a filha de nove anos, para que possa ter um acalento em meio a tudo o que vê diariamente.

Além disso, a família está com contas em aberto. Como de luz que estava com aviso de corte – comovidos, alguns moradores foram lá e quitaram-na. Ainda há algumas de luz e água pendentes (quem quiser ajudar, pode chamar pelo 051 99323-6063).

A busca de uma vida melhor não se concretizou

Em 2020 a família viajou mais de 220 quilômetros em busca de uma vida melhor. Vieram de Cerro Branco. Veio Cleusa, o marido Pedro Olir da Costa, 63 anos, e seus dois filhos, a pequena Emile Vitória da Costa, 9, e Jeferson da Costa, 21.

Mas, no auge da pandemia, o que encontraram aqui foi desesperador. Não ganharam emprego, e passaram necessidades. Na época foi feita uma reportagem – após uma vizinha se comover e divulgar a situação em grupos da região – e receberam muita ajuda, até emprego Cleusa e o filho ganharam. O filho tinha problemas urológicos, mas, conseguiu trabalhar.

Pedro não pode. Os longos anos de lida na lavoura o fizeram ter graves problemas na coluna, tendão e, para piorar, contraiu uma mancha de água no pulmão; o médico foi enfático: ele não pode mais fazer esforço; a cirurgia também é inviável pois pode deixá-lo paralítico – mas não recebe auxílio-doença.

E quando tudo parecia ir bem…

Com a ajuda da época a família começou a se reerguer. Finalmente a vida estava dando certo, mesmo que devagar.

Mas não durou muito tempo. Tiveram que sair da casa que alugaram. Conseguiram outra, mas com valor maior – R$ 800 por mês. Até ali dava ‘para levar’. Em janeiro, porém, o filho casou e foi morar em Venâncio Aires, começar sua própria família.

Ele ainda vem para visitar os pais e a irmã volta e meia. Mas, agora, começou a faltar o recurso dentro de casa.

Cleusa ganha em torno de R$ 1.500 por mês. Paga o aluguel. Água. Luz. Os remédios do marido que beiram os R$ 300. Aí tem gás. E ainda não falamos da comida e outros gastos básicos.

Enfim, é uma conta que não fecha. Em algum lugar viria a faltar. E foi o que aconteceu. O auge foi na noite de domingo (30).

Família não estava sendo atendida pelo CRAS

De acordo com a Prefeitura, eles não vinham sendo atendidos pelos serviços do Centro de Referência de Assistência Social, o CRAS, “pois a renda per capita da família é superior as regras dos programas. E também não procuraram o serviço nos últimos dias.

Depois de saber da situação, profissionais do CRAS e agentes comunitários de saúde foram fazer uma visita domiciliar na casa da família nesta semana. De acordo com Cleusa “vão tentar fazer os papéis pra encostar ele (o marido) e vão ver se conseguem me ajudar nos remédios mês que vem”, disse.

A gratidão de uma mãe

Cleusa agradeceu toda a comunidade. Foram muitas mãos, que se mobilizaram em questão de horas. “Eu estava com vontade de fugir. Mas não posso deixar minha família. Agora, estamos aliviados. Muito obrigado pelo que fizeram por nós.

O extremo que a preocupação leva

Cleusa, em 2021, sofreu dois infartos de tanta preocupação. Na época, dias antes da primeira reportagem, chegou a pensar em suicídio pois via sua filha pedir comida e nada podia oferecer. A vizinha tomou conhecimento da situação pois viu uma fumaça vindo da casa – estavam cozinhando com algumas tábuas de pinos, pois há três meses não conseguiam comprar gás.

O marido, até então, estava lúcido. Mas por não poder trabalhar, por não ganhar qualquer auxílio-doença – e assim não conseguir ajudar a família –, entristeceu. A depressão tomou conta e, hoje, mal e mal reconhece a esposa e os filhos. “A menina cuida dele enquanto trabalho. É uma criança, cuidando de outra criança. Mas não tem o que fazer”, disse Cleusa. Ele também ameaçou se matar, vendo tudo isso acontecer e sem nada poder ajudar.

Cleusa está investigando nódulos nos seios. Como também trabalhou na lavoura, tem problemas nas pernas, sentindo fortes dores. Para dormir só com remédios – tanto pela dor física, como da mente.

No meio disso está a pequena Emile. Vê tudo acontecer. É apenas uma criança, mas é o elo de esperança de toda a família. É dedicada, querida e esforçada. Na escola é exemplo. Em casa é guerreira. Um morador de Santa Maria do Herval lhe mandou alguns brinquedos. “Tá radiante de tantas coisas. Até ela numa alegria tremenda. Só vendo pra entender”, disse a mãe, reafirmando o quão importante foram as doações.

Eles moram no bairro Moinho Velho, Rua da Figueira, 363. O contato de Cleusa é 051 98028-4756.

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