Conecte-se conosco

Cadernos

Aniversário de Dois Irmãos – 65 Anos – O dois-irmonense sempre volta

16/09/2024 - 15h47min

Ismael e seu livro sobre gestão

“A vontade de voltar a viver a cidade, a comunidade, e o jeito único de conviver que existe dentro da cidade de Dois Irmãos”

Por Ismael Kolling

Me mudei a primeira vez de Dois Irmãos aos 17 anos para tentar realizar o sonho de ser jogador de futebol. Junto comigo, um grande amigo, um grande jogador, com o mesmo sonho que o meu: Fabio Vier, que era certamente bastante mais jogador do que eu era.

Ser um jogador de futebol já é muito difícil pela competitividade por uma oportunidade. Aliada a isso, existe uma dura realidade: péssimas acomodações para atletas, falta de estrutura na base, alimentação inadequada, e um ambiente de convivência pouco saudável, com realidades de vida quase sempre muito duras, que refletem em suas atitudes. Algo muito diferente de alguém que nasceu em uma cidade com uma estrutura de sociedade como Dois Irmãos. Muitas vezes usamos o dinheiro de nossas famílias para comprar algo melhor para comer aos nossos parceiros de alojamento.

FUTEBOL

Os dias, semanas, meses vão se passando. As dificuldades vão se somando, e algum cansaço vai batendo. Aí você lembra da sua cidade, da sua família. Aquele convívio que se criou dentro dos nosso tão queridos clubes tradicionais: o “7”, o União, o Vila, a Santa Cecília, a Atiradores. Os clubes festivos, os chimas na praça. Quem não teve uma turma incrível que se encontrava sempre nos mesmos lugares? Ah, aqueles sábados e domingos no centro com os amigos, o campeonato municipal, o estadual amador, o torneio de verão com o Hans suando atrás do balcão e o seu Pilz atendendo o pessoal nas cadeiras de palha.

São tão boas lembranças que você quer reviver aqueles momentos. E fica mais difícil aguentar algumas dificuldades. E muitas vezes, o dois-irmonense volta, pois de onde ele saiu, as dificuldades pareciam tão mais simples de serem superadas.

VIAGENS

Tive a oportunidade de viajar para todos os estados do Brasil, que me foram geradas por uma grande empresa da cidade. Visitei mais de 30 países, fiz amigos em vários lugares do mundo. Vivi experiências que muita gente sequer sonha em viver, e que, para outros, são coisas triviais. E sempre quis voltar para andar pelas ruas sem me preocupar com o celular, cumprimentar a maioria das pessoas que eu encontrasse. Queria viver aquilo que eu não encontrava em nenhum lugar: o sentimento de pertencimento que eu só vivi nessa cidade.

O COMEÇO FOI EM DOIS IRMÃOS

Constituí minha primeira empresa em Dois Irmãos. Nenhum dos meus clientes era da cidade, era muito difícil contratar profissionais do meu segmento. Mas ainda assim eu queria que fosse na minha cidade para viver ela por mais tempo. Algum tempo depois, se tornou inevitável ir morar em uma grande capital, e assim eu fiz. Mas quando algumas situações se tornaram mais difíceis, minha decisão para resolver meus problemas foi comprar uma casa e voltar para minha Dois Irmãos.

Por muito tempo eu tentei entender o que fazia com que eu sempre quisesse voltar. Por que isso acontecia comigo? Parecia que eu desistia de alguns projetos, de sonhos e vontades, e algo me puxava de volta pra Dois Irmãos. Tenho dois filhos que foram gerados fora da cidade, mas até para o local de nascimento deles, escolhi a cidade que me viu crescer.

BOA SENSAÇÃO

A sensação de estar junto aos seus é muito forte. Nunca fui unanimidade entre as pessoas do meu convívio, e muitas vezes estando em Dois Irmãos me vi em lugares em que algumas pessoas não gostavam de mim ou falavam mal pelas costas. Até essas situações vistas como ruins, só ocorrem em ambientes que em que você tem alguma importância. E talvez aí esteja a chave principal desse desejo de sempre querer voltar.

Nossa região tem uma cultura muito forte de proteger os seus, e te fazer sentir alguém relevante. Demoramos a acolher, demoramos a confiar, tardamos demais em receber as pessoas como se fossem iguais a nós. Temos muita dificuldade com “os de fora”. Mas no momento em que essa conquista ocorre, você estará em casa, será “família”. E assim como em algumas famílias ocorrem desacordos, isso poderá ocorrer, mas você sempre se sentirá parte dali.

Temos bons amigos dois-irmonsenes vivendo nos Estados Unidos, na Europa, na Ásia, e muitos espalhados por vários estados do Brasil. Em praticamente todos eles reina um sentimento muito forte: a vontade de voltar a viver a cidade, a comunidade, e o jeito único de conviver que existe dentro da cidade de Dois Irmãos. Quem sabe um dia eu volto, quem sabe tantos outros voltem, e possam sentir aquilo tudo outra vez.

Ismael em uma imagem que simboliza o conteúdo do texto, de um reencontro com os amigos do Hooligans

Em um São Bei Kerb, encontro com amigos em Dois Irmãos ARQ.PESSOAL/CRIS HANSEN

 

Conteúdo EXCLUSIVO para assinantes

Faça sua assinatura digital e tenha acesso ilimitado ao site.