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A história de Anna Wagner, parteira e primeira escritora de Santa Maria do Herval

11/05/2020 - 19h35min

Anna Wagner, parteira e primeira escritora do Herval (FOTO: Arquivo pessoal/Família Kuhn)

Santa Maria do Herval – Anna Wagner é considera a primeira escritora do município, com vários registros históricos escritos no Familienfreund Kalender e, além disso, foi parteira e até hoje é lembrada pelos diversos partos que realizou, principalmente em Boa Vista do Herval e nas localidades próximas. Ela nasceu em 1891 e faleceu em 1975, aos 84 anos. Permaneceu solteira e não gerou filhos, mas teve uma vida plena, de muito amor pelo próximo.

De acordo com a pesquisa feita pela historiadora Solange Johann, ela é neta dos imigrantes Theodor Krötz e Johanes Wagner, que são dois dos fundadores de Santa Maria do Herval. Anna é filha de Maria Margaretha Krötz (filha mais velha de Theodor) e de Johann Wagner F. (filho mais velho de Johanes). No total, a família tinha 11 filhos.

Casa de Johann Wagner e Margaretha em Boa Vista, nos fundos do Frigorífico, em dia de festa. Margaretha Kroetz Wagner, à esquerda. Anna nos fundos, em frente à janela da casa (FOTO: Arquivo / Solange Johann)

Amorosa

Maria Liana Broilo, de 72 anos, conviveu boa parte da sua infância com Anna, que era sua madrinha, e conta que ela nasceu e cresceu na localidade de Linha Marcondes e, posteriormente, se mudou para Boa Vista do Herval. “Ela também foi para Santa Catarina durante uns 10 anos, junto com o irmão Aloycio. Depois disso retornaram para Boa Vista”, contou ela.

Anna Wagner

Anna permaneceu morando com o irmão. Depois que ele faleceu, ela ficou morando sozinha na antiga casa de madeira, na qual ainda hoje moram pessoas. Liana conta que quando era pequena, as vezes ia dormir com Anna para lhe fazer companhia. “Quando fui para o Colégio Auxiliadora em Canoas sentia muitas saudades dela, chorava. Ela também tinha e até pediu para minha mãe me trazer de volta”, recordou, dizendo que permaneceu lá estudando. Liana se formou e lecionou durante 10 anos em Boa Vista do Herval. “Quando dava intervalo na escola, ia na casa dela conversar um pouco, tomar um chimarrão”, relembra, falando dos saborosos cafés e jantas que ela preparava.

Ia de cavalo fazer os partos

Liana diz que Anna estudou para ser parteira em Gramado. “Ela era muito eficiente. Chamavam-na para atender e quase sempre ela resolvia tudo. Só quando era um caso mais complicado que tinham que levar para o hospital; mas só uma vez ou outra levaram”, contou Liana, dizendo que ela gostava muito da sua profissão e, por isso, conseguia executar tão bem. “Ela era muito legal e todos gostavam dela”, disse.

Conta ainda que vinham pegar ela de cavalo em casa quando chegava a hora do parto. “As vezes os homens a buscava de madrugada; não tinha hora. Vinham com dois cavalos ou, quando só tinha um, ela ia no lombo enquanto os homens caminhavam”, recordou.

O velho berrante

Anna permaneceu morando sozinha até pouco antes da sua morte em 1975, e está sepultada junto com seu irmão Aloycio em Boa Vista do Herval. Ela tinha um velho berrante e, quando tinha alguma emergência, por não estar se sentindo bem ou algo parecido, ela o usava para chamar os vizinhos. Alguns meses antes da sua partida, ela foi morar com a família de Liana, onde sua mãe Emelda Kuhn (sobrinha de Anna) a cuidou. Emelda e seu marido Aloísio Kuhn tinham uma mercearia em Boa Vista do Herval.

“Fez o parto das minhas três filhas”

Das cinco filhas que Maria teve, os três primeiros partos foram realizados pela Anna (FOTO: Cleiton Zimer)

Maria Ledi Backes, de 75 anos, recorda que Anna fez o parto de três de suas filhas, e as outras duas nasceram no hospital, todos de parto normal. “Quando minha primeira filha Rosane (que tem 55 anos hoje) nasceu, foi muito difícil. A Anna ficou oito dias direto comigo para me acompanhar e cuidar. Tiveram que me transportar para uma outra casa, porque a qualquer emergência eu teria que ir para o hospital e, lá onde morávamos, seria difícil sair rapidamente”, recorda, falando que na época tinham poucos veículos.

Mesmo depois que fez o parto, Anna ainda acompanhou Maria, ajudando-a até que se recuperasse.

Maria destaca que ela era uma mulher muito boa e tinham muito convívio, pois moravam próximas uma da outra. “Quase todo dia ela vinha na minha casa tomar chimarrão ou um café. Ela também fez os partos da minha irmã e nunca cobrou nada por isso”, afirmou.

Livros de Anna

Livros de medicina que Anna usava

 

A história de Anna ainda é preservada nas lembranças de familiares e na memória de todos aqueles que ela ajudou de alguma forma ou de outra. Alguns dos livros de medicina que ela usava e também outros livros, arquivos e cartas, ainda estão guardados na casa de Sônia Maria Kuhn, que é filha de Emelda Kuhn que cuidou de Anna antes de sua morte.

Nos livros, Anna estudava e se preparava para realizar os partos.

 

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