Conecte-se conosco

Cadernos

“Foi amor a primeira vista”, diz a prefeita Tânia da Silva sobre Dois Irmãos

16/09/2019 - 11h02min

Atualizada em 16/09/2019 - 11h02min

Dois Irmãos – Natural de Novo Hamburgo, a prefeita Tânia Terezinha da Silva relembra que se apaixonou por Dois Irmãos quando a viu pela primeira vez. “Foi amor a primeira vista, quando eu vim pela primeira vez vi que as casas não tinham grades, os jardins eram floridos, a cidade limpa. Então me apaixonei”, disse, relembrando que veio para o município quando participou do primeiro concurso público da cidade na área da saúde, realizado em 1989 – até então a saúde não tinha uma secretaria específica -, passando em primeiro lugar no concurso, sendo a primeira técnica em enfermagem de Dois Irmãos.

Vinda para Dois Irmãos

Em 1991, Tânia veio trabalhar em Dois Irmãos. “Eu comecei a trabalhar em uma unida móvel, em um ônibus, onde a gente ia nos bairros e nas escolas. Na época tinha técnico, médico e dentista”, relembra.

Conta ainda que em 1994 veio, definitivamente, morar em Dois Irmãos. “ Enquanto trabalhava, fui me envolvendo cada vez mais, com as pessoas e com o lugar, até que decidimos vir morar aqui na cidade”, disse Tânia, destacando que um dos motivos que fez com que viesse para o município, era a peregrinação diária que tinha que fazer, indo e voltando de Novo Hamburgo até Dois Irmãos. “Eu precisava de dois ônibus para me locomover todos os dias, tinha duas crianças ainda com fralda de pano, então era muito difícil”, relembra, dizendo que trazia seus filhos para a creche e as escolas de Dois Irmãos. “Ai eu tinha meus filhos por perto”.

Carreira política

Tânia comenta que sua carreira política começou de uma forma inesperada. “Tudo na vida tem explicação, e essa ainda não descobri”, brincou, mas destacou que sempre gostou do ofício da enfermagem. “Quando eu trabalho, gosto de conversar com as pessoas. Com a unidade móvel, eu ia em todos os bairros do município, ajudava muito, criando um vínculo com os moradores”, disse.

“Na época fui convidada pelo prefeito Renato Dexheimer, a ingressar no MDB (então PMDB). Estavam precisando de novas lideranças. Eu confesso que naquele momento eu nem sabia o que era estar dentro de um partido. Só que sempre gostei de muitos desafios na vida, e sempre tive um brilho nos olhos de querer fazer a diferença na vida das pessoas. Eu não sabia como, mas eu tinha esse desejo”, comentou.

Quarta vereadora mais votada

Em 1995 Tânia, concorreu a primeira vez como vereadora, sendo a segunda mais votada do partido e a quarta mais votada entre todos os vereadores. “Na época, fiz 590 votos”, informou. “Eu sempre digo que nem eu sabia direito o que era vereadora. Eu sempre pensava em mudar o mundo, mas depois que assumi meu cargo no legislativo, consegui ver as coisas com mais clareza”, disse.

Um elo

Tânia destacou que, quando assumiu como vereadora, decidiu seguir sua caminhada sendo um elo da comunidade com a Prefeitura. “Meu trabalho foi pautado em cima disso, pois a proximidade que se tem hoje, com as mídias sociais, não tinha na época. Era a Prefeitura, e ai o povo, pareciam distantes. Não sabia se era o certo, mas era o melhor que eu encontrava naquele momento. Então trabalhei quatro anos com esse foco, continuando também na área da saúde, não mais na unidade móvel, mas fui a primeira profissional de saúde do posto de saúde do bairro São João, onde trabalhei desde a inauguração até 2001”, relembra.

Vereadora mais votada da história

Em 2000 Tânia novamente concorreu à vereadora, ficando como suplente. Em 2004 foi convidada a concorrer novamente, mas não se candidatou. Permaneceu filiada ao partido e, na época, continuou trabalhando no Postão, no qual começou em 2001. “Eu fazia um trabalho muito importante que até então tinha, que era interligar a população com as equipes médicas, enfermagem, recepção, coordenar motorista, marcar exames e muito mais”, comentou.

Em 2008 novamente foi convidada a concorrer. “Novamente eu relutei, não queria mais concorrer. Mas ai entrou os 30% das cotas femininas que, se não é atingida, se perde um candidato homem. Então eu fui. Decidi nos últimos minutos da prorrogação. Tive que ser o que se chama de soldado do partido”, comentou, dizendo que, logo após assumir, começou a trabalhar. “Já que tive que ser candidata, comecei a trabalhar. Fui de casa em casa, sem recursos financeiros. Foi realmente sapato no chão e vamos lá”, disse, afirmando que estava com medo do resultado das eleições, temendo não se eleger. “Só que para a minha grande alegria, pelo trabalho realizado durante todos os anos, eu fui a vereadora mais votada na história de Dois Irmãos, com 2.055 votos. Nenhum vereador até então tinha atingido mais de 1.600 votos por exemplo. Então isso foi um marco, que se mantém até agora”, diz a prefeita.

“Temos uma cidade para nos orgulhar muito. Uma cidade organizada e ordeira. Mas cabe a cada um de nós, gestores e moradores, cuidar e pensar: que cidade nós queremos daqui a 60 anos? O que nós imaginamos? Se fecharmos os olhos, o que conseguimos imaginar para Dois Irmãos nos próximos anos? Esse recado é de parabéns e, também, de tema de casa: que futuro nós queremos para o nosso município?”

 

Nossa vida é pautada no

trabalho, e não na sorte

Em 2012, Tânia foi convidada para concorrer novamente, mas dessa vez à chapa majoritária, ao lado do atual vice Jerri Adriani Meneghetti (PP), por meio da coalizão (MDB-PP-PTB). Foi eleita a primeira prefeita de Dois Irmãos, em uma cidade com pouco mais de 30 mil habitantes, sendo a maioria de colonização alemã. “As pessoas as vezes me perguntam: ‘nossa como tu conseguiu ser prefeita em uma cidade alemã? Que sorte que tu teve’. E isso me incomoda um pouco, pois a nossa vida é pautada no trabalho, e não na sorte”, disse.

“Dois Irmãos me elegeu pela primeira vez em 1995, me relegou, embora ficando na suplência, em 2000. E em 2008 fui a vereadora mais votada. Ai vem a pergunta: será que os cidadãos de Dois Irmãos votaram em mim pela cor da minha pele, por eu ser mulher? Ou por acreditar que eu poderia fazer a diferença na vida delas, que poderia viabilizar projetos? É nisso que eu acredito”, reforça.

“A comunidade nos colocou como candidatos”

Tânia reitera que quem colocou eles como candidatos à majoritária foi a própria população doisirmonense. “Foram feitas várias pesquisas, e em todas aparecia meu nome, como podendo ser vice de qualquer candidato que eu agregaria votos. Isso foi muito gritante nas pesquisas, e os partidos aceitaram isso. Então a própria comunidade fez com que acreditassem no meu nome e no do Jerri”, comentou.

“Nos ironizaram”

Relembrando da campanha de 2012, Tânia diz que foi um processo bem difícil. “O prefeito da época tinha muito apoio. Então, quando nossos nomes, meu e do Jerri, foram divulgados para as urnas, os opositores nos ironizaram. Basicamente dizendo que: ‘ se os candidatos são eles, nem precisamos ir pra rua’. Mas nós fomos, novamente, de porta em porta, pedindo o apoio das pessoas”, relembrou Tânia.

“Suba, mas sem empurrar ninguém”

A prefeita ressalta que, em todo o período a disputa foi acirrada. “Quando chegou o mês de setembro, quem era favorável descobriu que estávamos crescendo, pois corríamos muito nos bastidores, só que já era tarde demais”, comenta. “Ai a estratégia foi ‘bater’, e não bate em mulher pois é a pior coisa que se pode fazer. Mostra o teu trabalho, suba as escadarias com tuas pernas, mas sem empurrar ninguém, pois teu sucesso não vai ser o mesmo”, enfatizou, relembrando que na época, a diferença do pleito foi de 610 votos. “Foi complicado, mas muito gratificante”.

Trabalho focado

Tânia relembra que, ao assumir, tiveram quatro anos muito complicados. “Nosso lema era trabalhar focado em olhar para frente. Se não tu fica seis meses falando mal do que saiu, para então começar a trabalhar, perdendo muito tempo justificando que não está trabalhando porquê o outro deixou assim. E esse tempo não se tem”, ressalta.

Prioridades

Dentre as dificuldades apresentadas, Tânia ressalta que, na gestão pública, é necessário elencar prioridades, principalmente em épocas com recursos escassos e defasados. Ela explica, usando a metáfora da família. “Vontade a gente tem de fazer muitas coisas, mas precisamos tratar a comunidade com uma família. Eu e o Jerri somos os pais, e a comunidade que nos elegeu são nossos filhos. Então as vezes os filhos nos pedem um telefone dos mais caros que tem. E ai sentamos e explicamos que não temos como comprar, pois precisamos pagar escola, passagem, comida, luz. Nós não podemos, e cabe a nós dizer que não. Não é que não seja merecido, mas naquele momento não podemos. E como gestores, temos a obrigação de ver isso”, conclui Tânia.

Reeleição

Em 2016, Tânia e Jerri se reelegeram, mas dessa vez com uma diferença de 3.115 votos. “Reeleição é difícil, pois quem estava administrando a cidade eramos nós. Assim, tivemos que justificar nossas ações. É mais fácil ir pela primeira vez, ai tu olha os problemas que os outros deixaram, mas na reeleição, tu coloca ao crivo do voto o trabalho que tu fez”, comenta.

Gargalos

Tânia comenta que as maiores dificuldades do município estão relacionadas com os recursos federais e, principalmente estaduais. “O Estado é aquela coisa: devo não nego, pago quando puder. E isso faz com que não tenhamos dinheiro para a mobilidade urbana, pavimentação, saúde. Quando não é repassado pelo governo, tiramos do caixa livre para suprir as necessidades básicas do município, e ai não conseguimos investir em outras prioridades”. Tânia ainda faz questão de lembrar que, quando o recurso atrasado chega, é sem correção monetária. “Ele vem nu e cru”.

Saúde

Devido aos problemas com os repasses, Tânia destaca que o setor da saúde é o mais afetado no município. “A questão hospitalar é desumana. O que vem do Estado já é pouco, mas se viesse pelo menos daria, o problema é quando não vem. A área da saúde é a mais afetada, pois além dos valores estarem defasados, os recursos não são repassados nos dias corretos, então existem atrasos de meses, chegando até um ano, e isso causa grandes danos para a municipalidade”, lamenta.

Realizada

Como prefeita e, também, pessoalmente, Tânia se diz realizada por ter sido escolhida para representar o povo. “Me sinto super realizada e orgulhosa da comunidade ter me escolhido para ser seu representante, tanto como vereadora e prefeita”, disse, relembrando os emancipadores. “Quero agradecer desde os emancipadores do município que tiveram a coragem de se emancipar de São Leopoldo, ficar sem nada e se reorganizar. Eles foram muito corajosos, e a partir desse momento se começou a construir uma sociedade muito organizada dentro de Dois Irmãos”.

Parabéns

A prefeita conclui parabenizando a cidade e todos os moradores pelos 60 anos de emancipação política. “Parabéns Dois Irmãos, parabéns a todos os prefeitos que já passaram, todos os vereadores, que sempre fizeram o melhor possível para construir o que temos. Afinal, nós realmente temos uma cidade para nos orgulhar muito, uma cidade organizada, ordeira, que prima pelo cidadão em primeiro lugar”.

 

CONFIRA ESSA E OUTRAS MATÉRIAS NO CADERNO DE 60 ANOS DE DOIS IRMÃOS QUE CIRCULOU NO DIA 10 DE SETEMBRO

 

Conteúdo EXCLUSIVO para assinantes

Faça sua assinatura digital e tenha acesso ilimitado ao site.