Sátyro anuncia saída do Hospital São José diante do escândalo de corrupção envolvendo o Grupo Ana Nery

A operação da Polícia Federal (PF) em Santa Cruz do Sul, que apura desvios parlamentares na saúde no hospital daquela cidade, reverberou no município de Dois Irmãos, fazendo a saúde pública perder um médico conceituado com mais de três décadas de experiência e que estava na direção técnica do Hospital São José.

A investigação da PF não tem relação com Dois Irmãos, no entanto, o alvo da operação é o Grupo Ana Nery, o mesmo que administra a casa de saúde local, que tem, atualmente, como diretor técnico o cardiologista Antônio Sátyro.

Sátiro estava a cerca de um ano e meio no cargo, mas, a revelação o fez tomar a decisão de se desligar. O médico informou que permanecerá no cargo até o dia 28 de fevereiro de 2025 e colocou-se à disposição para a transição.

Ele confirmou à reportagem que sua saída está relacionada à operação. “Independente de culpa ou não (dos investigados), vou me desligar”, disse.

Operação EmendaFest

A PF cumpriu 11 mandados de busca e apreensão no Distrito Federal e no Rio Grande do Sul para apurar o desvio de R$ 1 milhão de três emendas parlamentares destinadas ao Hospital Ana Nery, em Santa Cruz do Sul. Os crimes investigados incluem corrupção ativa, passiva e desvio de recursos públicos.

No Rio Grande do Sul, as ordens judiciais foram executadas em Santa Cruz do Sul, Venâncio Aires, Estrela, Lajeado e Rosário do Sul. O Supremo Tribunal Federal (STF), por meio do ministro Flávio Dino, determinou também o afastamento de Lino Furtado, chefe de gabinete do deputado Afonso Motta (PDT-RS), e de Cliver André Fiegenbaum, diretor administrativo e financeiro da Metroplan. Além disso, houve bloqueio de valores de investigados.

Posicionamento do deputado Afonso Motta

O parlamentar gaúcho, que não é alvo da investigação, falou sobre o caso na Câmara dos Deputados. Ele afirmou que o assessor afastado “provavelmente” será exonerado e destacou que todas as emendas seguiram os procedimentos exigidos.

— Eu não tive ainda a oportunidade de conversar com ele no meu retorno, eu vou conversar, é uma investigação, não tem uma condenação, mas claro, ele já está desligado do meu gabinete por decisão judicial. (…) Provavelmente (será demitido), é uma palavra dura, mas provavelmente eu vou desligá-lo do meu gabinete. Mas eu vou respeitar o fato de ele estar sendo investigado, como qualquer cidadão — declarou.

Segundo Motta, a indicação das emendas ocorreu dentro das normas da Câmara dos Deputados e não houve relação de intermediação financeira para repasse de recursos.

— Sou um parlamentar que acompanha a indicação dos recursos. Evidentemente que no caso da situação que está sendo investigada tem uma outra dimensão. É uma situação onde um intermediário vem aqui na Câmara dos Deputados e busca emendas parlamentares. Tem uma relação de remuneração pelo fato da emenda ser indicada. Nunca tive nenhuma relação que tivesse essa natureza ou esse tipo de envolvimento. Sempre com muita consideração e sabendo da necessidade desses hospitais, nós fizemos a indicação dessas emendas — afirmou.

Posicionamento do Hospital Ana Nery

A unidade de saúde reforçou seu compromisso com a transparência e a legalidade, destacando que tem prestado colaboração integral com as autoridades.

— O Hospital Ana Nery reafirma seu compromisso com a transparência, a integridade e o pleno cumprimento das normas legais. Desde que tomou conhecimento da operação, tem fornecido prontamente todos os documentos solicitados e colocado-se à disposição para contribuir com o esclarecimento dos fatos — declarou em nota.