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Aniversário de Dois Irmãos – 65 anos: morador descobre ata da fundação de clube de futebol fundado em 1.917

14/09/2024 - 08h04min

Atualizada em 14/09/2024 - 08h07min

Claudionor e Juarez apresentando o livro-ata inédito: “como esse livro-ata era do futebol, a minha mãe guardou, porque meus irmãos eram do futebol”

Livro-ata pode mudar a história dos clubes da cidade

Mauri M.ToniDandel

Dois Irmãos- Quem passar por uma casa antiga na rua Esteio (quase na descida para o Vale Verde) jamais vai imaginar o tesouro que ela guardou por várias décadas.
Recentemente, no sótão desta casa (que tem na sua fachada a data de sua função – 1.894), foi encontrado um livro-ata com mais de 100 anos e que relata a fundação de um clube que pode mudar a história esportiva da cidade, vindo a ser um dos primeiros clubes existentes em Dois Irmãos – e que não se tinha conhecimento.
Nota: então, confira nas páginas seguintes a continuação desta história (continua após os anúncios).

GRE-NAL

A fundação deste clube ocorreu em 1.917, portanto, 8 anos após a fundação do Sport Club Internacional (1909), em Porto Alegre e pouco mais de uma década da fundação do Grêmio Foot Ball Porto-alegrense (1903). Inclusive, nas atas é possível perceber termos que remetem à Dupla Gre-Nal (ou aos costumes da época), como “jogo de foot-ball” (assim como o Grêmio) e o próprio nome do time, que é Sport Club, assim como o Inter.

NOVA HISTÓRIA

O livro registra encontros, festas, reuniões e “match” (jogos, da época) durante três anos da história da fundação de um clube, chamado S.C. Brazil (com ‘z’), datado do início do século passado. Esse ‘achado’ levou o morador Claudionor Vier, o Cláudio, e o vice-prefeito Juarez Stein até o Diário para apresentar este tesouro com um objetivo nobre: reconstruir a história deste clube através da descoberta de familiares dos integrantes do S.C. Brazil.

ROMILDA SCHOLLES VIER

Mas, o tesouro encontrado na casa de Romilda Scholles Vier, viúva de Renato Vier (que dá nome à rua no Vale Verde) e mãe de Claudio, não pertencia a esta casa histórica de 1.894 citada acima.
O ‘segredo’ não era desta casa, mas, sim, de uma casa mais antiga ainda (em enxaimel) e que existia ao lado, onde hoje existe um atelier de calçados (antigo atelier do Marcelino Vier).

Em visita ao Diário quando apresentou o histórico livro-ata, Claudio contou que seu pai, Renato Vier (falecido em 1985) tinha o hábito de guardar livros e materiais históricos. Desta forma, este livro-ata acabou sendo arquivado por seu pai e foi guardado no sótão da casa da mãe quando a casa do suposto proprietário do livro foi desmanchada – na década de 1980.

HISTÓRICO

Com o falecimento da mãe há alguns anos, foi decidido pelos irmãos que Claudio iria cuidar do inventário e “mexer com a papelada”. Então, coube a ele encontrar, no sótão da casa da mãe, o livro-ata do S.C. Brazil, o qual pode vir a mudar a história dos clubes de futebol de Dois Irmãos, pois até hoje se tem conhecimento de que o Tiradentes teria sido o primeiro time da cidade. Conforme Juarez Stein, este livro-ata é “um documento muito antigo e fala de um clube que nunca se ouviu falar”.

Mas, este livro não era do pai de Cláudio, e sim, de um morador vizinho seu, que vendeu sua casa ao Renato Vier. O morador que guardou este livro-ata histórico era Affonso Fick, que pertencia à comunidade luterana dava doutrina para as crianças.
“Foi combinado que enquanto esse senhor vivesse ele continuaria morando na casa antiga e depois que ele falecesse, as coisas e a casa antiga automaticamente ficaria para meu pai”, explicou. E isso que aconteceu, o Affonso morreu no final da década de 70 e “essa casa passou para meu pai”. “Naquela época, essa casa se transformou no nosso ‘paiol’, era onde a gente guardava prensa de banha, feijão, as ferramentas, essas coisas… E as ferramentas que ele tinha e que tinha serventia, nós usamos. E as outras coisas, o pai pegou e guardou no forro da casa da mãe”, relembra, destacando que este livro estava ‘nestes guardados’ até agora.
Quando indagado sobre a destinação desta casa (já que hoje existe um prédio onde funciona um atelier), Cláudio conta que era uma casa enxaimel feita com madeira, barro e palha e que depois foi feita uma troca entre seu pai e o então prefeito Romeo Wolf. “Eram tempos diferentes, então, a negociação entre meu pai e o Romeo era que a Prefeitura faria a calçada na frente da casa e meu pai daria a casa antiga para a Prefeitura”, relembra, frisando que, então, veio um carpinteiro e demais funcionários da Prefeitura e desmontaram e marcaram peça por peça conforme foi desmontado e foi guardado no Vicente Henemann (atual Global). Então, Juarez “abriu um parênteses”, destacando que “o sonho do ex-prefeito Romeo era fazer uma aldeia alemã, como uma vila com igreja e escola antigas” [foi nessa época que Nova Petrópolis construiu a Aldeia do Imigrante].
Em relação ao restante das coisas da casa antiga, como um baú e uma cama antiga, o morador relembra que sua mãe deu ou vendeu para um casal de São Sebastião do Caí que apareceu na cidade comprando ‘essas coisas antigas’. “Então, como esse livro-ata era do futebol a minha mãe guardou, porque meus irmãos eram do futebol, daí ela guardou. O restante ela ‘deu tudo embora’ para esse casal”, conta.

Quem era Affonso Fick, o antigo morador que guardou o livro-ata

O dono da casa e que guardou o livro-ata foi um dos fundadores do S.C. Brazil: Affonso Fick tem seu nome registrado na ata de fundação do clube.
As terras do Affonso começavam na caixa de água da Corsan (próximo a rua Pedro Gregórius) e ia até a BR-116. Segundo Cláudio, Affonso dava doutrina para as crianças e nos finais de ano ele que organizava os corais para cantar nos cultos. “Ele tinha livros, cadernos, livros antigos que escrevia, tinha livros do coro da comunidade e isso tudo o pai pegou e guardou no sótão da casa da mãe”.

Casa antiga em cujo sótão foi encontrado o livro-ata escrito em 1.917

 

 

Familiares podem ajudar a contar a história do S.C. Brazil

Este livro-ata histórico pode estar contando a história do primeiro clube esportivo da cidade e um dos primeiros do Estado. Mas, a motivação desta pauta não é mudar a história, mas, apenas fazer com que possa se fazer a descoberta de mais fatos históricos e descobrir até familiares destes associados para ajudar a contar parte da história do clube e também de Dois Irmãos. Sim, por este motivo, esta matéria foi arquivada para ser publicada neste caderno. Então, a pergunta que fica é: alguém tem mais documentos em casa para ajudar a descobrir mais fatos acerca deste clube?

Este time pode ser ou não a base de um dos atuais clubes de futebol de Dois Irmãos?

ONDE ERA O CAMPO?

Depois de analisar o livro-ata, Juarez Stein conta que os associados do clube fizeram tudo certinho, com várias anotações de festas, jogos e eleições das novas diretorias. Contudo, algo chamou a atenção dele: “Eles não mencionaram onde era o campo de futebol deles”. Além disso, o local ou sociedade onde foi realizado o baile também não está no livro ata: “Em duas ocasiões fizeram baile, fizeram um evento, agradecem as moças que deixaram o salão organizado, mas não dizem onde foi realizado este baile”, questiona Juarez.

FORÇA COMERCIAL

Na listagem de nomes, alguns deles podem não ter sido jogadores, mas eram associados. “Este clube pode demonstrar a que seria a força comercial mais ao norte de Dois Irmãos. Boa parte da força econômica está aqui neste time”, destaca Juarez, pois ele pesquisou o nome de alguns integrantes do clube, onde aparecem “figuras importantes da economia da cidade, tanto que dois que tiveram comércios na cidade”. Entre os exemplos, Theobaldo Engelmann era avô de empresários ligados a indústria calçadista,e enquanto Anibal Krug tinha uma cervejaria.

LEOPOLDO PETRY

Outro ponto que chamou a atenção de Juarez (que tem mais de 10 livros escritos sobre a história de Dois Irmãos) é que o livro traz, entre os vários nomes, um senhor falecido que está no cemitério evangélico: “Tem uma sepultura ali, o nome é Leopoldo Petry, que nasceu em 1876 e morreu em 1921” [e não foi o ex-prefeito de Novo Hamburgo].

“Escrita à pena?” A primeira ata é do ano de 1917

As reuniões do time eram feitas na frente da igreja do relógio (Evangélica) onde existia um salão de bailes, bar e armazém. A primeira ata que falava da fundação foi anulada. Então, em uma página seguinte, há outra ata sobre a criação do S.C. Brazil.

A ‘acta’ de fundação do clube traz a assinatura de Affonso Fick, que guardou o livro por quase 100 anos

 

 

CONFIRA A ATA 1:

“Aos vinte e um dias do mês de novembro do ano de mil novecentos e dezessete, presentes 11 sócios reunido na casa de Luiz Petzinger, a fim de tratar da fundação de um Club de Foot-Baal, do nome que devia se tornar o mesmo, sendo por unanimidade de votos proclamado o nome de Sport Club Brazil e em seguida tratou-se de eleger a primeira diretoria, que deve reger o destino da mesma durante o ‘anno’ de 1.917 e 1.918, sendo proclamada a seguinte diretoria: Carlos Leuckert, presidente; Luiz Petzinger, vice-presidente; Alban Petry, 1º secretário; Theobaldo Engelmann, 2º secretário; Arthur Petry, 1º ‘thesoureiro’; Pedro Müller Filho, 2º ‘thesoureiro’; 1º capitão, Armandio Schuler, 1º guarda-Sport, Anibal Krug; Alfonso Fick, 2º Guarda Sport, Arthur Lampert e Osório Mello, respectivamente, 1º e 2º diretores, deixando de se eleger o ‘porta standarte’ e o 2º capitão por falta de sócios, os quais serão ‘opportunamente’, quando tivermos mais número de sócios. Não havendo mais nada a tartar, foi encerrada a sessão, que vai ‘assignada’ de toda a ‘directoria’.

Dois Irmãos, aos 21 de novembro de 1917.

Carlos C. Leuckert
Luis Petzinger
Alban Petry
Theobaldo Engelmann
Artur Petry
Pedro Müller Filho
Amandio Schuller
Anibal Krug,
Affonso Fick,
Osório Mello
Artur Lampert

A ÚLTIMA ATA

O livro-ata começa na ‘acta’ 01 e vai até a ata de assembleia geral número 8, depois disso, várias páginas do livro foram arrancadas.
Nesta última ata, diz que a reunião foi realizada ano dia 8 de abril de 1920 na sala do senhor Luiz Petzinger, que foi convocada para tratar de uma festa esportiva, a fim de eleger a comissão que cuidaria do evento”.

Última ata que aparece é essa, a partir dali, as folhas foram arrancadas Di aniver sc brazil ultima ata

EM TEMPO

Quando encontrou o livro-ata, Cláudio procurou Juarez Stein pelo seu trabalho em relação a história e pediu para que ele contatasse Mauri ToniDandel do Diário para apresentar o livro a fim de publicar no Túnel do Tempo.
A visita aconteceu em abril deste ano, mas o conteúdo ficou arquivado para ser publicado no tradicional Especial Histórico do Aniversário de Emancipação).

CURIOSIDADES DO LIVRO-ATA

– O livro temo adesivo da Livraria Universal Agência de ‘Jornaes’ – fábrica de livros em branco, de Porto Alegre, rua dos Andradas, 501.
– A ‘acta’ de assembleia 1 foi tornada sem efeito.
– Na página 2, tem a ata de fundação do time (transcrita nesta reportagem).
– Na página 3, inicia a listagem dos sócios ‘effectivos’.
– Na página 5, continua a lista de sócios, do 25 ao 58.
– Na página 6, a ‘acta’ de assembleia geral número 3, que escolheu nova diretoria.
– Da página 7 à 9, o quadro de sócios aumenta e segue do 58 até o 94, onde também teve ata para tratar de uma ‘festa esportiva’ em 1918.
– Em seguida, seguem a ‘acta’ 5 a 8, sobre realização de ‘festas sportivas’ (‘match’ – jogo – seguido de baile) e troca de diretoria. A última ata foi feita no dia 8 de abril de 1920.

Uma das atas do clube que fala de um evento com “match”

PODE SER UM FAMILIAR SEU?

Veja se você conhece algum destes nomes

Se hoje é difícil para uma sociedade, time ou partido político conseguir 100 nomes ativos, imagine o que significam estes números em 1917.
Sim, para a época, o número de associados do S.C. Brazil é algo quase surreal. São quase 100 associados há mais de 100 anos, quando a cidade tinha bem menos moradores.

VEJA SE VOCÊ CONHECE

Dessa forma, estamos publicando a listagem de todos os associados que constam no livro histórico do clube. Sendo assim, é feito um pedido a cada leitor para que verifique se algum destes nomes não é de algum ancestral seu, para, a partir daí, ser possível começar a contar um pouco mais da história do S.C. Brazil e sua relevância no cenário esportivo local e também como clube social.
Este é, na verdade, o objetivo desta publicação: encontrar familiares dos associados do clube para poder contar a história deste que pode ter sido o primeiro clube esportivo de Dois Irmãos e um dos primeiros do Estado do Rio Grande do Sul.

LIVRO-ATA

Dá página 3 até a 9, intercalada por atas de reuniões, foram publicadas listas dos sócios do clube.
Na página 3 estão os primeiros associados, do número 1 até o 27. Em listagem seguinte, estão os demais nomes. Além dos nomes dos associados, percebe-se que posteriormente foram feitas anotações como falecimentos, licenças e até demissões.

Nesta página estão alguns dos associados do clube em 1.917: “incrivelmente eles tinham quase 100 associados naquela época”.

Sócios ‘Effectivos’

Os associados que pagam sua jóia e mensalidade são ‘sócios effectivos’ e esses são os seguintes:
1- Alfredo Muller
2- Alban Petry
3- Luiz Petzinger
4- Leopoldo Petry
5- Amandio Schuter
6- Theobaldo Engelmann
7- Balduino Lampert
8- Affonso Fick
9- Anibal Krug
10- Artur Petry
11- Willy Petzinger
12- Artur Lampert
13- Walder Muller
14-Thealmo Konrath
15- Antonio Wingert
16- Affonso Saueressig
17- Albino Linck
18- Fernando Muller
19- Oscar Schneider
20- José Staudt
21- Artur Müller
22- Emilio Müller
23- Pedro Müller Filho
24- Carlos C. Leuckert
25- Osorio Mello
26- Carlos Konrath Filho
27- Theodoro Konrath
28- Fernando Kuntzler
29- Emilio Fick
30- Jacob Schmitt Netto
31- Frederico G. Braun
32- Clemente Jung
33- João Kordorfer
34- Artur Lorentz
35- Edmin Dinstmann
36- Guilherme Kollet
37- Balduino Schneider
38- João Mello
39- Alfredo Dexheimer
40- Jacob Blos
41- Waldemar Jung
42- Alfredo Arnecker
43- Carlos Kappes
44- Christiano Dienstmann
45- Otto Schneider
46- Arno Prass
47- José Vier
48- João Klauk
49- Alfredo Bender
50- Friderico Guilherme Mayer
51- Leopoldo Werle
52- Willy Feldens
53- Otto Muller
54- Arthur Sander
55- Jacob Lampert
56- Germano Leuckert
57-Helmutt Hoppen
58- Osvaldo Krammer
59- Arthur Dienstmann
60- Carlos Dienstmann
61- Adolfo Schuch
62- Arthur L. Konrath
63- Jacob Zimmer
64- Affonso Kieling
65- Pedro Antonio Mello
66- Jacob Kappes
67- Theobaldo Auler
68- Emilio Becker
69- Carlos Becker
70- Arthur Engelmann
71- Felippe Arnecke
72- Otto Henrichs
73- Theobaldo Feiten
74- Guilherme Hugo Hoppen
75- Alfredo Collet
76- Emilio Engelmann
77- Carlos Gallas
78- Thobaldo Blauth
79- Reinaldo Koch
80- Bendo Flech
81- Pedro Frederico Gallas
82- Arnaldo Pereira da Silva
83- Theobaldo Schneider
84- Willy Skonetzky
85- Fridolin Schuck
86- Balduino Sander
87- Nicolau Rausch
88- Frederico Hennemamm
89- Antonio Vargas
90- Henrique Meyrer
91- Edmundo Henrich
92- Guilherme Muller
93- Leonardo Lehnem
94- Frederico Jochann

*Lista que consta no livro-ata de 1917, antecipamos escusas caso algum nome não tenha sido transcrito de forma correta em virtude da interpretação da letra.

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