Cadernos

Aniversário Nova Petrópolis: A grandeza aos céus do Tannenwald

14/03/2018 - 15h48min

Atualizada em 10/04/2018 - 13h28min

Quando Armando Birk, 95, iniciou sua história no lugar que pelos altos pinhais ficou conhecido como “Tannenwald”, uma das obras mais tradicionais da localidade possui até hoje o esforço e o suor da família pela construção dos tijolos da Igreja Católica.

OLARIA

“Eles colocavam dois burros para revirar a terra dentro de um buraco, fazendo voltas”, conta. Entre um gesto e outro, Armando organiza suas lembranças de uma vida inteira no Pinhal Alto, como quem reconstói seus áureos momentos. Lá, seu pai, Gotilb Birk possuía uma olaria, onde cerca de 20 mil tijolos eram feitos, em torno de 20 dias, os quais também contavam com o trabalho da comunidade. “Tinha que ter cuidado para mexer com os tijolos, eu não me lembro muito bem, mas demorava uns 20 dias para retirar cada leva”, explica.
Dessas levas a Igreja foi erguida em 1929, o que para Armando não demorou muito, visto o empenho das famílias. “Todos os tijolos que estão lá foi meu pai quem fez. Ela foi construída por nós e a comunidade, a mão”, lembra.

Momentos como o trabalho na roça e o período de Guerra, também marcam sua história


FAMÍLIAS

Além da religiosidade, as 46 famílias que firmaram morada no Pinhal Alto, todas alemãs, tinham como principal fonte de sustento o trabalho no campo. Armando também trabalhava na roça, com todas as dificuldades que os imigrantes passaram, e, ao sair da colônia para trabalhar em um hospital, em Gramado, novos desafios surgiram. Dali aprendeu o português, logo foi chamado para o Quartel Militar, onde passou por São Leopoldo e Santa Maria até ser dispensado, em 1945.
Armando conciliava também as rotas de produção. Naquela época, as viagens para trocar mercadorias eram longas e quase que em tropas. As famílias se reuníam e com carroças de burros iam até Novo Hamburgo. “Se plantava de tudo para comer e trocar. Eram sete burros que puxavam a carroça, se saíam na segunda-feira, voltavam na outra”, comenta.

A GUERRA

E, como nesses registros, as marcas da guerra também passaram por Tannenwald. Ao ser questionado sobre o período, Armando faz uma breve pausa na fala, se posiciona melhor no banco e com o tom de voz mais baixo retoma o assunto. “A 2ª Guerra começou em 1938 e terminou em 1945. Em qualquer lugar que se ia, tinha polícia. Se nós falassemos alguma palavra em alemão”, com os dedos, continua a resposta. “eles iam em cima de nós e batiam. Esses eram os brasileiros”.
Assim como outros alemães, Armando suportou o período, apesar de também ser agredido. “Uma vez em um baile, nós estávamos trabalhando na cozinha e tinha um rapaz que não falava em português. Então começaram a falar com ele, mas ele não sabia nada! Aí acabei falando em alemão e eles vieram pra cima de mim”. Em outra pausa, Armando conclui. “Depois que a guerra terminou, aí se acalmou. Essa época, a gente lutava muito”.

A CERIMÔNIA

Porém a história retorna ao seu ponto de partida. A Igreja construída pelos tijolos de seu pai foi palco de outro momento histórico em sua vida, o casamento. Ainda trabalhando no hospital, Armando conheceu sua esposa, a qual, fez questão de ressaltar a data da cerimônia. “Em 23 de novembro de 1946 nós nos casamos. Ela era evangélica, então veio para católica e lá nos casamos”.
Hoje, em meio aos filhos, Armando segue observando os altos pinhais do “Tannenwlad”, viúvo há quase 12 anos, leva junto ao chão onde foi criado suas conquistas como alicerce, assim como a Igreja.

Igreja foi construída em 1929 com ajuda da comunidade

Copyright© 2020 - Grupo o Diário