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Vale do Sinos se mobiliza contra modelo de concessão das estradas

26/11/2025 - 13h30min

Atualizada em 26/11/2025 - 13h37min

Gestores defendem revisão urgente do projeto que prevê cobrança por quilômetro rodado, implantação de várias praças de free flow e concessão de 30 anos.

O Vale do Sinos vive um dos momentos mais decisivos para sua economia e para a sobrevivência de milhares de pessoas que seguem trabalhando para reconstruir o Rio Grande do Sul após duas enchentes devastadoras. A mais grave, no ano passado, tirou vidas, destruiu empresas e deixou marcas profundas em toda a região, marcas das quais muitos ainda não conseguiram se recuperar.

Em meio a esse cenário, prefeitos e lideranças municipais se mobilizam contra o modelo de concessão das rodovias apresentado pelo Estado, considerado prejudicial e imposto sem diálogo.

Segundo os gestores, o projeto foi entregue pronto, sem espaço para discussão, ajustes ou sugestões por parte dos municípios, justamente aqueles que lidam diretamente com as demandas e cobranças da população.
“Somos nós, prefeitos, que recebemos diariamente as pessoas pedindo ajuda, explicações e socorro”, reforçam.

A preocupação é ampla. O Vale do Sinos, que vem apostando fortemente no turismo como estratégia de recuperação, a ponto de assumir a denominação turística de Vale Germânico, vê no atual formato da concessão um risco direto ao desenvolvimento regional. Representando 14 cidades, a Amvag lembra que a região investe em planos estruturados, eventos e políticas de incentivo ao setor, que é limpo, promissor e essencial para a retomada econômica.

Pedágios, free flow e impacto econômico

Os prefeitos destacam que o modelo de concessão proposto prevê cobrança por quilômetro rodado e a implantação de várias praças de free flow, com concessão de 30 anos, fatores que podem elevar drasticamente o custo de vida, a produção e a circulação na região.

Empresas já afetadas pela crise podem sofrer ainda mais. O Vale do Sinos e o Paranhana compõem o maior PIB do estado, construído pelo esforço de trabalhadores e empreendedores locais. Elevar custos logísticos justamente num momento de reconstrução, argumentam eles, terá impacto severo e em cadeia.

Universidades instaladas ao longo das rodovias também seriam diretamente afetadas. Estudantes — muitos já em dificuldades — teriam despesas maiores para se deslocar. Além disso, as empresas que dependem do transporte de mercadorias pelas estradas pedagiadas veriam seus gastos aumentarem, refletindo no preço final dos serviços públicos e no próprio desenvolvimento.

“Todos sabem que onerar a produção afeta diretamente setores essenciais como saúde e educação. O efeito em cascata desse projeto é incalculável”, alertam os gestores.

Histórico de abandono nas rodovias

Outro ponto sensível é o histórico da região com pedágios e promessas não cumpridas. Mesmo com cobrança, muitas melhorias não saíram do papel. A iluminação precária da RS-239, citada como exemplo, só foi parcialmente resolvida graças à iniciativa das prefeituras.

“É óbvio que queremos obras. É lógico que queremos acabar com os acidentes. Queremos rodovias seguras. Mas não dessa forma, não à custa de mais taxas e penalização de quem produz”, afirmam.

Recursos do Funrigs e falta de construção coletiva

Os prefeitos também questionam o uso de recursos do Funrigs no projeto. Para eles, o valor deveria ser aplicado diretamente pelo próprio Estado em obras de infraestrutura, reduzindo a necessidade de pedágios e garantindo melhorias de maneira mais equilibrada.

Ainda assim, reconhecem que há obras importantes previstas na concessão, mas reiteram que isso não justifica o formato imposto. O que defendem é transparência, discussão pública e construção coletiva de um modelo que atenda às necessidades da população sem sacrificar setores já fragilizados.

“Não somos contra concessões. Somos contra este modelo.”

A mobilização regional é clara: a rejeição não é às obras nem à ideia de concessão em si, mas ao modelo apresentado e à ausência de diálogo.
Há preocupação real de que audiências públicas se tornem meros rituais simbólicos, sem impacto no projeto final.

“Quero acreditar que seremos ouvidos. Que prefeitos, lideranças, empresários e a sociedade poderão contribuir. O consenso pode não agradar a todos, mas ainda assim será um consenso”, reforçam.

Hora de agir

Para os prefeitos, este é o momento de reafirmar a força histórica do Rio Grande do Sul, um estado que sempre se orgulhou de ser aguerrido, bravo e exemplo nacional de resistência.

“Não somos contra obras. Não somos contra concessões. Somos contra a imposição, a falta de diálogo e a penalização de quem produz”, concluem.

Gestores defendem revisão urgente do projeto e mais participação dos municípios

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