Cadernos
O tempo das Brizoletas e turmas multisseriadas em Dois Irmãos
Dois Irmãos – Com 72 anos, Liria Lúcia Lawisch, ou tia Liria, como é conhecida, recorda com muita emoção da sua carreira como professora, que iniciou em 1966, logo após concluir o Ginásio da época. Líria fez parte da primeira turma que se formou no Ginásio Noturno da época – trabalhava durante o dia e estudava à noite.
Liria fez parte da primeira turma que se formou no Ginásio, que foi criado logo após a emancipação política de Dois Irmãos. Ao se formar, tinha apenas 18 anos e, naquele mesmo ano, foi convidada para lecionar. “Naquela época, tinha poucos professores que eram formados. Então o Plínio Weber, primeiro Diretor de Ensino de Dois Irmãos, procurou por indicações e, lá no Ginásio, apresentaram o meu nome”, recorda.
Morro Reuter
Naquela época, Morro Reuter e Santa Maria do Herval ainda eram distritos que pertenciam à Dois Irmãos. Dessa forma, Liria foi dar aula na Linha Görgen, em Morro Reuter. “No começo meu pai não queria que eu fosse professora, tampouco ir tão longe para dar aula. Mas seu Plínio insistiu e, por fim, ele aceitou. E aí começou minha carreira como professora, na escola Dom Bosco, na Linha Görgen, em uma turma multisseriada – do primeiro ao quinto ano -, em uma antiga Brizoleta”, relembra Liria, enfatizando que começou sem nenhuma experiência, em um lugar onde não conhecia ninguém, dando aula para aproximadamente 25 alunos.
Percurso
Liria recorda que morava com os pais, na Avenida São Miguel em Dois Irmãos e, diariamente, ia a pé até a rodoviária, todos os dias, para ir até Morro Reuter e dar aula. “Eu pegava o Citral, que ia de Porto Alegre a Canela, sempre ao meio dia”, recorda, lembrando que ia até a rodoviária que existia em Morro Reuter. “Tinha uma rodoviária próximo ao local onde hoje fica o trevo de entrada do município”, recorda, afirmando que, asvezes, o motorista do ônibus a deixava bem em frente à entrada para a Linha Görgen e, de lá, andava a pé por mais três quilômetros até chegar na escola.
“Era estrada de chão e, quando chovia, era só barro. Eu tirava os sapatos, usava botas, e caminhava até a escola. De vez em quando eu ganhava carona de caminhões da prefeitura que iam até a pedreira”, relembra, dizendo ainda que às vezes, quando chovia, um senhor chamado Alfredo Hoffmeister sentia pena, e a levava com seu Jipe até a escola.
“Quando chovia as crianças vinham sem nada nos pés, com o chinelinho na mão pelo barro, lavavam os pezinhos na escola, secavam e botavam o calçado para entrar na sala. A professora era professora, faxineira, era tudo. Era uma mãezona para as crianças. Foi um período excelente, de aprendizado que jamais na minha vida vou esquecer. Se eu não tivesse passado por isso, jamais teria como avaliar o que temos hoje”
Um município que preza pela qualidade da educação
Apesar de não ter tido experiência para dar aula naquela época, Liria recorda que o município sempre prezou muito, desde o início, pela formação dos professores. “Apesar de eu, da mesma forma como outros professores, não terem experiência para começar a lecionar, nós tínhamos uma coisa muito boa, que era o nível de educação do município. Então o município dava cursos, semanas de formação com pedagoga, com psicóloga e outros profissionais, que nos preparavam para lidar com as crianças”, recorda.
“Nós saíamos de um Ginásio, e isso não forma ninguém para dar aula, então éramos leigos, mas isso em nenhum momento foi um empecilho, pois o município sempre esteve preocupado em formar bons profissionais”.
Uma vida dedicada à educação
Liria deu aula por aproximadamente dois anos na Escola Dom Bosco. Depois que saiu de lá, começou a dar aula na Escola Luterana de Dois Irmãos. “O pastor Darci Klaudat me conhecia, pois além de sermos praticamente vizinhos, ele foi meu professor no Ginásio. Então ele pediu para o prefeito Walter Fleck se poderia ceder uma professora. O prefeito prontamente disse que poderia escolher quem queria do quadro de professores, e me escolheu”, comentou.
Magistério
Nesse período Líria se casou, aos 21 anos. E no ano de 1969, conta que começou a fazer magistério. “Eu tinha que fazer durante o período de férias, durante o restante do ano precisava trabalhar e não tinha como fazer curso, já que eles duravam o dia inteiro, e não tinha ônibus a toda hora como é hoje”, relembra, afirmando que fez o Magistério de Férias na escola São José, em São Leopoldo, se formando em 1972.
Bairro São Miguel
Na Escola Luterana, Liria novamente estava dando aula para uma turma multisseriada, onde tinha aproximadamente 20 alunos. “Passado um ano, para o bem das crianças, a própria comunidade aceitou que a escolinha fosse fechada, e as crianças foram transferidas para o Grupo Escolar de Dois Irmãos, que onde hoje está localizada a Biblioteca Pública e os Bombeiros”, comenta, recordando dos jalecos brancos que os alunos usavam na época do Grupo Escolar.
Quando fechou a Escola Luterana, Liria recorda que faltou professora na Brizoleta que atendia as crianças do bairro São Miguel, que ficava na entrada do bairro, bem em frente à BR-116. “Aquela escola era para que as crianças do entorno não precisassem se deslocar até o centro e, lá, mais uma vez, trabalhei com uma turma multisseriada”, relembra, afirmando que era um local pequeno, com paredes amarelas e janelas azuis, com apenas uma sala de aula, sem banheiro. Água tinham que trazer de casa. Mas tinha energia elétrica.
Colégio das Irmãs
Liria deu aula naquela Brizoleta por dois anos e, depois, em 1972, foi cedida pelo município para lecionar no Colégio das Irmãs e, a partir de então, não deu mais aula para turmas multisseriadas. “Eu fui dar aula no local onde tinha realizado meu estágio, na quarta série primária, durante o Magistério”, recorda. “Logo após, como já havia feito concurso, fui chamada para dar aula no Grupo Escolar”, comentou. Liria ressalta que nesse meio tempo foi construído o Ginásio, onde hoje fica a Escola 10 de Setembro.
10 de Setembro
Na época só tinha aulas no período noturno no Ginásio Estadual, onde hoje está localizada a Escola 10 de Setembro. Liria comenta que, após muitas conversas entre as direções das escolas e a Delegacia de Ensino, os alunos do Grupo Escolar foram gradualmente transferidos para o Ginásio, com aulas durante o dia. “Lá eu dava aula para a quarta série”, recorda, afirmando que ficou na Escola 10 de Setembro até se aposentar, em 1991.
Grupos de dança
Além de dar aula, Liria se dedicou intensamente aos grupos de danças alemãs. “Tudo começou nas comemorações de 150 anos de imigração alemã no município, em 1979, com a primeira apresentação sendo feita em um Festival na escola 10 de Setembro. A partir de então, tivemos ajuda de muitas pessoas”, recorda, afirmando que participaram de muitos eventos, valorizando a cultura alemã.
Tema de casa para o leitor
Para finalizar, tia Liria deixou um tema de casa para todos, com uma importante reflexão. “Gostaria que as pessoas refletissem. Fizessem uma comparação de como era antigamente, com todas as dificuldades que se tinha, e como é hoje, e mesmo assim muitos ainda não estão satisfeitos”, conclui.
CONFIRA ESSA E OUTRAS MATÉRIAS NO CADERNO DE 60 ANOS DE DOIS IRMÃOS QUE CIRCULOU NO DIA 10 DE SETEMBRO