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Família Bock mantém tradição de produzir vassoura de piaçava

07/05/2019 - 16h17min

Há cerca de 20 anos a produção de vassouras de piaçava é garantia de renda para o casal de aposentados, Pedro Paulo, 74 anos e Nelsi Joana Bock, 68, no centro de Picada Café. Um dos mais populares utensílios de limpeza, a vassoura “de palha”, como é comumente conhecida, é feita artesanalmente pelo casal. Ele é a segunda geração da família a trabalhar no ramo, seguindo os passos do pai, Edwino Bock (in memorian). Mas foi sua esposa quem primeiro aprendeu o ofício com o pai de Pedro Paulo, e depois o ensinou, logo que ele parou de trabalhar, após 30 anos, num Curtume local.

O agricultor diz que começou a atividade após se aposentar e observar que pouca gente produzia este tipo de vassoura artesanal depois de seu pai. A matéria-prima principal é a piaçava, que ele cultiva, mas também compra de outros produtores. “As vezes vem alguém e pede semente de vassoura”, brinca Pedro Paulo que adquire a piaçava em grandes quantidades de produtores locais e de Rolante.

Nelsi diz que o sogro já estava com mais idade, beirando os 80 anos, quando ela pediu que lhe ensinasse. “Pensei em aprender para ter algo pra fazer depois que parei de cuidar dos filhos”, diz Nelsi que teve sua ideia aprovada pelo sogro. Diz que no início não foi muito fácil, mas logo pegou o jeito. O marido também concorda que o serviço é um pouco pesado. Mas, diferente do tempo de seu pai, ele criou ferramentas que facilitam a produção, como uma máquina que o filho viu na TV e depois mandou fazer, que tira as sementes da piaçava em poucos minutos. “Com a máquina, em uma hora é possível preparar piaçava para mais de 100 vassouras”, diz Pedro Paulo.

Segunda geração preserva costume

Ele conta que lembra de quando criança seu pai queixar-se de dor nos braços depois de fazer duas vassouras no dia. Isso porque naquele tempo, a produção era ainda mais rudimentar, sendo as sementes da piaçava tiradas “no muque”, com um facão e uma tábua. O processo envolve várias etapas: plantar a piaçava, adubar, colher, limpar, classificar… Os filhos do casal, Leandro, que mora em Sergipe e a filha Neusa, bancária, optaram por trabalhar fora. Mas há outros interessados em aprender, como moradores de bairro vizinho que já manifestaram interesse. “Enquanto que eu puder, vou continuar fazendo vassouras”, diz Nelsi que considera a atividade um passatempo e fonte de renda.

A ideia de disseminar esse conhecimento foi sugerida pela Emter local e aprovada pelo casal. “NO dia 2 de maio a Emater trará oito pessoas interessadas em aprender a fazer vassoura”, diz Pedro Paulo que gostou da ideia de passar adiante o ensinamento. “Quem quiser fazer vassoura, quer aprender, nos estamos aí”, aponta.

Até pouco tempo, empresas da cidade ou de municípios vizinhos faziam pedidos grandes de vassouras, quando a produção chegava a cerca de 400 peças por mês. Hoje o casal produz em torno de 50 vassouras por mês. A venda é feita para amigos, vizinhos, mercados locais e sob encomenda e a produção tem continuidade o ano todo. “Se pedem pra comprar, dependendo onde mora, a gente leva em casa, sempre tem vassoura pronta”, diz Nelsi.

Feita em camadas

Já na entrada da casa de Pedro Paulo e Nelsi se observa ramalhetes de piaçava secando ao sol, um processo que demora entre quatro e cinco dias logo após a retirada das sementes, com a planta ainda verde. Pedro Paulo explica que tem um tempo certo para colher a matéria-prima para garantir um produto de qualidade. “Se colher no tempo errado a vassoura ficará escura”, aponta. Os cabos o casal atualmente adquire de empresa de Santa Catarina, geralmente comprados em grande quantidade.

A produção da vassoura é feita em camadas de piaçava e conta ainda, além dos cabos, com arame, pregos e barbante de plástico, que é costurado para firmar a piaçava. Acostumado a colher a piaçava, Pedro Paulo observa como é bonita, interessante e viçosa a segunda brotação da planta. “A gente corta rente ao chão e ela cresce de novo”, conclui.

Waldomiro Papke transforma bambu e cipó em cestos e balaios

Waldomiro Papke aprendeu sozinho a fazer os cestos de bambu (Créditos: June Kruger)

No bairro Floresta, o agricultor aposentado Waldomiro Papke, 69 anos, natural de Picada Café, também é exemplo de dedicação ao trabalho artesanal. Desde jovem, antes de ter 20 anos de idade, começou a produzir balaios de bambu/taquara e cipó, como faz até hoje, sendo um dos poucos a preservar esse costume no município. Conta que sempre achou bonito os cestos em bambu e encontrou na produção um passatempo e, ao mesmo tempo, uma forma de agregar renda

Uma das maiores dificuldades atualmente é a falta da matéria- prima, principalmente do cipó. Conversando em alemão, intercalando com poucas palavras em português, diz que pode demorar meio dia pra conseguir encontrar no mato cipó suficiente para produzir um cesto.

Mais recentemente, aprendeu com um vizinho a produzir cestos de cipó trançado. Os outros, aprendeu sozinho. Diz que desmanchou cestos velhos pra ver como eram feitos e aprendeu fazendo.
Waldomiro é o único da família a dedicar-se à atividade que ele faz quando não está na roça, com a esposa Leocádia, 71 anos, e o cunhado Alípio Heylmann, que vive com a família. “Ninguém quer saber de continuar fazendo os cestos”, diz o agricultor que tem um filho pedreiro e uma filha industriária.

Hoje, a maioria do que produz é sob encomenda. O que sobra, o cunhado vende de casa em casa. Diz que faz porque gosta mas nem toda semana se dedica aos cestos e balaios. Mesmo com a idade avançada, continua trabalhando na roça, garantindo o sustento com o que planta.

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