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Seu Pit recorda a passagem dos tropeiros pela Avenida São Miguel, em Dois Irmãos

16/09/2019 - 10h39min

Atualizada em 16/09/2019 - 10h39min

Dois Irmãos – Com 73 anos, Aloísio Rubin Wendling, mais conhecido como Pit, recorda com intensidade e, também, saudade, os momentos vividos em Dois Irmãos, cidade em que nasceu e viveu desde criança.

Nascido em 6 de março de 1946, conta que, uma das atrações mais aguardada da época, e que mais traz recordações até hoje, era a passagem dos tropeiros pela avenida São Miguel. “Eu acho que eu tinha uns 10 anos de idade naquele tempo, mas jamais vou esquecer desses momentos. Mesmo pequeno, me sentava em um muro de pedra de taipa, que ficava em frente à nossa casa, e olhava os tropeiros passando com os animais”, conta Pit, lembrando do tempo em que a avenida ainda era de chão batido.

Como de costume, toda manhã Pit lê o seu jornal e conta histórias no posto de combustível (Créd. Cleiton Zimer)

Ele conta que os tropeiros vinham com os bois dos campos de São Francisco de Paula, passando pelo então distrito de Santa Maria do Herval e entravam pela rua Pedro José Kolling em Morro Reuter, onde, naquela época, ficava a rodoviária local – hoje Metalúrgica Reuter. “Os tropeiros entravam com os animais ali na rua. Na rodoviária eles pousavam, tomavam chimarrão e descansavam. Depois seguiam viagem, passando pela avenida São Miguel, indo até frigoríficos em Novo Hamburgo que realizavam o abate”, disse. Ele recorda que, naquela época, não existiam muitos frigoríficos e, dessa forma, os tropeiros precisavam levar os animais por vários quilômetros para o abate.

Pit comenta ainda que a comunidade parava para olhar as centenas de animais que passavam. “Eram muitos bois. Não eram aqueles bois grandes, com chifres enormes. Eram animais menores. Me lembro que eram vermelhos e brancos e, quando eles vinham, era muito lindo, se tornava uma verdadeira festa, todo mundo esperava pela passagem dos animais”.

Ele testemunhou, com seus próprios olhos, boa parte da história de Dois Irmãos surgir e acontecer. Seu Pit, recorda dos tempos em que os tropeiros vinham da Serra Gaúcha e passavam pelo centro da cidade, sendo, naquela época, uma das maiores e mais aguardadas atrações do município

Onde tudo começou

Filho de Felippe Alfredo Wendling, fundador da empresa Wendling, Aloísio recorda que o pai e o tio eram dentistas práticos. “Eles se formaram como dentistas em São Leopoldo, na década de 1940, sendo um dos primeiros a exercer a função na região. Iam de charrete e de cavalo atender os pacientes. Por 15 anos eles trabalharam nisso e, depois, meu pai fez uma cirurgia nas pernas e coluna. Com isso, infelizmente teve que abandonar a profissão, pois não conseguia mais ficar em pé”, disse. “Me lembro que, uma vez, eu rasguei toda a camisa dele, pois queria extrair um dente meu e eu não deixava”, disse rindo.

Uma das primeiras frotas de veículos da empresa Wendling

Pit conta que, depois que o pai teve que abandonar a profissão de dentista, comprou um ônibus e começou com o posto de gasolina.

Experiências para a vida toda

Aos 14 anos de idade, Pit começou no seu primeiro emprego, sendo cobrador de ônibus na empresa do pai. Logo depois, passou a trabalhar com frentista no posto de combustível e, quando já tinha idade o suficiente, foi ser motorista de ônibus. “Eu fui o motorista do primeiro ônibus colegial de Dois Irmãos, e fiz isso por três anos. Foi uma época muito boa, de onde trago muitas recordações. Foi um período onde fiz muitas amizades, que se mantém até hoje”.

Pit chegou a iniciar seus estudos, fazendo faculdade de administração na Unisinos, mas não os concluiu. “Eu comecei a estudar, mas, como na época eu era motorista de ônibus, os horários não fechavam e, com isso eu não conseguia conciliar o trabalho com os estudos e, por isso, tive que abandoná-los”, comentou. “Mas com essa experiência que consegui na faculdade, eu trabalhei durante muito tempo na contabilidade na empresa Wendling”, comenta.

Registro antigo da Avenida São Miguel

Pit se casou com sua esposa, Maria Dolores, em 31 de janeiro de 1971, e tiveram dois filhos. Passados tantos anos, seu Aloísio permanece a empresa do pai, sendo um ícone reconhecido, que através da sua simpatia e das histórias que conta, marca presença na vida das pessoas.

Afinal de contas, ao abastecer o veículo, quem nunca viu seu Pit dando balas e doces para as crianças?

Comissário de menor

Seu Aloísio relembra dos anos que foi comissário de menor. “Eu fui Comissário de Menor, por 20 anos aqui em Dois Irmãos, prestando vários serviços para a comunidade. Também fui Conselheiro Tutelar. Além disso, fui, inclusive, Juiz de Paz, realizando até mesmo casamentos  na cidade”, disse. “Eu só estava em rolos, mas eram os meus amigos que arrumavam os problemas, eu só resolvia”, brincou.

Pit segurando neve, em meados de 1970

Corridas de carreteiras

Pit comenta que, uma das melhores lembranças que tem, é da época das corridas de carreteiras. “Isso faz vários anos, mas me lembro muito bem. A gente ficava aqui no posto Wendling, olhando os carros passar. Eles fecham a BR-116 para a corrida. Eram aquelas carreteiras da Ford, bem antigas. Era o chamado Campeonato Gaúcho de Automobilismo, a “alemoada” vinha toda para a BR para olhar a corrida”, comenta Pit, lembrando dos corredores Breno Fornari, Catarina Andreatta e seu filho Vitório Andreatta. “Eram os melhores”, disse.

No posto Wentling, Pit mostra um quadro com uma carreteira. (Créd. Cleiton Zimer)

 

Carreteira

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