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Região

Voluntários de Dois Irmãos encontraram cenário de destruição no Vale do Taquari

19/09/2023 - 13h27min

Dois-irmonenses ajudaram na limpeza de Muçum, uma das cidades mais afetadas pela enchente

Por Nicole Pandolfo

Dois Irmãos – “Lodo, sujeira, destruição pra todos lados” é como o chefe do setor da Engenharia da prefeitura, Afonso Bastian, descreve a paisagem atual de Muçum, cidade que teve 85% da sua área devastada pela última enchente. O cenário desperta a incredulidade dos voluntários que se deslocaram de Dois Irmãos até o Vale do Taquari nos dois últimos finais de semana sob a coordenação de Afonso e do chefe do Departamento da Indústria Mauro Hahn.

Os sinais de destruição aparecem ao longo da estrada no caminho até as cidades afetadas. Na prefeitura de Encantado, os ônibus cedidos pela empresa Wendling foram escoltados por uma viatura da Brigada Militar até a entrada de Muçum. O protocolo tem o intuito de organizar e evitar que os curiosos, que já atrapalham o trânsito da região, interfiram também no trabalho de quem está lá para ajudar.

Na semana passada, o lodo ainda tomava conta das ruas

Limpeza

No primeiro fim de semana, o que predominou durante a chegada foi o silêncio dentro do ônibus e o questionamento de quem tinha o primeiro contato com a destruição: “Por onde eu começo?”

Afonso explica que nesta fase, é necessário focar em limpar a cidade, remover o lodo e os materiais destruídos de dentro das casas, para depois iniciar a reconstrução. A lama, ele descreve, “parece uma nata, a gente tirava de dentro dos estabelecimentos com carrinho.”

Voluntários foram aconselhados a levarem lava-jatos e ferramentas de limpeza

Divididos em grupos de 5 ou 6, os dois-irmonenses logo encontraram locais onde a ajuda era necessária. Afonso conta que trabalhou na limpeza de uma casa que foi coberta pelo rio. A pressão baixa da água que corre pelos encanamentos dificulta muito a limpeza, já que a espessura do barro é tão fina que remover a terra das frestas de janelas ou canaletas do teto é quase impossível: “Tu passa água, aquele lodo vai descendo. Passa de novo, desce mais… E continua!”

O casal dono da casa sobreviveu a enchente, mas pouco se sabe a mais sobre os moradores: “A gente não se atém a perguntar muito sobre a família das casas onde ajudamos”, explica Afonso. Por uma questão de respeito, é tido o cuidado e a discrição até mesmo ao tirar fotos dos locais.

Recomeço

Mas a limpeza é só o início: “Toda a parte elétrica das casas vai ter que ser refeita”, explica Afonso, dando um exemplo de que a sujeira é o menor dos problemas. No comércio, lojas perderam toda mercadoria. Numa delas, do tipo armazém de costura, uma senhora, dona do local, assistiu aos voluntários removendo todo seu estoque perdido em meio ao lodo: “Com o movimento da água, tudo ficou amontoado em um canto, quebrou banheiro, tudo!”, conta o servidor.

Afonso acredita que depois que a cidade estiver limpa, terá início uma segunda etapa, talvez ainda mais difícil que a limpeza: “Eu entendo que o mais difícil de tudo ainda está por vir, quando as pessoas vão precisar ter força emocional pra recomeçar.”

O que mais chama a atenção, segundo Afonso, é a motivação e o trabalho constante das pessoas apesar da tragédia. Na viagem de volta, perto de Dois Irmãos, novamente o silêncio era marcante nos ônibus dos voluntários, mas desta vez o motivo era o cansaço pelo trabalho. “Estávamos todos muito cansados, mas muito reconfortados por ter contribuído de alguma forma pra melhorar o aspecto da cidade.” Ele desejou um bom domingo a todos e lembrou: “Quando vocês estiverem em algum momento de dificuldade, pensem naquilo que nós vivemos esse fim de semana.”

Voluntários de Dois Irmãos na viagem de sábado (16/09)

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