Cadernos

Casarão do século XIX revitalizado na Picada Schneider em Presidente Lucena

08/11/2019 - 15h05min

Da janela do sótão do casarão de mais de 150 anos, herdado por Verinha Sidonia Vogel, em Picada Schneider, esticando bem o braço é possível colher deliciosas jabuticabas. De cada janela de abas abertas se observa uma paisagem diferente e encantadora. Verinha nasceu no casarão que ocupa parte de aproximadamente 30 hectares da propriedade, diz que está vivendo um sonho. “Me sinto 30 anos mais jovem”, diz ao descrever o sentimento de retornar à casa onde nasceu. Há cerca de um ano a casa foi revitalizada e chama atenção pelos detalhes da época da construção que acredita-se tenha sido no final do século XIX.

Ela morou algum tempo em outro imóvel, e agora divide-se entre a casa que construiu com o marido e a que herdou, onde são preservados diversos itens do tempo em que os antepassados viveram na moradia. A casa pertenceu à família Heylmann, sendo herdada pelo casal Pedro e Olga Heylmann, que eram agricultores. No porão da residência a família costumava preparar vinho e vinagre, além do sótão ser utilizado para guardar diferentes utensílios, alguns deles preservados, como o molde que o avô de Verinha usava para confeccionar calçados.

Posteriormente, a filha única do casal, Nilda Sidonia casou-se com Guido Becker e o casal passou a residir na edificação, como era o desejo de seu pai. A casa passou por algumas modificações como a construção de um anexo, em meados de 1985. Além disso, foi aberta uma porta que dá acesso a cozinha e que foi integrada num dos cômodos da casa principal no ano de 2000.

Olga Hylmann e Pedro, avós de Verinha com os afilhados Norma Prass Garcia e João Carlos Garcia. Arquivo pessoal

Edificação típica da arquitetura enxaimel

A edificação é um exemplar típico da arquitetura enxaimel. Tem a estrutura de madeira com encaixes, travada por tarugos de madeira (similar aos pregos). A alvenaria de vedação é de tijolos maciços de barro cozido. Estrutura do telhado e de piso de madeira, assim como de madeira são os pisos, forros e esquadrias. Está assentada sobre uma base de pedra grés aparelhada irregular, e os degraus de acesso também são de pedra, assim como o piso que liga a casa a antiga cozinha, também enxaimel e telhado coberto com telhas de zinco.

É nesta cozinha que Verinha e o marido, Arlindo, saboreiam o mate diário, ao lado do fogão a lenha. Nos fundos da casa, um antigo forno de tijolos de barro foi reconstruído. Verinha diz que recorda da avó retirando do forno rosca de polvilho e pão caseiro quentinho, cujo cheiro se espalhava pela localidade.

Duas das filhas de Verinha nasceram no casarão e assim como ela, tiveram uma infância deliciosa com brincadeiras como jogo de amarelinha desenhado no quintal, com cacos de telha ou pedaços de pratos de porcelana. As bonecas no seu tempo eram feitas de sabugo de milho, mas ela lembra de ganhar outras mais modernas das tias que moravam em Estância Velha. Verinha estima o tempo de existência da casa considerando que se o avô fosse vivo hoje teria 100 anos e ele já havia ganho a casa de seus avós. Diz que cinco gerações da família já moraram na casa que ela agora desfruta com alegria e emoção, mantendo tudo o que for possível, como uma homenagem aos antepassados.

Objetos antigos foram recuperados e são preservados no porão

Lembranças que emocionam

Aos 61 anos, recorda do tempo de criança quando voltava da escola e já tinha responsabilidades como cortar pasto para os animais e levar lenha para dentro de casa. E se fosse noite de comer batata, como é costume germânico, tinha que ajudar a descascar. Diz que no porão seu avô carneava porcos que ele mesmo criava na propriedade. Ele plantava milho para alimento da criação, entre outras culturas pra subsistência.

Em partes externas da casa foram fixadas argolas de ferro, onde eram amarrados os cavalos em tempo de kerb, quando familiares vinham dias antes da festa para preparar deliciosas comidas típicas. Verinha e Arlindo são pais de Denise e Lenise, que nasceram no casarão e Lucas que não nasceu no imóvel, mas morou nele por cerca de um ano. Todos eles guardam recordações dos bons tempos que viveram no imóvel.

Copyright© 2020 - Grupo o Diário